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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A internet e as polêmicas


Nos dias de hoje internet serve para tudo. Se você quer acalmar, assiste a um vídeo divertido, onde você possa rir. Se quiser entrar em contato com um amigo distante, pode entrar em um Instant Messenger ou em uma plataforma de conversa virtual, podendo até mesmo vê-lo e à família dele, em vídeo. Mas também serve para gerar polêmicas, fazer denúncias e até demitir pessoas.
Bem, por que estou entrando nesse assunto em um blog sobre cultura nerd? De uns tempos para cá, o Twitter, Instagram e Facebook, serviram como forma de se descobrir mais coisas sobre determinados artistas, sejam diretores, produtores e atores de filmes e/ou seriados, ou mesmo argumentistas, roteiristas, desenhistas e arte-finalistas de quadrinhos. Vira e mexe surge alguma polêmica que podemos ou não discutir, que podemos ou não concordar, mas que viralizaram facilmente.
Como um exemplo, em outubro de 2017 o produtor de filmes Harvey Weinstein (Amityville: O Despertar), proprietário junto com seu irmão, Bob Weinstein, da Weinstein Company, foi denunciado como sexista e estuprador por várias atrizes de Hollywood. As denúncias iam de assédio a estupro e, simplesmente, levaram a demissão do produtor da própria empresa. Uma das denúncias aconteceu no Instagram, na página da atriz Cara Delevigne (Esquadrão Suicida).
Na postagem da atriz, ela fala como Weinstein a havia abordado após uma reunião, como foi coagida a ir ao quarto do diretor e outras coisas mais. Mas as denúncias não pararam, pois no mesmo mês, o site BuzzFeed News surgiu com a polêmica em torno do ator Kevin Spacey.
Kevin Spacey é extensamente conhecido por todos seus trabalhos no cinema e pelo seu excelente trabalho na série “House of Cards”, onde vive o presidente Francis Underwood. Ele chegou a ganhar dois prêmios da Academia – o Oscar – pelos seus trabalhos em “Os Suspeitos” (Melhor Ator Coadjuvante) e “Beleza Americana” (Melhor Ator) e o Golden Globe de Melhor Ator de série Televisiva por seu trabalho em “House of Cards”. A denúncia ao BuzzFeed News veio por parte do ator Anthony Rapp (Star Trek: Discovery).
De acordo com Rapp, Spacey o havia assediado e – quase – estuprado quando ele tinha 14 anos. Com isso, Spacey foi investigado e vários podres surgiram, levando-o a ser demitido da série que ele protagonizava. Ambas as denúncias geraram muitas polêmicas e surgiram mais escândalos de assédio, como foi o caso do produtor/diretor Brett Ratner (Hércules).
Brett Ratner, diretor e produtor de vários filmes de sucesso – e outros nem tanto –, proprietário da Ratpac Entertainment, foi acusado de assediar sexualmente várias atrizes, como Ellen Page (X-Men 2). Mesmo negando que tenha ocorrido, isso levou a atriz Gal Gadot (Liga da Justiça) e a diretora Patty Jenkins (Monster) ameaçarem se desligar da continuação do sucesso “Mulher-Maravilha”, caso o produtor e sua empresa continuassem ligadas ao filme. Devido ao sucesso do primeiro filme, a Warner Bros. Pictures rescindiu o contrato com Brett Ratner e sua empresa. Mas não é somente na indústria dos cinemas que as denúncias surgiram em 2017, pois a nona arte também teve seus casos como do editor da DC Comics, Eddie Berganza (Lanterna Verde: Cavaleiros Esmeraldas).
Eddie Berganza começou em 1998 na editora de quadrinhos DC Comics, escrevendo e editando histórias para as revistas Supergirl, Teen Titans e Wednesday Comics, além do grande sucesso da editora, a minissérie “Lanterna Verde: A Noite Mais Densa”. Em 2010, o – então – editor-chefe da empresa, Bob Harras, tornou Berganza editor executivo. Quando chega em 2012, Berganza terminou voltando ao cargo de editor, pois havia denúncias de “indiscrições” contra ele, mas essas vieram a público em novembro de 2017, quando o site BuzzFeed News publicou que o editor havia assediado duas funcionárias da DC Comics.
