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sábado, 29 de julho de 2017

RESENHA HQ: Escolhas (2017)

ESCOLHAS (2017).

Roteiro: Felipe Cagno
Arte: Gustavo Borges
Cores: Cris Peter

“[...] se você desistiu tão facilmente apenas porque uma pessoa, não importa quem fosse, lhe disse que era impossível, você nunca quis ser (...) de verdade”. _Felipe Gagno
João Humberto, quando criança, adorava assistir o desenho animado do personagem Lobo Cinzento. Esse personagem o fez acreditar que era capaz dele, um dia, tornar-se um super-herói.
Ele então dedicou-se de corpo e alma para esse objetivo e, constantemente, teve que lutar pela descrença e pelas tentativas de desmotiva-lo, que vinham, até mesmo, das pessoas que ele mais amava. Mas isso nunca o fez desistir, pois sabia que sua esperança, um dia, seria gratificada.
Felipe Cagno e Gustavo Borges, em 2014, assistiram uma palestra do escritor estadunidense Scott Snyder, onde ele disse que tudo que escrevia colocava algo pessoal e que todos roteiristas deveriam fazer o mesmo. Isso inspirou-os e, então, surgiu Escolhas, o mais recente trabalho de ambos.
 Cagno escreveu a história ao lado de Borges, depois fez o roteiro, enquanto seu parceiro ficou por conta da arte. Com tudo feito eles chamaram Cris Peter que trabalhou as cores de uma forma majestosa. E ficou pronto um dos mais fantásticos trabalhos independentes dos quadrinhos brasileiros.
Escolhas mexe com o brio de todo fã de super-heróis, pois o desejo de ser um personagem que ajuda as pessoas com seus poderes e inspira outras, sempre foi o que motivou um fã, principalmente na sua infância. Levar isso para a vida adulta como um objetivo de vida, torna-se algo motivador. Lógico que não de virar um super-herói, mas de não desistir dos seus sonhos, mesmo que tenham barreiras e obstáculos que tentem impossibilitar suas realizações. Felipe Cagno – acho eu – sempre desejou ser um grande roteirista e, hoje, têm trabalhos fantásticos como Lost Kids, 321 – Fast Comics e Os Poucos & Amaldiçoados (que já está em sua segunda campanha no Catarse). Não tenho certeza – também –, mas Gustavo Borges deve ter sonhado em realizar grandes trabalhos, daí então criou Morte Crens, Edgar e Pétalas, entre outros trabalhos. Cris Peter – vamos lá, novamente – deve ter pensado que seus trabalhos gráficos um dia deixariam sua marca no mundo, hoje ela já tem trabalhos de coloração em editoras estadunidenses do porte de Dark Horse Comics, Marvel Comics, além de realizar vários outros trabalhos junto com artistas brasileiros como Gabriel Bá, Fabio Moon, Gustavo Borges, entre outros. Isso, sem contar que podemos acompanha-la em seu site Cris Peter Digital Colors. Todos os roteiristas e artistas brasileiros vêm buscando isso, realizações com seus trabalhos e vêm desenvolvendo produções independentes, em geral, fantásticas. Eles têm uma forma de fazer isso, já que não contam com grandes indústrias de quadrinhos para lançar seus trabalhos, o site de apoio coletivo Catarse, onde Escolhas teve um apoio de 268%.
É maravilhoso vermos um trabalho tão bem feito, tão motivador sendo realizado, publicado e vendido em livrarias e lojas especializadas, tendo uma editora de livros apoiando, o que se torna um fato muito revelador, já que sempre é bem complicado e alguns artistas, as vezes, precisam criar suas próprias editoras para publicar seus trabalhos.

Escolhas é uma realização fantástica. Vou ser repetitivo, mas ela motiva qualquer um a acreditar em si mesmo e fazer o melhor para nunca desistir, acreditando em si, mesmo que os outros duvidem. 

sábado, 15 de julho de 2017

Cultura do Deslocado: Nerd, ser ou não ser?

