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sábado, 27 de julho de 2019

Tolkien (2019)


“Em uma toca no chão vivia um hobbit!”

Existem determinados filmes que uma resenha soaria como algo superficial e enfadonho, como no caso de “Tolkien”.
John Ronald Reuel Tolkien não era membro de uma família abastada. Sua mãe faleceu quando ele e seu irmão, Hilary Arthur, eram crianças ainda. Graças a ela, Tolkien tornou-se um sonhador, um estudioso de línguas (filólogo) autodidata e um criador sem igual.
Com uma criação católica, Tolkien tinha como guardião o padre Francis Xavier Morgan, grande amigo de sua mãe Mabel Tolkien, que conseguiu para ele uma vaga na King Edward’s School, onde ele viria a conhecer os outros membros da Tea Club and Barrovian Society (TCBS), o poeta Geoffrey Bache Smith, o músico Christopher Luke Wiseman e o desenhista Robert Gilson. No lar onde ele morava com seu irmão, administrado pela Sra. Faulkner, Tolkien viria a conhecer a jovem e talentosa pianista Edith Bratt, que viria a se tornar seu maior e único amor.
“Tolkien” é um filme que busca retratar parte da história do escritor amplamente conhecido pela criação de um dos maiores e mais influenciadores universos literários de todos os tempos.
O filme nos mostra Tolkien na Batalha de Somme, na França, durante a Primeira Guerra Mundial. E, no drama, traz toda a história de Tolkien em lembranças, pois ele busca encontrar um de seus amigos durante a batalha.
Quem conhece a história de Tolkien a fundo, com certeza encontrara divergências no decorrer do filme. Mas vale lembrar que é uma dramatização de uma realidade, então tem-se o costume de romancear determinados fatos.
Eu tomei a iniciativa de não ler – como sempre faço com os filmes que quero assistir – ou tentar saber de qualquer crítica sobre o filme “Tolkien”, pois desde que soube que ele seria feito, fiquei ansioso em conhecer qual parte da história dele seria contada. Lógico, assisti aos trailers e sabia que conheceríamos o período que ele participou da Irmandade que lhe daria pretextos para a criação de sua obra máxima. Sabia que retratariam sua convivência com sua esposa, Edith Bratt, com seus amigos da King Edward’s School, mas não mais do que isso.
Eu não conheço muito sobre J.R.R. Tolkien. O pouco que conheço foi lendo no site Valinor, então o encanto que o filme me trouxe foi maravilhoso. Amizades, amor, perdas, conquistas, criações são coisas que fizeram parte da vida de Tolkien, e isso é visto no filme. Conhecer – mesmo que de forma romanceada – como ele desenvolve a linguística élfica, como ele vai desenvolvendo o – como é conhecido – Universo Tolkieniano é... mágico.
Não foi uma vida regrada de facilidades. Perdeu a mãe muito cedo, não foi amplamente aceito no âmbito escolar devido aos problemas do passado e suas condições financeiras – os outros membros da TCBS tinham mais recursos financeiros do que Tolkien –, os empecilhos de seu amor por Edith Bratt, sua constante busca por aprimoramento e estudos autodidatas – mesmo que em menor proporção –, estão no filme. O mais interessante é que, como em muitas biografias escritas, não se retrata muito da vivência de John Tolkien com Hilary Tolkien.  Sabemos que eles eram irmãos, mas a idade os afastava, aparentemente.