A primeira ocorreu em 2006, quando Berganza encurralou Liz Gehrlein Marsham, beijando à força. Mesmo que esta o tivesse denunciado à editora, como mais nada havia ocorrido, ele recebeu a promoção. Então, no mesmo ano que se tornou Editor Executivo, outras denúncias surgiram como no caso da ex-editora da DC Comics, Janelle Asselin (Novos 52: Batman). Ela dizia que se preocupava com novas estagiárias, pois Berganza assediava a todas. Depois delas duas e mais três funcionárias denuncia-lo ao RH da empresa em 2010, demorou sete anos para que a DC Comics tomasse as providências e demitissem Berganza. E isso somente ocorreu, pois Marsham e Asselin foram entrevistadas pelo site BuzzFeed News.
Quando entramos em 2018, as denúncias dentro da indústria cinematográfica continuaram e, desta vez, foram dirigidas ao ator Morgan Freeman (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge).
Em maio de 2018, uma jovem assistente revelou que o ator Morgan Freeman havia a assediado durante as filmagens de “Despedida em Grande Estilo”, onde ele vive um aposentado que decide fazer um grande assalto a banco ao lado de dois amigos, vividos pelos atores Michael Caine (Truque de Mestre: O 2º Ato) e Alan Arkin (Argo).
De acordo com a entrevista dada ao CNN News, o ator tentou levantar a saia da jovem e somente parou porque o ator Alan Arkin chamou sua atenção. Com isso, outra denúncia surgiu sobre Freeman durante as filmagens de “Truque de Mestre”, onde ele assediou sexualmente uma mulher que era membro sênior da equipe de produção. Também foi denunciado por ter assediado a assistente dessa mulher.
Dias depois da denúncia de comportamento inapropriado e assédio, o advogado de Morgan Freeman alegou que a CNN teve “... intenção maliciosa, falsidades, truques, falta de controle editorial e má conduta jornalística”, pois a pessoa que iniciara a denúncia, a jornalista Chloe Melas, havia atraído e estimulado as testemunhas a falar contra Morgan Freeman. As consequências das denúncias contra Freeman foram as rescisões de vários contratos que ele já tinha firmado.
Mas nem sempre a internet vem com denúncias de terceiros para que uma pessoa ligada à indústria do entretenimento tenha problemas, às vezes vem do próprio causador, como ocorreu com o diretor James Gunn (Guardiões das Galáxias Vol. 2).
James Gunn ficou conhecido depois de dirigir e roteirizar o filme Super, uma sátira aos filmes de super-heróis que surgiam. Em 2012, Gunn foi convidado pela Marvel Studios para realizar um filme para eles e surgiu “Os Guardiões da Galáxia”. O filme se baseia em um grupo pouco conhecido da Marvel Comics, mas quando este estreou em 2014, foi um sucesso imediato. O sucesso em crítica e público foi tão grande que logo foi anunciada sua continuação.
James Gunn possui redes sociais (Twitter e Instagram), onde ele expõe imagens do desenvolvimento dos filmes e coisas bem pessoais. Algumas muito pessoais mesmo, que chegam a ser bem ofensivas.
Entre os anos de 2009 e 2011, James Gunn se expressou de forma bem ofensiva no seu Twitter. Eram textos com teor de pedofilia, e com um pouco de sadismo. Ele falava sobre garotos lhe tocarem em partes íntimas, sobre ficar excitado na presença de jovens, sobre sexo oral em garotos, entre outras coisas que são extremamente execráveis.
Em 2018, os “tweets” do diretor chegaram à cúpula maior da Disney, detentora dos direitos sobre a Marvel Studios e os personagens que compõem o Universo Cinematográfico Marvel.
Consciente disso, a Disney demitiu o diretor que chegou a se retratar no seu Twitter dizendo que tudo escrito era porque buscava provocar, usando coisas ultrajantes e tentando quebrar o tabu da sociedade. Eram coisas esperando uma reação, movidas por uma raiva pessoal. Disse ainda ter se desculpado publicamente e agora se vê movido por amor ao seu trabalho e pelas pessoas a sua volta.
Numa opinião bem pessoal, existem formas de provocar e gerar polêmica, principalmente na internet, um mundo aberto para todos que estão nela, sem precisar mencionar pedofilia e qualquer coisa que seja ofensivo às pessoas que lhe acompanham e seguem. E mesmo que seja parte do seu passado tortuoso, quando nos expressamos existem pequenas verdades no que escrevemos, pequenos desejos no que expressamos através das palavras. Ele é um roteirista e diretor, deve saber que tudo que se escreve possui parte de quem nós somos e do que desejamos, mesmo que seja expresso através de ficção. Mas isso é algo que escrevo de minha livre vontade, refletindo sobre o que li das postagens dele.