Recentemente comecei a ler a obra de Douglas Adams, “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e divulguei nas redes sociais. Logo veio o pessoal que há anos leu a obra e se manifestou, dizendo que eu não sou nerd, que finalmente decidi expandir minha cultura nerd para além dos quadrinhos e que ser nerd é um título dados pelos seus iguais.
Bem, eu sempre me senti um deslocado, que, pesquisando, descobri ser alguém fora de seu ambiente habitual, e é assim que eu me sinto, pois gosto de coisas que outros não costumam, principalmente na minha idade. Quadrinhos, seriados, filmes, livros, pôsteres, estatuetas, miniaturas, e por aí vai. Hoje gostar de uma boa parte dessas coisas se tornou pop, o que terminou descaracterizando a palavra deslocado. Com isso, decidi adotar o termo nerd, mas não por me considerar uma pessoa inteligente ou algo assim, mas por as vezes, me sentir excluído de determinados assuntos, pois meus interesses divergiam das outras pessoas.
Nunca gostei de futebol, algo totalmente popular no Brasil e que a maioria dos brasileiros ama acompanhar. Mesmo que torça por um time, nunca fui uma pessoa que conversa ou discute sobre quem está no time ou se ele tem ganhado ou perdido e os motivos dessa derrota. Nunca fui um afoito por esportes, pelo contrário, enquanto os outros jogavam futebol, vôlei, basquete, entendendo as complexas regras dentro desses esportes, eu ficava sentado em um canto, desenhando – ou, pelo menos, tentando – e criando personagens baseados nas histórias em quadrinhos que eu lia.
Nunca fui uma pessoa politizada. Sempre me senti excluído em conversas ou discussões políticas, pois sempre pensei – e ainda penso – que a política é um mal, as vezes necessário, que somente faz você discutir e, às vezes, menosprezar àquele que não tem o mesmo sentimento político que você. Quando estudei História, percebi que meus valores políticos estavam mais relacionados a uma ideia utópica Liberal, que constitui da liberdade sem restrições, em um enxugo do termo. Acredito que todos temos liberdade de nos expressarmos, desenvolver nossas ideias e coloca-las em prática, na medida do possível, pois somos indivíduos pensantes e racionalizamos o que fazemos. Lógico, isso é uma ideia e, como eu disse, utópica.
Nunca me aprofundei em grandes discussões sobre qualquer coisa. Meus poucos amigos sabem que quando tenho algo a expressar, digo a eles e pronto. Tento não ofender ninguém, pois não acredito que as palavras precisam ser ofensivas para fazer com que as pessoas reflitam. Sempre vejo grandes discussões como coisas maçantes e chatas. Cada um tem uma ideia sobre determinada coisa, não adianta tentar convencê-la do contrário.
Esse seria eu, uma pessoa que se expressa pouco, não muito afeiçoado a esportes, apolitizada – já que prefiro uma utopia do que os conceitos políticos da atualidade –, um deslocado social, mas aparentemente não um nerd.
Quando ocorreu, recentemente, o Dia do Orgulho Nerd, surgiu várias postagens nas redes sociais sobre isso e pessoas diziam que “você não pode se considerar um nerd se não leu ‘O Guia do Mochileiro das Galáxias’” (Sim, isso novamente). Quando achei estranho pessoas que colocavam aros/armações de óculos, sem lente, para fazer parte da tribo, usavam camisetas com estampas de super-heróis ou videogames ou seriados, para se sentirem identificados, mesmo que não tivessem ideia do que estavam usando, só queriam se sentir incluídos... INCLUIDOS!!! Mas o problema é que não desejam adquirir mais conhecimento, somente serem aceitos em um “universo” de deslocados. Isso me aborrece um pouco e, talvez, seja nesse ponto que os... nerds se sintam comigo por não ter lido ainda a obra de Douglas Adams.
O que acho mais interessante nisso é que se você for um trekker, fã de Star Wars, fã de séries de ficção científica, fã de Doctor Who, fã de seriados, DCnauta, Marvete, fã de quadrinhos, fã d’As Crônicas de Gelo e Fogo, fã d’O Senhor dos Anéis, fã de Harry Potter, fã de series de livros, jogam Mario Bros., Grand Theft Auto V, Plants vs. Zombies, fãs de games, que participam de Vampiro: A Máscara, Dugeons & Dragons,  e nunca terem lido a série de Adams, não são nerds. Recentemente, conversando com um amigo que otakus eram um novo tipo de nerd, ele surtou e disse que deixaria de ler mangás, pois não aceitava isso (foi mais ou menos isso).