Tolkien teve grande influência dos amigos com quem conviveu. Como eu escrevi, ele não era aceito no âmbito escolar da King Edward’s School. Os outros membros da TCBS, por inveja – creio eu – o trataram de forma avessa, no começo, mas depois de iniciarem uma convivência maior, criaram vínculos, laços que foram levados até as trincheiras.
Apesar dos flashbacks retratarem muito da história do filme, um ponto importante está na Batalha de Somme, onde Tolkien busca encontrar o amigo Geoffrey Bache Smith, Tenente nos Fuzileiros de Lancshire.
Quando ouvi pela primeira vez o nome, ele me parecia conhecido. Então fui buscar sobre Geoffrey Bache Smith e descobri o motivo de conhece-lo. Esse amigo de Tolkien teve o prelúdio escrito por ele:
Os poemas deste livro foram escritos em vários momentos, um deles (‘Vento sobre o Mar’), acredito que já em 1910, mas a ordem em que eles estão aqui não são cronológicos além do fato de que a terceira parte contém apenas poemas escritos após a eclosão da guerra. Destes, alguns foram escritos na Inglaterra (em Oxford em particular), alguns no País de Gales e muitos durante um ano na França, de novembro de 1915 a dezembro de 1916, que foi ocorreu por uma licença em meados de maio.
‘O Enterro de Sófocles’, que é colocado aqui no final, foi iniciado antes da guerra e continuou em tempos estranhos e em várias circunstâncias posteriores; a versão final me foi enviada das trincheiras.
Além desses poucos fatos, nenhum prelúdio e nenhuma necessidade são necessários, a não ser aqueles aqui impressos como seu autor os deixaram.
J.R.R.T.
1918”.
O livro “A Spring Harvest” é citado em várias biografias de Tolkien, devido a esse prelúdio. O que nos traz o tamanho de afinidade que o escritor tinha com seus amigos. Só para citar, seu filho Christopher Tolkien tem o nome em homenagem ao amigo Christopher Luke Wiseman.
Tolkien é uma influência. Linguisticamente, literalmente, ele desenvolveu algo que alcançou patamares que servem como exemplo para um grande número de pessoas. Ele influenciou J.K Rowling na criação do seu Universo Mágico. Ele influenciou o escritor George R.R. Martin em As Crônicas de Gelo e Fogo, foi membro de um grupo informal de discussão literária da Universidade de Oxford conhecida como Inklings, onde serviu de influência religiosa para o escritor C.S. Lewis – que preferiu a Igreja Anglicana, para a decepção de Tolkien –, criador de As Crônicas de Nárnia. Até mesmo o jogo Dugeons & Dragons, desenvolvido por Gary Gygax e Dave Arneson, um dos pioneiros do RPG, tem grande influência de Tolkien.
Quando você conhece o Universo Tolkieniano – eu vim a conhece-lo tardiamente em 2001 – ou você se apaixona de imediato ou você odeia a forma narrativa e detalhada da escrita, mas NINGUÉM pode negar o tamanho de sua influência e existência. Tá, os filmes de Peter Jackson o colocaram em evidência no século XXI, mas Tolkien já era uma influência antes deles e continuará sendo no passar dos anos, pois tudo que ele criou com todo o conhecimento que adquiriu sempre será parte das vidas daqueles que convivem ou conviveram com esse universo maravilhoso.
O filme – sim, eu vim falar do filme – “Tolkien” é somente a representação de um décimo do que foi a criação de Tolkien, que iniciou da frase que postei logo no começo deste texto. Assisti-lo é um enriquecimento de conhecimento dessa mente influenciadora e conquistadora de corações.

