Nos dias de hoje internet serve para tudo. Se você quer
acalmar, assiste a um vídeo divertido, onde você possa rir. Se quiser entrar em
contato com um amigo distante, pode entrar em um Instant Messenger ou em uma plataforma de conversa virtual, podendo
até mesmo vê-lo e à família dele, em vídeo. Mas também serve para gerar
polêmicas, fazer denúncias e até demitir pessoas.
Bem, por que estou entrando nesse assunto em um blog sobre
cultura nerd? De uns tempos para cá, o Twitter, Instagram e Facebook, serviram
como forma de se descobrir mais coisas sobre determinados artistas, sejam
diretores, produtores e atores de filmes e/ou seriados, ou mesmo argumentistas,
roteiristas, desenhistas e arte-finalistas de quadrinhos. Vira e mexe surge
alguma polêmica que podemos ou não discutir, que podemos ou não concordar, mas
que viralizaram facilmente.
Como um exemplo, em outubro de 2017 o produtor de filmes
Harvey Weinstein (Amityville: O Despertar), proprietário junto com seu irmão,
Bob Weinstein, da Weinstein Company, foi denunciado como sexista e estuprador
por várias atrizes de Hollywood. As denúncias iam de assédio a estupro e,
simplesmente, levaram a demissão do produtor da própria empresa. Uma das denúncias
aconteceu no Instagram, na página da atriz Cara Delevigne (Esquadrão Suicida).
Na postagem da atriz, ela fala como Weinstein a havia
abordado após uma reunião, como foi coagida a ir ao quarto do diretor e outras
coisas mais. Mas as denúncias não pararam, pois no mesmo mês, o site BuzzFeed
News surgiu com a polêmica em torno do ator Kevin Spacey.
Kevin Spacey é extensamente conhecido por todos seus
trabalhos no cinema e pelo seu excelente trabalho na série “House of Cards”,
onde vive o presidente Francis Underwood. Ele chegou a ganhar dois prêmios da
Academia – o Oscar – pelos seus trabalhos em “Os Suspeitos” (Melhor Ator
Coadjuvante) e “Beleza Americana” (Melhor Ator) e o Golden Globe de Melhor Ator
de série Televisiva por seu trabalho em “House of Cards”. A denúncia ao BuzzFeed
News veio por parte do ator Anthony Rapp (Star Trek: Discovery).
De acordo com
Rapp, Spacey o havia assediado e – quase – estuprado quando ele tinha 14 anos.
Com isso, Spacey foi investigado e vários podres surgiram, levando-o a ser
demitido da série que ele protagonizava. Ambas as denúncias geraram muitas
polêmicas e surgiram mais escândalos de assédio, como foi o caso do produtor/diretor Brett
Ratner (Hércules).
Brett Ratner, diretor e produtor de vários filmes de sucesso
– e outros nem tanto –, proprietário da Ratpac Entertainment, foi acusado de
assediar sexualmente várias atrizes, como Ellen Page (X-Men 2). Mesmo negando
que tenha ocorrido, isso levou a atriz Gal Gadot (Liga da Justiça) e a diretora
Patty Jenkins (Monster) ameaçarem se desligar da continuação do sucesso “Mulher-Maravilha”,
caso o produtor e sua empresa continuassem ligadas ao filme. Devido ao sucesso do primeiro filme, a Warner Bros. Pictures rescindiu o contrato com Brett
Ratner e sua empresa. Mas não é somente na indústria dos cinemas que as denúncias surgiram em 2017, pois a nona arte também teve seus casos como do editor da DC Comics,
Eddie Berganza (Lanterna Verde: Cavaleiros Esmeraldas).
Eddie Berganza começou em 1998 na editora de quadrinhos DC
Comics, escrevendo e editando histórias para as revistas Supergirl, Teen Titans
e Wednesday Comics, além do grande sucesso da editora, a minissérie “Lanterna Verde: A Noite
Mais Densa”. Em 2010, o – então – editor-chefe da empresa, Bob Harras, tornou
Berganza editor executivo. Quando chega em 2012, Berganza terminou voltando ao
cargo de editor, pois havia denúncias de “indiscrições” contra ele, mas essas
vieram a público em novembro de 2017, quando o site BuzzFeed News publicou que o
editor havia assediado duas funcionárias da DC Comics.