Quando eu falo de nerds, eu tenho uma visão de um estilo de vida. Mas esse estilo de vida se divide em vários subestilos. Temos os fanboys, fandoms, Trekkers, gamers, otakus – sim, eles são um subestilo dos nerds –, geeks (em algumas culturas, é assim que se define o estilo de vida do deslocado), cinemaníacos, entre outros que eu não sei nomear. Só que a origem da palavra – como já havia mencionado mais acima – foi uma forma de definir pessoas que se diferenciavam por serem deslocadas, fora da realidade comum, mais inteligentes, mais dedicados aos estudos. E, ser qualquer dos subestilos acima, não os tornam necessariamente um nerd (ou geek, dependendo da sua realidade).
Tá, o dia 25 de maio, graças ao fãs de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, é considerado, oficialmente, como o “Dia da Toalha”, tornando-o como um dia onde vários fãs da obra de Douglas Adams podem celebrar. Essa data foi definida em 2001. O interessante é que, entre 1998 e 2000, o nova-iorquino Tim McEachern decidiu realizar comemorações em um bar de Albany, celebrando a data de estreia de “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança”, primeiro filme da saga dos Skywalker. O filme estreou em 25 de maio de 1977. Somente, oito anos depois, o espanhol Germán Martínez realizou a primeira celebração no mesmo dia e chamou a atenção de todos, principalmente a mídia, para o Dia do Orgulho Nerd (ou Dia do Orgulho Geek). Coincidentemente, ambos os dias são correlacionados. Mas, pensando em um dia de comemoração para o “Dia da Toalha”, por que não escolherem o dia 05 de janeiro, quando estreou o primeiro episódio da série de TV “O Guia do Mochileiro das Galáxias” na BBC Two? Ou o dia 08 de março, dia da primeira transmissão do trabalho de Douglas Adams na BBC Radio 4? Ou o dia 11 de março, dia do nascimento de Douglas Adams? Ou o dia 12 de outubro, quando Pan Books lançou a primeira edição de “O Guia do Mochileiro das Galáxias” em Londres?
Lógico, quem sou eu para definir alguma coisa ou a realização de uma comemoração. Por exemplo, além de comemorarmos o lançamento da saga dos Skywalker em 25 de maio, também existe o “Star Wars Day”, comemorado em 04 de maio, pois faz um trocadilho com a frase em inglês “Que a Força Esteja Com Você” (May the Force Be With You), ficando “Que o 4 de Maio Esteja com Você” (May the 4th Be With You).
Outro caso é o Dia do Batman, comemorado no dia 17 de setembro. Essa data foi iniciada durante as comemorações de 75 anos do Batman, na ideia de celebrar sua primeira aparição na história “O Caso da Sociedade Química” (The Case of the Chemical Syndicate), publicada na Detective Comics #27. Eu me considero um batmaníaco e DCnauta (algo dentro dos subestilos fanboy e/ou fandom) e sei que a primeira aparição do Batman aconteceu em maio de 1939 (de acordo com pesquisas feitas, a revista Detective Comics #27 chegou às lojas em 18 de abril de 1939[1]), então por que a comemoração do Dia do Batman em setembro? Bem, nem a empresa DC Comics e ninguém mais sabe dizer o motivo, já que o primeiro episódio da série de TV estrelada por Adam West e Burt Ward estreou em 12 de janeiro de 1966[2], o filme “Batman”, estrelado por Michael Keaton e Jack Nicholson estreou nos cinemas estadunidenses em 23 de junho de 1989 (a première ocorreu em 19 de junho de 1989), a primeira cine série, estrelada por Lewis Wilson e Douglas Croft surgiu em 16 de julho de 1943, Bob Kane, o co-criador do Batman, nasceu em 24 de outubro de 1915 – o outro criador, Bill Finger, nasceu em 08 de fevereiro de 1914, dessa forma, por que, cargas d’água, comemorar em 17 de setembro de 2014 os 75 anos do Batman? Nem o aniversário do Bruce Wayne é em setembro, sendo considerado por alguns em 19 de fevereiro[3].
Não estou dizendo que o caso da comemoração do Dia da Toalha coincidir com o Dia do Orgulho Nerd seja o motivo de considerar somente nerds as pessoas que leram a obra completa, mas definir uma pessoa como nerd somente se ela tivesse lido o trabalho de Douglas Adams, que é uma adaptação dele próprio de um programa de rádio que ele criou, mas é o que parece.
Ok, eu não vou me considerar e nem referir a eu mesmo como nerd. Apesar de meu blog tem em seu título a palavra Nerd – isso eu não vou mudar, me desculpem – eu vou referir a mim mesmo como um fandom – talvez! – ou um fanboy – quem sabe! (por mais que eu odeie). Dessa forma, deixo aos verdadeiros nerds, que leram o trabalho de Douglas Adams, seu devido título... ah, e mesmo terminando de ler “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, não vou me considerar um nerd, pois prefiro ser um DCnauta/Batmaníaco. Um abraço desse – constantemente – deslocado.