"É mais do que uma mera amizade. É uma aliança. Uma aliança invencível... Uma Irmandade".


Para não faltar... Ficha Técnica:
Tolkien (2019)
Direção: Dome Karukoski
Roteiro: David Gleeson, Stephen Beresford
Elenco: Nicholas Hoult (John Ronald Reuel Tolkien), Lilly Collins (Edith Bratt), Colm Meaney (Padre Francis Xavier Morgan), Anthony Boyle (Geoffrey Bache Smith), Patrick Gibson (Robert Quilter Gibson), Tom Glynn-Carney (Christopher Luke Wiseman), Laura Donnelly (Mabel Tolkien), Harry Gilby (J.R.R. Tolkien - jovem), Derek Jacobi (Professor Joseph Wright), James McCallum (Hilary Arthur Reuel Tolkien), Pam Ferris (Sra. Faulkner)


quarta-feira, 24 de julho de 2019

O Rei Leão (The Lion King, 2019)


Não tinha como fazer outra coisa a não ser comentar a remasterização desse clássico da Disney.
“O Rei Leão” chegou aos cinemas na semana passada em uma nova versão e já alcançou a bilheteria mundial de US$ 564.663.379,00 – de acordo com o Box Office Mojo –, bem mais realística... impressionantemente realística!
Não tenho como fazer um resumo, pois é a mesmíssima história, mas posso comentar o quão impressionante é ver todo o filme em uma visão bem mais próxima da realidade.
Sempre fui um fã de Animal Planet, então, por vezes, assisti a vários documentários sobre leões, hienas, elefantes, zebras, e toda a fauna africana, então ver a capacidade que o CGI (símbolo que representa Imagem Gerada por Computador) chegou, me deixou maravilhado no cinema.
O filme vai além de uma mera animação, sendo assim, expressar emoções com as faces dos animais é bem diferente, então ficou o desafio aos dubladores o expressar através de suas vozes.
Já inicio falando do retorno de uma das vozes mais maravilhosas entre os atores estadunidenses, James Earl Jones, que volta como Mufasa – assisti a versão legendada... que somente tem uma sessão no cinema que eu fui! Sério, fica difícil definir poucas palavras sobre a dublagem desse grande ator. Ele já foi Darth Vader, já foi o Almirante James Greer da série de filmes de Jack Ryan... sua majestade James Earl Jones. Ele é o ganhador do EGOT (designação dada para artistas que ganharam os quatro principais prêmios estadunidenses: Emmy, Grammy, Oscar – Prêmio Honorário da Academia – e Tony), um título dado para poucos nos EUA. A partir daí as coisas somente melhoram, pois temos Alfre Woodard, Chiwetel Ejiofor, Donald Glover e Beyoncé, enriquecendo ainda mais a dublagem do filme.
A escolha de um elenco afro-americano pode ter sido proposital, mas eu sempre considerei que os atores negros americanos têm talento a transbordar pelos seus poros. Até mesmo o elenco infantil – que fazem as vozes de Simba e Nala, crianças –, constituído JD McCrary e Shahadi Wright Joseph, demonstra de forma primorosa os sentimentos pela dublagem. Muitos diriam que isso tem a ver com a direção de Jon Favreau – que, novamente, transforma um filme da Disney (Homem-de-Ferro É da Disney, já que a Marvel Studios pertence a ela) algo elogioso e maravilhoso –, mas eu vejo além da direção, pelas palavras que já teci sobre os atores afro-americanos.
Tá, temos atores brancos também no filme, dando o tom de comédia. Começamos com o inglês John Oliver – AMARIA ouvir Rowan Atkinson também reprisando a dublagem – que dá o ar de nobreza inglesa para o Valete Zazu, um Calau bico-vermelho. Com exceção de – atual primeiro-ministro britânico – Boris Johnson, a forma do inglês dos britânicos traz um ar... nobre. Já Pumbaa e Timão, o javali e o suricato mais amados dos desenhos animados, têm a dublagem de Seth Rogen e Billy Eichner, respectivamente, dois conhecidos atores comediantes.
Com esse elenco, Jon Favreau teve o exímio trabalho de que eles viessem expressar sentimentos aos animais realisticamente constituídos (tá, estou sendo repetitivo... mas somente você assistindo para entender).
Como muitos já citaram em 1994, “O Rei Leão” dá sua própria interpretação da tragédia de William Shakespeare, “Hamlet”, então podemos dizer que 25 anos depois, consegue trazer novamente essa reinterpretação. A história original está toda lá – criada por Irene Mecchi, Jonathan Roberts e Linda Woolverton – bem como a trilha sonora original criada por Hans Zimmer, Elton John e Tim Rice, com a introdução das músicas “Spirit” – interpretada por Beyoncé – e “He Lives in You” – interpretada por Lebo M. (que também nos dá “Mbube” de Solomon Linda).
“O Rei Leão” poderia ser caracterizado como um filme infantil, dedicado às crianças, mas mesmo tendo censura – lógico, uma mãe ou um pai podem levar seus filh@s menores de 10 anos – é um filme para ser assistido por aquela pessoa que foi criança a 25 anos atrás, pelo pai deste, pelos filh@s... Por toda a família! A magia está lá e encanta!
Já vi classificações do filme como “live action”, o que não deixa de ser verdade, pois mesmo sendo feito por CGI você acredita naquilo que vê, de tão real que parece. “O Rei Leão” chegou a um nível de perfeição para um leigo como eu de maestria. Não tem como comparar com qualquer outro filme – talvez com os novos filmes da série “Planeta dos Macacos”... mas eles foram captação de movimentos – deixando em um patamar a ser superado. Dessa forma, o que mais a Disney poderá fazer?
Eu lembro de quando fizeram um documentário sobre Walt Disney e dele desenvolvendo seus filmes. Disney levava seus artistas ao zoológico para que eles captassem os movimentos dos animais que apareceriam nas animações. Assim o movimento de um gamo, de uma gazela, de um veado, de um coelho, de um pássaro, apareceriam de forma mais real nas animações. Com “O Rei Leão”, acredito que Walt Disney deve estar sorrindo no Elísio e dizendo: “Eles conseguiram!”