A primeira ocorreu em 2006, quando Berganza encurralou Liz
Gehrlein Marsham, beijando à força. Mesmo que esta o tivesse denunciado à editora, como
mais nada havia ocorrido, ele recebeu a promoção. Então, no mesmo ano que se
tornou Editor Executivo, outras denúncias surgiram como no caso da ex-editora
da DC Comics, Janelle Asselin (Novos 52: Batman). Ela dizia que se preocupava
com novas estagiárias, pois Berganza assediava a todas. Depois delas duas e
mais três funcionárias denuncia-lo ao RH da empresa em 2010, demorou sete anos
para que a DC Comics tomasse as providências e demitissem Berganza. E isso
somente ocorreu, pois Marsham e Asselin foram entrevistadas pelo site BuzzFeed
News.
Quando entramos em 2018, as denúncias dentro da indústria
cinematográfica continuaram e, desta vez, foram dirigidas ao ator Morgan Freeman
(Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge).
Em maio de 2018, uma jovem assistente revelou que o ator
Morgan Freeman havia a assediado durante as filmagens de “Despedida em Grande
Estilo”, onde ele vive um aposentado que decide fazer um grande assalto a banco
ao lado de dois amigos, vividos pelos atores Michael Caine (Truque de Mestre: O
2º Ato) e Alan Arkin (Argo).
De acordo com a entrevista dada ao CNN News, o ator tentou
levantar a saia da jovem e somente parou porque o ator Alan Arkin chamou sua
atenção. Com isso, outra denúncia surgiu sobre Freeman durante as filmagens de
“Truque de Mestre”, onde ele assediou sexualmente uma mulher que era membro
sênior da equipe de produção. Também foi denunciado por ter assediado a assistente dessa mulher.
Dias depois da denúncia de comportamento inapropriado e
assédio, o advogado de Morgan Freeman alegou que a CNN teve “... intenção
maliciosa, falsidades, truques, falta de controle editorial e má conduta
jornalística”, pois a pessoa que iniciara a denúncia, a jornalista Chloe Melas,
havia atraído e estimulado as testemunhas a falar contra Morgan Freeman. As
consequências das denúncias contra Freeman foram as rescisões de vários
contratos que ele já tinha firmado.
Mas nem sempre a internet vem com denúncias de terceiros
para que uma pessoa ligada à indústria do entretenimento tenha problemas, às
vezes vem do próprio causador, como ocorreu com o diretor James Gunn (Guardiões
das Galáxias Vol. 2).
James Gunn ficou conhecido depois de dirigir e roteirizar o
filme Super, uma sátira aos filmes de super-heróis que surgiam. Em 2012, Gunn
foi convidado pela Marvel Studios para realizar um filme para eles e surgiu “Os
Guardiões da Galáxia”. O filme se baseia em um grupo pouco conhecido da Marvel
Comics, mas quando este estreou em 2014, foi um sucesso imediato. O sucesso em crítica
e público foi tão grande que logo foi anunciada sua continuação.
James Gunn possui redes sociais (Twitter e Instagram), onde
ele expõe imagens do desenvolvimento dos filmes e coisas bem pessoais. Algumas
muito pessoais mesmo, que chegam a ser bem ofensivas.
Entre os anos de 2009 e 2011, James Gunn se expressou de
forma bem ofensiva no seu Twitter. Eram textos com teor de pedofilia, e com um
pouco de sadismo. Ele falava sobre garotos lhe tocarem em partes íntimas, sobre
ficar excitado na presença de jovens, sobre sexo oral em garotos, entre outras
coisas que são extremamente execráveis.
Em 2018, os “tweets” do diretor chegaram à cúpula maior da
Disney, detentora dos direitos sobre a Marvel Studios e os personagens que
compõem o Universo Cinematográfico Marvel.
Consciente disso, a Disney demitiu o diretor que chegou a se
retratar no seu Twitter dizendo que tudo escrito era porque buscava provocar,
usando coisas ultrajantes e tentando quebrar o tabu da sociedade. Eram coisas esperando
uma reação, movidas por uma raiva pessoal. Disse ainda ter se desculpado
publicamente e agora se vê movido por amor ao seu trabalho e pelas pessoas a
sua volta.
Numa opinião bem pessoal, existem formas de provocar e gerar
polêmica, principalmente na internet, um mundo aberto para todos que estão
nela, sem precisar mencionar pedofilia e qualquer coisa que seja ofensivo às
pessoas que lhe acompanham e seguem. E mesmo que seja parte do seu passado
tortuoso, quando nos expressamos existem pequenas verdades no que escrevemos,
pequenos desejos no que expressamos através das palavras. Ele é um roteirista e
diretor, deve saber que tudo que se escreve possui parte de quem nós somos e do
que desejamos, mesmo que seja expresso através de ficção. Mas isso é algo que
escrevo de minha livre vontade, refletindo sobre o que li das postagens dele.
