Recentemente
comecei a ler a obra de Douglas Adams, “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e
divulguei nas redes sociais. Logo veio o pessoal que há anos leu a obra e se
manifestou, dizendo que eu não sou nerd, que finalmente decidi expandir minha
cultura nerd para além dos quadrinhos e que ser nerd é um título dados pelos seus iguais.
Bem, eu sempre me
senti um deslocado, que, pesquisando, descobri ser alguém fora de seu ambiente
habitual, e é assim que eu me sinto, pois gosto de coisas que outros não costumam,
principalmente na minha idade. Quadrinhos, seriados, filmes, livros, pôsteres, estatuetas,
miniaturas, e por aí vai. Hoje gostar de uma boa parte dessas coisas se tornou
pop, o que terminou descaracterizando a palavra deslocado. Com isso, decidi
adotar o termo nerd, mas não por me considerar uma pessoa inteligente ou algo
assim, mas por as vezes, me sentir excluído de determinados assuntos, pois meus
interesses divergiam das outras pessoas.
Nunca gostei de
futebol, algo totalmente popular no Brasil e que a maioria dos brasileiros ama
acompanhar. Mesmo que torça por um time, nunca fui uma pessoa que conversa ou
discute sobre quem está no time ou se ele tem ganhado ou perdido e os motivos
dessa derrota. Nunca fui um afoito por esportes, pelo contrário, enquanto os
outros jogavam futebol, vôlei, basquete, entendendo as complexas regras dentro
desses esportes, eu ficava sentado em um canto, desenhando – ou, pelo menos,
tentando – e criando personagens baseados nas histórias em quadrinhos que eu
lia.
Nunca fui uma
pessoa politizada. Sempre me senti excluído em conversas ou discussões
políticas, pois sempre pensei – e ainda penso – que a política é um mal, as
vezes necessário, que somente faz você discutir e, às vezes, menosprezar àquele
que não tem o mesmo sentimento político que você. Quando estudei História,
percebi que meus valores políticos estavam mais relacionados a uma ideia
utópica Liberal, que constitui da liberdade sem restrições, em um enxugo do
termo. Acredito que todos temos liberdade de nos expressarmos, desenvolver
nossas ideias e coloca-las em prática, na medida do possível, pois somos
indivíduos pensantes e racionalizamos o que fazemos. Lógico, isso é uma ideia
e, como eu disse, utópica.
Nunca me aprofundei
em grandes discussões sobre qualquer coisa. Meus poucos amigos sabem que quando
tenho algo a expressar, digo a eles e pronto. Tento não ofender ninguém, pois
não acredito que as palavras precisam ser ofensivas para fazer com que as
pessoas reflitam. Sempre vejo grandes discussões como coisas maçantes e chatas.
Cada um tem uma ideia sobre determinada coisa, não adianta tentar convencê-la
do contrário.
Esse seria eu, uma
pessoa que se expressa pouco, não muito afeiçoado a esportes, apolitizada – já
que prefiro uma utopia do que os conceitos políticos da atualidade –, um
deslocado social, mas aparentemente não um nerd.
Quando ocorreu,
recentemente, o Dia do Orgulho Nerd, surgiu várias postagens nas redes sociais
sobre isso e pessoas diziam que “você não pode se considerar um nerd se não leu
‘O Guia do Mochileiro das Galáxias’” (Sim, isso novamente). Quando achei
estranho pessoas que colocavam aros/armações de óculos, sem lente, para fazer
parte da tribo, usavam camisetas com
estampas de super-heróis ou videogames ou seriados, para se sentirem
identificados, mesmo que não tivessem ideia do que estavam usando, só queriam
se sentir incluídos... INCLUIDOS!!! Mas o problema é que não desejam adquirir
mais conhecimento, somente serem aceitos em um “universo” de deslocados. Isso
me aborrece um pouco e, talvez, seja nesse ponto que os... nerds se sintam
comigo por não ter lido ainda a obra de Douglas Adams.
O que acho mais
interessante nisso é que se você for um
trekker,
fã de Star Wars, fã de séries de ficção científica, fã de Doctor Who, fã de
seriados, DCnauta, Marvete, fã de quadrinhos, fã d’As Crônicas de Gelo e Fogo,
fã d’O Senhor dos Anéis, fã de Harry Potter, fã de series de livros, jogam Mario
Bros., Grand Theft Auto V, Plants vs. Zombies, fãs de games, que participam de
Vampiro: A Máscara, Dugeons & Dragons, e nunca terem lido a série de Adams, não são
nerds. Recentemente, conversando com um amigo que otakus eram um novo tipo de
nerd, ele surtou e disse que deixaria de ler mangás, pois não aceitava isso
(foi mais ou menos isso).