segunda-feira, 15 de julho de 2019

RESENHA HQ: LJA/SJA: Vícios e Virtudes (DC Comics Coleção de Graphic Novels Volume 64)


LJA/SJA: VÍCIOS E VIRTUDES (DC Comics Coleção de Graphic Novels Volume 64)

Roteiro: David S. Goyer, Geoff Johns
Desenhos: Carlos Pacheco
Arte-final: Jesús Meriño
Título original: JLA/JSA: Virtue and Vice

Dia de Ação de Graças. A Liga da Justiça e a Sociedade da Justiça decidem fazer seu primeiro grande encontro, desde que a SJA se reestruturou e voltou a atuar como um grupo de super-heróis. Inspiradores para a criação da LJA, a Sociedade é um grupo formado por antigos super-heróis que tiveram seus legados seguidos por outros grandes heróis.
Admirando à Terra, Lanterna Verde/Alan Scott se junta ao Superman quando um chamado de emergência surge, referente a um ataque a uma conferência na África onde se encontra o presidente dos Estados Unidos, Lex Luthor.
Após um conflito curto contra o novo deus Bedlam, os dois grupos de super-heróis se reúnem na Mansão da SJA, onde acontecimentos estranhos se iniciam e Batman, Sr. Incrível, Shazam, Poderosa, Lanterna Verde/Kyle Rayner, Senhor Destino e Homem-Borracha se voltam contra os membros da Liga da Justiça e da Sociedade da Justiça, levando alguns a Torre do Destino e outros ao Limbo. J’onn J’onzz, antes de entrar em colapso, informa que tudo tem a ver com Lex Luthor, então os membros restantes, se unindo aos membros reservas da LJA, decidem resolver esse caso, que vai além da compreensão – até mesmo – de Zatanna. Quem está por trás desses ataques? Luthor? Os problemas se agravarão antes mesmo de ser descoberto.
“LJA/SJA: Vícios e Virtudes” é o primeiro encontro dos grupos de super-heróis desde Crise nas Infinitas Terras, como ocorria antigamente.
Os encontros se tornaram algo corriqueiro entre a Liga e a Sociedade, trazendo sempre aventuras que eles terminavam enfrentando os vilões de ambas as Terras – a LJA era da Terra-1 e a SJA era da Terra-2 – ou de outras Terras do Multiverso DC. Quando a Crise transformou o Multiverso em um único universo, a Sociedade ficou desativada até Zero Hora, quando ela ressurge em uma explicação muito simples: Eles estavam no Limbo enfrentando o Ragnarok, o Crepúsculo dos deuses, até serem trazidos de volta, onde alguns terminaram envelhecendo de forma gradativa ou morrendo.
A história trabalha bem o lado místico do Universo DC. Escrita por David S. Goyer – co-roteirista da trilogia “Cavaleiro das Trevas” – e Geoff Johns – na época, era o roteirista da revista da Sociedade da Justiça –, a história embarca em um enfrentamento onde os dois grupos encaram vilões de ambos, como no passado, mas levando em conta o lado do sobrenatural. Então vemos problemas sérios, principalmente, para o Superman. Um dos pontos legais é ver como os mais jovens que embarcaram na SJA como membros efetivos aprendem mais sobre a ação. Outro ponto maravilhoso é ver a intercalação dos grupos através da Canário Negro, pois Dinah é membro reserva de ambos – fundadora da LJA pós-Crise nas Infinitas Terras – e, dessa forma, assume a liderança.
Em minha humilde opinião, uma das melhores histórias escritas na época em que foi lançada no Brasil, pela Panini em 2003. A parceria de Goyer e Johns funciona de forma exímia usando com precisão os personagens da LJA e da SJA.
Uma das coisas que sempre gosto de ressaltar é que, nessa história, eles usam os coadjuvantes de forma primaz, tornando-os, por vezes, centrais mais importantes do que a clássica Trindade DC ou qualquer outro personagem principal.
“LJA/SJA: Vícios e Virtudes” é memorável e estabelece o recomeço desses encontros memoráveis dos maiores grupos de super-heróis da DC Comics.
Na edição 66, a Eaglemoss lança “Batman: A Luva Negra”, história escrita por Grant Morrison para a publicação regular de Batman, onde o Homem-Morcego reencontra os membros do Clube dos Heróis e descobre que uma organização poderosa está por trás de acontecimentos que ocorrem com o grupo. Nessa história, Morrison iniciou a série “Batman: Descanse em Paz”.
A Coleção DC Comics de Graphic Novels da Eaglemoss pode ser adquirida em bancas e lojas especializadas. Ela também pode ser encontrada na loja virtual da Eaglemoss Collections Brasil, principalmente para aqueles que desejam completar sua coleção. No site da Eaglemoss Brasil você também pode fazer assinaturas da coleção, ganhando brindes bem especiais.