Lógico que a demissão de James Gunn, por parte da Disney, gerou uma turbulência imensa entre os fãs dos filmes. Alguns geraram o hashtag #JamesGunnDidNothingWrong, dizendo que tudo não passou de piadas. Ainda usam o que ocorreu com Robert Downey Jr. (Tony Stark/Homem de Ferro) para que recontratem James Gunn. Até mesmo temos duas petições na internet, uma que pede a recontratação dodiretor/roteirista, enquanto outra requerendo a Disney que não o recontratem.
Mais recentemente, o elenco de “Guardiões da Galáxia” revelou uma carta no Twitter e no Instagram, pedindo a recontratação de James Gunn.
Assinada por Chris Pratt (Senhor das Estrelas), Zoe Saldana (Gamora), Dave Bautista (Drax), Vin Diesel (Groot), Bradley Cooper (Rocket), Karen Gillan (Nebula), Michael Rooker (Yondu), Pom Klementieff (Mantis) e Sean Gunn (Kraglin) - irmão de James Gunn -, a carta vem agradecendo aos fãs que vêm pedindo a reintegração de Gunn e apoiam esse pedido, dizendo que tudo que ele escreveu, no pedido de desculpas, é verdadeiro. Revelam o quanto os anos de trabalho com o diretor foram gratificantes e que creem, de coração, na redenção de Gunn.
Revelam que não estão defendendo as piadas feitas por James Gunn “muitos anos atrás”, mas sim que têm a intenção de “compartilhar (a) experiência tendo passado muitos anos juntos no set fazendo Guardiões da Galáxia 1 e 2”.
Chegam a mencionar sobre as características políticas que o povo estadunidense vem vivendo e que o ocorrido com Gunn vem mostrar os cuidados que todos precisamos ter com o que escrevemos nas nossas redes sociais.
Chega a ser louvável a defesa do elenco com o diretor James Gunn, mas a internet é uma via de mão dupla. Como disse acima, existem outras formas de expressar sua revolta com a humanidade sem a necessidade de ser voltado a assuntos tão conturbados quanto os mencionados em suas postagens. Você pode chocar com coisas fúteis, mas deve sempre se lembrar que na internet as coisas podem se tornar eternas. A partir do momento que as postagens de James Gunn vieram à tona, se tornaram arquivos compartilhados no archive.is, onde as pessoas ainda expressam suas opiniões sobre o conteúdo. Atores e atrizes do Universo Cinematográfico Marvel, devido a repercussão do caso deixaram de seguir as postagens de James Gunn, tanto no Instagram quanto no Twitter.
Para alguns pode não significar nada, mas é o mesmo que se tornar um pária.
Não estou dizendo que isso ocorrerá com Gunn, mas já foi revelado que a Disney não pretende voltar atrás na decisão, pois adotou zero tolerância para atitudes extravagantes e de conteúdo pejorativo de pessoas ligadas aos filmes de qualquer um dos estúdios relacionados ao grupo.
Pode ser que voltem atrás? Talvez, pois não conhecemos o dia de amanhã e os filmes com direção de James Gunn faturaram milhões para os cofres da Disney (“Guardiões da Galáxia” faturou US$ 773.328.629 e “Guardiões da Galáxia Vol. 2” faturou US$ 863.756.051, totalizando US$ 1.637.084.680, mundialmente), mas enquanto isso o diretor entra para a lista daqueles que simplesmente perderam algo por causa das suas atitudes que chegaram ao público pela internet.
A internet é uma fonte de informações que pode ser favorável ou simplesmente te colocar com risco de difamação, prejudicando sua carreira, principalmente quando você é uma figura pública e termina agindo como um famoso sem senso, abusando de sua posição. Seja por acusações de assédio, comportamento abusivo ou mesmo por se expressar com conotações de pedofilia abusiva, você sempre estará sujeito ao julgamento popular. As pessoas não conseguem tolerar mais isso, estão cansadas de pessoas famosas saírem impunes de suas atitudes contra os outros. Então repense quem deseja ser, pois a fama não é mais segurança de nada, principalmente tendo a internet disponível.

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