Quando eu falo de
nerds, eu tenho uma visão de um estilo de vida. Mas esse estilo de vida se
divide em vários subestilos. Temos os fanboys, fandoms, Trekkers, gamers,
otakus – sim, eles são um subestilo dos nerds –, geeks (em algumas culturas, é
assim que se define o estilo de vida do deslocado), cinemaníacos, entre outros
que eu não sei nomear. Só que a origem da palavra – como já havia mencionado
mais acima – foi uma forma de definir pessoas que se diferenciavam por serem
deslocadas, fora da realidade comum, mais inteligentes, mais dedicados aos
estudos. E, ser qualquer dos subestilos acima, não os tornam necessariamente um
nerd (ou geek, dependendo da sua realidade).
Tá, o dia 25 de maio,
graças ao fãs de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, é considerado,
oficialmente, como o “Dia da Toalha”, tornando-o como um dia onde vários fãs da
obra de Douglas Adams podem celebrar. Essa data foi definida em 2001. O
interessante é que, entre 1998 e 2000, o nova-iorquino Tim McEachern decidiu
realizar comemorações em um bar de Albany, celebrando a data de estreia de “Star
Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança”, primeiro filme da saga dos Skywalker.
O filme estreou em 25 de maio de 1977. Somente, oito anos depois, o espanhol
Germán Martínez realizou a primeira celebração no mesmo dia e chamou a atenção
de todos, principalmente a mídia, para o Dia do Orgulho Nerd (ou Dia do Orgulho
Geek). Coincidentemente, ambos os dias são correlacionados. Mas, pensando em um
dia de comemoração para o “Dia da Toalha”, por que não escolherem o dia 05 de
janeiro, quando estreou o primeiro episódio da série de TV “O Guia do
Mochileiro das Galáxias” na BBC Two? Ou o dia 08 de março, dia da primeira
transmissão do trabalho de Douglas Adams na BBC Radio 4? Ou o dia 11 de março,
dia do nascimento de Douglas Adams? Ou o dia 12 de outubro, quando Pan Books
lançou a primeira edição de “O Guia do Mochileiro das Galáxias” em Londres?
Lógico, quem sou eu
para definir alguma coisa ou a realização de uma comemoração. Por exemplo, além
de comemorarmos o lançamento da saga dos Skywalker em 25 de maio, também existe
o “Star Wars Day”, comemorado em 04 de maio, pois faz um trocadilho com a frase
em inglês “Que a Força Esteja Com Você” (May the Force Be With You), ficando “Que
o 4 de Maio Esteja com Você” (May the 4th Be With You).
Outro caso é o Dia
do Batman, comemorado no dia 17 de setembro. Essa data foi iniciada durante as
comemorações de 75 anos do Batman, na ideia de celebrar sua primeira aparição
na história “O Caso da Sociedade Química” (The Case of the Chemical Syndicate),
publicada na Detective Comics #27. Eu me considero um batmaníaco e DCnauta
(algo dentro dos subestilos fanboy e/ou fandom) e sei que a primeira aparição
do Batman aconteceu em maio de 1939 (de acordo com pesquisas feitas, a revista
Detective Comics #27 chegou às lojas em 18 de abril de 1939
), então
por que a comemoração do Dia do Batman em setembro? Bem, nem a empresa DC
Comics e ninguém mais sabe dizer o motivo, já que o primeiro episódio da série
de TV estrelada por Adam West e Burt Ward estreou em 12 de janeiro de 1966
, o
filme “Batman”, estrelado por Michael Keaton e Jack Nicholson estreou nos
cinemas estadunidenses em 23 de junho de 1989 (a première ocorreu em 19 de junho
de 1989), a primeira cine série, estrelada por Lewis Wilson e Douglas Croft
surgiu em 16 de julho de 1943, Bob Kane, o co-criador do Batman, nasceu em 24
de outubro de 1915 – o outro criador, Bill Finger, nasceu em 08 de fevereiro de
1914, dessa forma, por que, cargas d’água, comemorar em 17 de setembro de 2014
os 75 anos do Batman? Nem o aniversário do Bruce Wayne é em setembro, sendo
considerado por alguns em 19 de fevereiro
.
Não estou dizendo
que o caso da comemoração do Dia da Toalha coincidir com o Dia do Orgulho Nerd
seja o motivo de considerar somente nerds as pessoas que leram a obra completa,
mas definir uma pessoa como nerd somente se ela tivesse lido o trabalho de
Douglas Adams, que é uma adaptação dele próprio de um programa de rádio que ele
criou, mas é o que parece.
Ok, eu não vou me
considerar e nem referir a eu mesmo como nerd. Apesar de meu blog tem em seu
título a palavra Nerd – isso eu não vou mudar, me desculpem – eu vou referir a
mim mesmo como um fandom – talvez! – ou um fanboy – quem sabe! (por mais que eu
odeie). Dessa forma, deixo aos verdadeiros nerds, que leram o trabalho de
Douglas Adams, seu devido título... ah, e mesmo terminando de ler “O Guia do
Mochileiro das Galáxias”, não vou me considerar um nerd, pois prefiro ser um
DCnauta/Batmaníaco. Um abraço desse – constantemente – deslocado.