terça-feira, 9 de julho de 2019

RESENHA HQ: Soldado Desconhecido (Unknown Soldier)


SOLDADO DESCONHECIDO (Unknown Soldier)

Roteiro: Garth Ennis
Arte: Kilian Plunkett
Ano: 1998 (BR: 2018)
Editora: Vertigo Comics (BR: Panini Comics)
Pág.: 112

O Agente William Clyde está trabalhando sobre o tráfico de armas do “Primado Califórnia”, quando nomes misteriosos aparecem na sua lista de investigados. Ele então decide entrevistar os nomes que terminam levando-o a conhecer o Codinome Soldado Desconhecido.
Soldado Desconhecido é um militar que faz trabalhos sujos desde a Segunda Guerra Mundial. Suas principais características são a altura descomunal, a fala pontual e decisiva, os olhos penetrantes e demoníacos e ação de forma a eliminar vestígios ou criar governos, sempre em nome dos Estados Unidos.
O que deixa Clyde preocupado, é que todos que ele entrevista terminam mortos. E, por acidente, uma colega de trabalho dele também termina assassinada.
O que será que está acontecendo? Quem são essas pessoas que desejam esconder sobre o Soldado Desconhecido? E mais, quem é esse Soldado Desconhecido?
Garth Ennis é um escritor do tipo que gosta de trabalhar com personagens enigmáticos e perigosos. Então, não é nada demais para ele trabalhar com o personagem Soldado Desconhecido.
O personagem, que nunca teve a identidade revelada, surgiu em julho de 1970 na revista Star-Splanged War Stories 151, sendo criado pelo lendário Joe Kubert. Ele e o irmão Harry embarcaram na II Guerra Mundial, em uma invasão das Filipinas. Durante um combate contra os japoneses, Harry terminou morto por uma granada, enquanto o Soldado Desconhecido terminou com o rosto deformado, o que obrigou que usasse bandanas. Ele se tornou o operacional desconhecido, transformando-se em uma lenda durante a II Guerra Mundial. Foi responsável pela morte de Adolf Hitler e, mesmo sendo considerado como morto, foi avistado outras vezes, mas sem certezas, pois ele sempre estava disfarçado.
Ennis parte exatamente dessa ideia de que aqueles que conhecem o Soldado Desconhecido nunca podem revelar que o conheceram, pois ele não existe.
Na história de Ennis, o Soldado Desconhecido trafega pelos momentos mais acirrados e sinistros das histórias de combates que envolveram os Estado Unidos. Obstinado e decidido, o Soldado Desconhecido não deixa ponta sem nó, resolvendo da forma que achar necessário ou usando de sua facilidade de se disfarçar e imitar para isso.
O retrato de Ennis para o personagem é um resgate da mitologia iniciada por Kubert na década de 1970, mostrando que o personagem é completamente válido em qualquer época ou período, podendo vivenciar os conflitos e agir neles, deixando uma pulga atrás da orelha: É sempre o mesmo Soldado Desconhecido? Ele está vivo desde a II Guerra Mundial? São perguntas que você descobre no decorrer da história, que tem a arte de Kilian Plunkett, que eu vim a conhecer nesse trabalho.
“Soldado Desconhecido” é uma extensão de conhecimento de um personagem esquecido – que esteve ativo nos quadrinhos até 1982 e retornou em 1988 com doze edições – que pode ser colocado em qualquer período dos Estado Unidos e continuará válido.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