Lógico que a demissão de James Gunn, por parte da Disney, gerou uma turbulência imensa entre os fãs dos filmes. Alguns geraram o
hashtag #JamesGunnDidNothingWrong,
dizendo que tudo não passou de piadas. Ainda usam o que ocorreu com Robert
Downey Jr. (Tony Stark/Homem de Ferro) para que recontratem James Gunn. Até
mesmo temos duas petições na internet, uma que pede
a recontratação dodiretor/roteirista, enquanto outra
requerendo a Disney que não o recontratem.
Mais recentemente, o elenco de “Guardiões da Galáxia”
revelou uma carta no Twitter e no Instagram, pedindo a recontratação de James
Gunn.
Assinada por Chris Pratt (Senhor das Estrelas), Zoe Saldana
(Gamora), Dave Bautista (Drax), Vin Diesel (Groot), Bradley Cooper (Rocket),
Karen Gillan (Nebula), Michael Rooker (Yondu), Pom Klementieff (Mantis) e Sean
Gunn (Kraglin) - irmão de James Gunn -, a carta vem agradecendo aos fãs que vêm pedindo a reintegração
de Gunn e apoiam esse pedido, dizendo que tudo que ele escreveu, no pedido de
desculpas, é verdadeiro. Revelam o quanto os anos de trabalho com o diretor
foram gratificantes e que creem, de coração, na redenção de Gunn.
Revelam que não estão defendendo as piadas feitas por James
Gunn “muitos anos atrás”, mas sim que têm a intenção de “compartilhar (a)
experiência tendo passado muitos anos juntos no set fazendo Guardiões da
Galáxia 1 e 2”.
Chegam a mencionar sobre as características políticas que o
povo estadunidense vem vivendo e que o ocorrido com Gunn vem mostrar os
cuidados que todos precisamos ter com o que escrevemos nas nossas redes
sociais.
Chega a ser louvável a defesa do elenco com o diretor James
Gunn, mas a internet é uma via de mão dupla. Como disse acima, existem outras
formas de expressar sua revolta com a humanidade sem a necessidade de ser
voltado a assuntos tão conturbados quanto os mencionados em suas postagens.
Você pode chocar com coisas fúteis, mas deve sempre se lembrar que na internet
as coisas podem se tornar eternas. A partir do momento que as postagens de
James Gunn vieram à tona, se tornaram arquivos compartilhados no
archive.is,
onde as pessoas ainda expressam suas opiniões sobre o conteúdo. Atores e
atrizes do Universo Cinematográfico Marvel, devido a repercussão do caso
deixaram de seguir as postagens de James Gunn, tanto no Instagram quanto no
Twitter.
Para alguns pode não significar nada, mas é o mesmo que se
tornar um pária.
Não estou dizendo que isso ocorrerá com Gunn, mas já foi
revelado que a Disney não pretende voltar atrás na decisão, pois adotou zero
tolerância para atitudes extravagantes e de conteúdo pejorativo de pessoas
ligadas aos filmes de qualquer um dos estúdios relacionados ao grupo.
Pode ser que voltem atrás? Talvez, pois não conhecemos o dia
de amanhã e os filmes com direção de James Gunn faturaram milhões para os
cofres da Disney (“Guardiões da Galáxia” faturou US$ 773.328.629 e “Guardiões
da Galáxia Vol. 2” faturou US$ 863.756.051, totalizando US$ 1.637.084.680,
mundialmente), mas enquanto isso o diretor entra para a lista daqueles que
simplesmente perderam algo por causa das suas atitudes que chegaram ao público
pela internet.
A internet é uma fonte de informações que pode ser favorável
ou simplesmente te colocar com risco de difamação, prejudicando sua carreira,
principalmente quando você é uma figura pública e termina agindo como um famoso
sem senso, abusando de sua posição. Seja por acusações de assédio, comportamento
abusivo ou mesmo por se expressar com conotações de pedofilia abusiva, você
sempre estará sujeito ao julgamento popular. As pessoas não conseguem tolerar
mais isso, estão cansadas de pessoas famosas saírem impunes de suas atitudes
contra os outros. Então repense quem deseja ser, pois a fama não é mais
segurança de nada, principalmente tendo a internet disponível.