sábado, 8 de julho de 2017

RESENHA CINEMA: Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, 2017).

HOMEM-ARANHA: DE VOLTA AO LAR (Spider-Man: Homecoming, 2017).

Direção: Jon Watts
Roteiro: Jon Watts, Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Christopher Ford, Chris McKenna, Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Marisa Tomei, Jacob Batalon, Laura Harrier, Zendaya, Tony Revolori, Bokeem Woodbine, Michael Chernus, Robert Downey Jr., Jon Favreau,

A empresa de Adrian Toomes (Michael Keaton) havia sido contratada pela Prefeitura de Nova Iorque para assumir os danos causados pelas batalhas travadas entre os Vingadores e seus inimigos, mas a Agência de Controle de Danos, financiada pelas Indústrias Stark, assume o lugar deles, deixando-os sem serviços e fazendo-os investir em outro mercado, que se demonstrou mais lucrativo.
Enquanto isso, no subúrbio da Grande Maçã, o jovem Peter Parker (Tom Holland), descobre-se sendo convocado por Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem-de-Ferro, e é levado para Berlim por Happy Hogan (Jon Favreau), onde ganha um novo traje e torna-se um novo aliado ao enfrentar o Capitão América. Quando retorna, Stark lhe deixa ficar com o traje e, com isso, o Homem-Aranha ganha um visual bem mais hi-tech. Só que os problemas mal começam e ele já tem de enfrentar novos inimigos e problemas que a cada momento demonstram o quanto grandes poderes trazem grandes responsabilidades.
O final desse resumo descreve o quão fiel os roteiristas e o diretor procuraram ser com a mitologia do Homem-Aranha. “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” hoje, para mim, tornou-se o melhor filme baseado no Amigo da Vizinhança. Tem a ação certa, os momentos de humor são bem feitos, sem parecerem coisas empurradas para você engolir e dar aquela risadinha amarela.
Tom Holland demonstrou, mais uma vez, seu talento como ator. Ele está dinâmico e não exagera e não força uma timidez ou mesmo sua espontaneidade. Seu melhor amigo nesse filme, Ned Leeds – nos quadrinhos, Leeds é o Duende Macabro, um dos piores inimigos do Cabeça-de-Teia –, interpretado pelo ator Jacob Batalon dá a dosagem certa de amigo/parceiro/assistente. E não pensem que ele é a solução de todas as habilidades de Peter no filme, pelo contrário, a cada momento aparece a inteligência natural de Parker, seja dentro ou fora da sala-de-aula. E a participação de Tony Stark/Homem-de-Ferro? Ele somente aparece quando necessário. O personagem interpretado por Robert Downey Jr. serve como o “Grilo Falante” irônico. Ele está ali para mostrar ao Peter que ele não precisa se assemelhar a nenhum outro super-herói, mas ser ele mesmo. Que ele e mais capaz do que imagina.
Do lado do antagonista temos Adrian Toomes, o Abutre, interpretado pelo ator Michael Keaton, que já é bem conhecido do universo de super-heróis no cinema, graças a sua interpretação de Batman/Bruce Wayne nos filmes de Tim Burton. Keaton dá o tom de um vilão determinado, cujo o objetivo não é a destruição de ninguém, mas ganhar dinheiro. Ele é um ladrão, mas um ladrão avançado, que faz uso das mais altas tecnologias para conseguir o que deseja. Seus aliados, principalmente o Consertador e Shocker, interpretados por Michael Chernus e Bokeem Woodbine, respectivamente, têm os mesmos objetivos e aceitam seguir sobre sua liderança, sem questionar suas formas de condutas para conseguir o que deseja, as vezes fazendo-o se tornar ainda pior.
Já as participações de outros personagens se tornam bem coadjuvantes, como a Tia May Parker, interpretada pela belíssima e talentosa Marisa Tomei. Ela serve mais como uma ligação familiar de Peter, as vezes pronta para aconselhar o sobrinho quando ele precisa. As aparições de tia May são bem determinantes e pequenas. Já personagens como Flash Thompson, interpretado pelo ator Tony Revolori, que é um diferente bully nesse filme, Liz, interpretada pela atriz Laura Harrier, interesse romântico de Peter, e Michelle, interpretada pela atriz/cantora Zendaya, que é faz a colega mala de Peter, aparecem para compor o elenco e mostrar o quanto esse novo universo do Homem-Aranha poderá ser expansivo e diferenciado dos outros.

Não vou entrar em comparações desse filme com seu antecessores, pois cada ator deu sua visão do Homem-Aranha, bem como cada diretor e roteirista, também, mas com certeza “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” é um excelente surpresa e supera todas as expectativas, trazendo-nos um Homem-Aranha que comporá o Universo Cinemático Marvel da forma como o personagem merece.