RESENHA FILMES: Batman & Bill – A secret identity finally revealed (2017)


BATMAN & BILL – A SECRET IDENTITY FINALLY REVEALED (2017)
Direção: Don Argott e Sheena M. Joyce

Vocês sabem quem criou o Batman?... Sim, hoje em dia TODOS sabemos o verdadeiro nome por trás da máscara do Morcego, mas isso graças a Marc Tyler Nobleman.
Nobleman é o tipo de fã dos quadrinhos que sempre busca lutar por causas daqueles que merecem. O documentário “Batman & Bill – A secret identity finally revealed” fala exatamente sobre essa busca por justiça, dessa vez para o escritor Bill Finger.
Finger era um escritor de quadrinhos, pouco reconhecido pelo maior trabalho de toda a sua vida, a criação do Batman.
Tá, nós sempre ouvimos falar que Bob Kane era o homem por trás do Cavaleiro das Trevas, mas isso é 30% da verdade pela criação do maior detetive dos quadrinhos. Kane teve a ideia e levou para os editores da National Periodicals, dizendo ser o criador do Batman, mas o que ele escondeu é que o conceito do traje, a máscara, o nome da identidade secreta do personagem, sua história original, sua cidade, seu parceiro Robin, seu inimigos Coringa, Charada, Pinguim, Espantalho, Mulher-Gato, seu Batmóvel, sua Batcaverna,... TUDO que teve Bob Kane como desenhista, veio de Bill Finger.
A batalha de Nobleman se iniciou quando ele ouviu uma história do produtor Michael Uslan (Batman vs. Tartarugas Ninjas) sobre a primeira Comic-Con de Nova Iorque, em 1965, onde ele e seus pais foram apresentados, por Otto Binder – co-criador de personagens como Supergirl, Adão Negro, Mary Marvel, Brainiac, Bizarro, a Legião dos Super-Heróis original –, a Bill Finger, deixando-os estupefatos com a notícia.
Nessa Comic-Con, por sinal, em relato gravado em fita, Finger fala sobre como foi a criação do personagem para Jerry Bails – o "pai" do Comic Fandom e decobridor que Bill Finger era o "escritor anônimo" de Batman –, fazendo com que fãs questionassem tudo que conheciam. Como era um dos redatores do fanzine Batmania, Bob Kane logo se prontificou a negar TUDO que o roteirista havia falado, como se ele fosse somente um ghost writer, que transpunha para o papel as ideias de Kane.
Essa Comic-Con – mesmo com todas as negações de Kane – fizeram os fãs começarem a se questionar sobre a real fonte da criação do Batman.
No ano seguinte a Comic-Con estrearia a série de TV “Batman”, tendo somente – como sempre – o nome de Bob Kane mencionado como criador do personagem e seu universo.
No décimo-primeiro episódio da segunda temporada da série, o roteirista Charles Sinclair pediu que creditassem o nome de Bill Finger no auxílio do roteiro do episódio “Crimes Loucos do Rei Relógio”, o que foi a primeira vez que Finger pode ver seu nome ligado àquele personagem que ele fizera tanto.
Todo o documentário segue atrás da busca por justiça para Finger, que terminou falecendo em 1974, sozinho em um apartamento, que se como um indigente, que estava para ser tomado dele, pois não tinha condições de pagar o aluguel. Enquanto Bob Kane enriquecia com a franquia do Batman.
Nobleman chegara em um ponto que pensou em desistir de buscar justiça, pois sabia que ele, como não era parente de Finger, não poderia exigir muito para o escritor. Ele descobriu que Bill Finger tivera um filho em seu primeiro casamento, Fred Finger, que era bissexual e terminara morrendo em decorrência de ser HIV Positivo em 1992.
Fred Finger tentara, junto a DC Comics, conseguir que seu pai tivesse crédito no filme “Batman”, que seria lançado em 1989, mas se decepcionou, pois no Contrato de Bob Kane com a National Periodicals – antecessora da DC Comics – era que ele seria o ÚNICO creditado. Então, mesmo que a empresa tivesse conhecimento sobre a participação de Bill Finger – que co-criou outros personagens, mas que estes NUNCA tiveram o mesmo sucesso do Batman –, ela não poderia fazer nada.
Um pouco antes do lançamento de “Batman – O Retorno”, em uma entrevista Bob Kane desejou “aliviar a consciência” e falar abertamente sobre a participação de Bill Finger, mas ainda tomando para si 60% da criação do personagem. Surgiu, nessa época um desenho – datado de 1934 – que mostrava um rabisco de Kane, como se desde essa época – quatro anos antes de Jerry Siegel e Joe Shuster lançarem Superman – ele já pensava no Batman (o que torna a imagem questionável).
Como Finger não tivera filhos com sua segunda esposa, Nobleman achava que era um caso perdido, até descobrir que Fred tivera uma filha, Athena Finger.
Em 2012, Marc Nobleman lançou o livro “Bill the Boy Wonder: The Secret Co-Creator of Batman”, o que levou pessoas a questionarem, a DC Comics, nas convenções sobre os créditos do escritor no personagem. Isso levou a neta de Bill Finger, Athena, a buscar os direitos de o avô ser creditado como co-criador do Batman... o resto vocês já conhecem!
“Batman & Bill – A secret identity finally revealed” não é um documentário fácil de ser encontrado, por ele foi lançado pelo sistema streaming Hulu (ainda sem distribuição no Brasil), então poucos conhecem.
A Skript, Editora através do financiamento coletivo do Catarse, lançou “Bill Finger – A História Secreta do Cavaleiro das Trevas”. Escrita por Diego Moreau e Douglas Vieira, o exemplar traz arte de Sandro Zambi e cores de Italo Silva, ela pode ser encontrada – com exclusividade – na Amazon. Mas se você for bom em inglês e quiser adquirir o livro de Marc Nobleman, “Bill the Boy Wonder:The Secret Co-Creator of Batman”, pode encontra-lo, também, na Amazon.
O documentário “Batman & Bill – A secret identity finally revealed” mostra que, as vezes, por mais que demore 75 anos, o bom combate sempre termina de forma gratificante e vale a pena ser combatido.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

