SHAFT (2019)
Direção: Tim Story
Roteiro: Kenya Barris, Alex Barnow
Elenco: Samuel L. Jackson, Jessie T. Usher, Richard Roundtree,
Regina Hall, Alexandra Shipp, Method Man, Titus Welliver, Isaach De Bankolé, Avan
Jogia, Luna Lauren Velez
Em 1989, John Shaft (Samuel L. Jackson) sofre um atentado a
sua vida, causado por Pierro “Gordito” Carrera (Isaach De Bankolé). E seu carro
estavam sua parceira, Maya Barbanikos (Regina Hall) e seu filho, ainda pequeno.
JJ Shaft (Jessie T. Usher) cresceu com a ausência do pai –
que não esquecia seu aniversário, mas sempre mandava presentes... inadequados –
e se tornou um programador do FBI. Além de sua mãe, JJ também podia contar com
seus melhores amigos, Karim (Avan Jogia) – que o ajudou na infância – e Sasha
(Alexandra Shipp) – por quem ele tem uma queda. Quando Karim aparece morto
devido a uma overdose, ele e Sasha desconfiam, mas devido a inexperiência com
casos de drogas e gangues do Harlem, em Nova York, JJ recorre ao seu pai para ajuda-lo,
iniciando uma parceria inesperada. E, quando as coisas apertam, os dois
recorrem ao Shaft original (Richard Roundtree) para encarar essa ameaça.
Em 2000, a Paramount Pictures lançou um remake de Shaft,
estrelado por Samuel L. Jakcson. O filme teve uma bilheteria razoável (US$
70.334.258, com classificação de 33ª melhor bilheteria, de acordo com o Box
Office Mojo) e críticas elevadas (67% de acordo com o Rotten Tomatoes), mas o
problemas foram as críticas contra – nunca vou entender isso, sinceramente e,
por isso que digo que não crítico, pois eles são chato demais. O filme não era
um reboot, pois trazia uma continuidade, com o atual Shaft – tipo –
substituindo o antigo, que já estava velho. Era divertido, eletrizante e uma
fantástica homenagem à Era Blaxploitation.
Blaxploitation era um termo usado na década de 1970 para
filmes que surgiam tendo afro-americanos como os heróis das histórias. O
movimento surgiu com o filme “Sweet Sweetback’s Badasssss Song”, de Melvin Van
Peebles, que estreou em Nova York em 23 de abril de 1971. Com isso, vários
outros surgem na sequência, entre eles o filme “Shaft”, de 02 de julho de 1971.
No filme, John Shaft – interpretado por Richard Roundtree – é
um detetive particular negro que tem de encontrar a filha sequestrada de um
chefão do submundo. O filme tinha uma ação extrema e dava destaque a um homem
negro como principal protagonista. Foi um grande sucesso.
Roundtree viria a viver Shaft em mais dois filmes – “O
Grande Golpe de Shaft” (1972) e “Shaft na África” (1973) – até ganhar sua
própria série televisiva, que estreou na CBS e teve somente sete episódios.
Shaft nunca foi um cara comum. Não era muito fã da lei, tratava
as mulheres com um machismo inerente da época, mas sem levantar um dedo contra
elas. Tratava marginal de forma violenta e, às vezes, extrema. Quando foi para
a televisão, muito do charme dos filmes desapareceu, pois certas ações não eram
bem-vindas na TV e, talvez por isso a curta duração.
Quando o filme de 2000 foi lançado, a época era diferente,
mas trazia um clima próximo dos filmes da década de 1970, tanto que o próprio
Roundtree fez uma participação. Lógico, poucos compreendiam – e compreendem – o
movimento Blaxploitation e sua representatividade. Ele fez algo pelos atores e
atrizes afro-americanos que não se fazia muito na época, lhes deu destaque.
Em 2003, o produtor Mario Van Peebles decide mostrar a todos
mais sobre o movimento no filme “O Retorno de Sweetback”.
Quase um filme-documentário, “O Retorno de Sweetback” mostra
toda a luta e dificuldades que o pai de Mario Van Peebles teve para lançar seu
filme e, quando descobriram sobre o que era, o grande sucesso que alcançou. Van
Peebles escreveu o roteiro, produziu, dirigiu e estrelou o filme, de forma bem
semelhante ao que seu pai fizera na época. Dessa forma, as pessoas começavam a
ter uma ideia desse movimento... mas já era tarde demais para um continuação de
Shaft, pois não interessava mais. Então a Warner Bros. Pictures e a Netflix se
juntaram e decidiram fazer mais uma continuação. Com o mesmo título de seus
antecessores, eles lançam o novo “Shaft” na plataforma de streaming da Netflix.
O novo “Shaft” tem direção de Tim Story e toma um rumo um
pouco diferente, dando um tom mais humorístico ao filme e com uma violência
mais moderada. E, na minha humilde opinião, não perde o charme. Temos ali um
pouco do Shaft de Roundtree, bastante do Shaft de Samuel L. Jackson e um Shaft “Nutella”
do ator Jessie T. Usher.
Por que “Nutella”? Ele não é o valentão, o “cara que pega
todas”, aquele que “atira antes e pergunta depois” dos seus antecessores. JJ
Shaft não gosta de armas, é geek, tem dificuldades para se expressar com
mulheres, não aguenta uma balada e prefere perguntar ao invés de erguer a arma.
Ele é totalmente contrário a seus antecessores... por isso “Nutella”.
Mas, o que poderia ser considerado como defeitos, terminam
se tornando qualidades e, com o desenvolver do filme, ele vai evoluindo, mas
sem se tornar igual aos seus antecessores, nos dando um tipo diferente de
Shaft.
Já vi críticas totalmente negativas ao novo filme –
aprendam, não se deixem influenciar por críticas, criem suas próprias – e o
filme não foi tão bem nos Estados Unidos – a crítica pegou pesado –, mas isso
não muda o fato do filme ser bem interessante. Roundtree, em entrevista para o
Collider disse que só precisou de um telefonema para entrar nesse projeto, pois
falaram que Samuel L. Jackson estaria. Isso já fala por si mesmo.
Se você não gosta da forma como Shaft age, eu posso
respeitar sua posição e opinião, mas que ele representa uma época, um movimento
de inclusão ao qual negros poderiam ser os protagonistas, sem serem retratados como
escravos, presos ou mesmo empregados, isso é um fato.
“Shaft” está em cartaz na Netflix e se você gosta de ação light
com Samuel L. Jackson estrelando, fique a vontade para assistir.