RESENHA HQ: Crise de Identidade (Absolute Identity Crisis)


CRISE DE IDENTIDADE (Identity Crisis)

Roteiro: Brad Meltzer
Desenho: Rags Morales
Arte-final: Michael Bair
Editora: DC Comics (BR: Panini Books)
Ano: 2011 (BR: 2018)
Pág.: 268

Enquanto Ralph Dibny, o Homem-Elástico, estava em uma missão com a super-heroína Águia Flamejante, sua esposa, Sue Dibny, é assassinada. Com isso, uma antiga memória do passado – quando Ralph era membro ativo da Liga da Justiça – vêm à tona. Durante uma invasão ao Satélite da Liga, o vilão Doutor Luz termine agredindo e violentando Sue. Acreditando que seja uma vingança de Luz, Ralph e outros antigos membros da Liga saem atrás do vilão. O que poucos sabem – um segredo mantido por Canário Negro, Arqueiro Verde, Zatanna, Flash “Allen”, Lanterna Verde “Jordan” e Gavião Negro – é que, enquanto a equipe fazia a limpa da ação do Luz, eles terminaram indo além e apagaram as memórias do vilão, transformando-o em um rufião que ninguém – nem mesmo outros vilões – suportam.
Após descobrirem que Luz não foi o culpado – e reativarem a memória do vilão –, Lois Lane recebe uma ameaça, deixando o Superman mais preocupado e todo os heróis e super-heróis do Universo DC em polvorosa se perguntando: quem é essa ameaça que conhece a identidade dos heróis e sabe a quem ameaçar? Será que tem a ver com a atitude dos heróis que hoje são membros reservas? Quem será o próximo ameaçado? Batman descobrirá antes que mais alguém morra?
“Crise de Identidade” é uma minissérie que foi lançada, inicialmente, em cinco partes. Depois ganhou várias encadernações, graças ao sucesso da série. Escrita por Brad Meltzer e desenhada por Rags Morales, ela nos leva até onde um super-herói pode ir para considerar algo amoral.
O principal narrador da história é Oliver Queen, o Arqueiro Verde. Ele que conta a Wally West – o novo Flash, em substituição ao seu tio – e Kyle Rayner – o novo Lanterna Verde, em substituição ao Hal Hordan – o que eles fizeram no passado e continua revelando várias coisas a Wally, dentre elas, uma das maiores amoralidades de todas, o apagamento da memória de um dos membros ativos da Liga da Justiça.
O que é mais interessante dessa história é o respeito ao tempo cronológico do Universo DC, pós-Crise nas Infinitas Terras.
Como muito sabem, Crise nas Infinitas Terras foi o maior megaevento da DC Comics, que alterou toda sua realidade, dividindo a Era de Ouro e a Era de Prata em um mesmo universo. Na Era de Ouro, os heróis eram membros da Sociedade da Justiça, do Esquadrão Supremo, dos Combatentes da Liberdade, dos Quatro Soldados da Vitória, enquanto a Era de Prata – ou Era Moderna dos Heróis – se iniciou com o aparecimento do Superman. Daí surgiu os novos heróis que viriam a formar a Liga da Justiça. Seus membros fundadores seriam Canário Negro, Caçador de Marte, Flash “Allen”, Lanterna Verde “Jordan” e Aquaman. Batman e Superman seriam membros honorários dessa nova formação, que teve vários outros membros fazendo parte do grupo. Oliver Queen, o Arqueiro Verde, seria um dos principais financiadores dessa nova formação e a Mulher-Maravilha somente a viria a fazer parte da equipe a partir da Liga da Justiça Internacional.
Na época que ocorre “Crise de Identidade”, anos haviam se passado desde que ocorrera “Zero Hora”, também. Essa saga – de acordo com a motivação – tinha o objetivo de organizar o que ficara desorganizado pós-Crise nas Infinitas Terras, dentre esses problemas, era o Gavião Negro – que terminou mais bagunçado ainda.
Já Crise de Identidade somente tem o motivo de mostrar que nem sempre um herói é tão provido de integridade quanto se imagina. É um assunto a se refletir, pois quando falamos do Universo DC, temos várias discussões sociais e políticas – principalmente no que tange o mundo do Arqueiro Verde –, mas eles são íntegros e nunca ultrapassam a linha imaginária que sempre vibra próximo do serviço deles, chamada moralidade.
Alguns fazem usos de armas letais e, às vezes, podem ferir um bandido, mas nunca o matar. Outros tem poderes de destruir o mundo, mas sempre pesa o uso desse poder. Tem aqueles que possuem dons mágicos capazes de transformar toda uma realidade, mas sabem que isso poderia distorcer tudo que acredita. Mas será que apagar a memória de um vilão – ou super-vilão – foge a essa moral? Ainda por cima quando está à beira limiar da loucura e ameaça, constantemente, destruir a família de um herói ou super-herói? Quando um super-vilão descobre a identidade secreta de um herói ou super-herói, o que fazer? Como agir? Se não vai mata-lo, pois isso feriria tudo pelo que luta, apagar a memória seria a solução?
Lógico que a história não fica presa somente a esses questionamentos, ela vai além, pois trabalha a psique dos heróis. Como eles agem e veem as ameaças àqueles que eles amam? A maioria dos heróis, vigilantes e super-heróis criam identidades secretas para poder agir sem que seus familiares e companheiras (os) sejam ameaçados. Para isso servem as máscaras, para esconderem sua vida pessoal – tá, o Superman usa ao inverso – e não misturar suas vidas. A de Ralph Dibny era aberta, mas dos outros não.
A história é impactante em vários aspectos de seu decorrer, mas um dos momentos mais catárticos fica com o pai do Robin, John Drake.
A cena é de um sentimentalismo arrebatador. Faz você se sentir dentro da cena, vendo tudo acontecer. É isso torna o trabalho de Meltzer e Morales ainda melhor.
Alguns dirão que “Crise de Identidade” é datado, pois o Universo DC – que voltou a ser Multiverso DC após Crise Infinita – mudou muito desde que a minissérie foi lançada. Mas não é.
O trabalho sobre a moralidade e a integridade de um vigilante, herói e super-herói vêm sendo trabalhado mais afincamente desde então. Sempre se busca compreender os limites das ações desses personagens, mas depois de “Crise de Identidade”, a “pulga atrás da orelha” se tornou algo a sempre pensar: O que um super-herói faria para sua identidade nunca ser revelada?