“Em uma toca no chão
vivia um hobbit!”
Existem determinados filmes que uma resenha soaria como algo
superficial e enfadonho, como no caso de “Tolkien”.
John Ronald Reuel Tolkien não era membro de uma família
abastada. Sua mãe faleceu quando ele e seu irmão, Hilary Arthur, eram crianças
ainda. Graças a ela, Tolkien tornou-se um sonhador, um estudioso de línguas
(filólogo) autodidata e um criador sem igual.
Com uma criação católica, Tolkien tinha como guardião o padre
Francis Xavier Morgan, grande amigo de sua mãe Mabel Tolkien, que conseguiu
para ele uma vaga na King Edward’s School, onde ele viria a conhecer os outros
membros da Tea Club and Barrovian Society (TCBS), o poeta Geoffrey Bache Smith, o músico Christopher Luke Wiseman e o desenhista Robert Gilson. No lar onde ele morava com seu irmão,
administrado pela Sra. Faulkner, Tolkien viria a conhecer a jovem e talentosa
pianista Edith Bratt, que viria a se tornar seu maior e único amor.
“Tolkien” é um filme que busca retratar parte da história do
escritor amplamente conhecido pela criação de um dos maiores e mais influenciadores
universos literários de todos os tempos.
O filme nos mostra Tolkien na Batalha de Somme, na França,
durante a Primeira Guerra Mundial. E, no drama, traz toda a história de Tolkien
em lembranças, pois ele busca encontrar um de seus amigos durante a batalha.
Quem conhece a história de Tolkien a fundo, com certeza
encontrara divergências no decorrer do filme. Mas vale lembrar que é uma
dramatização de uma realidade, então tem-se o costume de romancear determinados
fatos.
Eu tomei a iniciativa de não ler – como sempre faço com os
filmes que quero assistir – ou tentar saber de qualquer crítica sobre o filme “Tolkien”,
pois desde que soube que ele seria feito, fiquei ansioso em conhecer qual parte
da história dele seria contada. Lógico, assisti aos trailers e sabia que
conheceríamos o período que ele participou da Irmandade que lhe daria pretextos
para a criação de sua obra máxima. Sabia que retratariam sua convivência com
sua esposa, Edith Bratt, com seus amigos da King Edward’s School, mas não mais
do que isso.
Eu não conheço muito sobre J.R.R. Tolkien. O pouco que
conheço foi lendo no site Valinor, então o encanto que o filme me trouxe foi
maravilhoso. Amizades, amor, perdas, conquistas, criações são coisas que
fizeram parte da vida de Tolkien, e isso é visto no filme. Conhecer – mesmo que
de forma romanceada – como ele desenvolve a linguística élfica, como ele vai
desenvolvendo o – como é conhecido – Universo Tolkieniano é... mágico.
Não foi uma vida regrada de facilidades. Perdeu a mãe muito
cedo, não foi amplamente aceito no âmbito escolar devido aos problemas do
passado e suas condições financeiras – os outros membros da TCBS tinham mais recursos
financeiros do que Tolkien –, os empecilhos de seu amor por Edith Bratt, sua
constante busca por aprimoramento e estudos autodidatas – mesmo que em menor
proporção –, estão no filme. O mais interessante é que, como em muitas
biografias escritas, não se retrata muito da vivência de John Tolkien com
Hilary Tolkien. Sabemos que eles eram
irmãos, mas a idade os afastava, aparentemente.
Tolkien teve grande influência dos amigos com quem conviveu.
Como eu escrevi, ele não era aceito no âmbito escolar da King Edward’s School.
Os outros membros da TCBS, por inveja – creio eu – o trataram de forma avessa,
no começo, mas depois de iniciarem uma convivência maior, criaram vínculos,
laços que foram levados até as trincheiras.
Apesar dos flashbacks retratarem muito da história do filme,
um ponto importante está na Batalha de Somme, onde Tolkien busca encontrar o
amigo Geoffrey Bache Smith, Tenente nos Fuzileiros de Lancshire.
Quando ouvi pela primeira vez o nome, ele me parecia
conhecido. Então fui buscar sobre Geoffrey Bache Smith e descobri o motivo de conhece-lo.
Esse amigo de Tolkien teve o prelúdio escrito por ele:
“Os poemas deste livro foram escritos em vários momentos,
um deles (‘Vento sobre o Mar’), acredito que já em 1910, mas a ordem em que
eles estão aqui não são cronológicos além do fato de que a terceira parte
contém apenas poemas escritos após a eclosão da guerra. Destes, alguns foram
escritos na Inglaterra (em Oxford em particular), alguns no País de Gales e
muitos durante um ano na França, de novembro de 1915 a dezembro de 1916, que
foi ocorreu por uma licença em meados de maio.
‘O Enterro de Sófocles’, que é colocado aqui no final,
foi iniciado antes da guerra e continuou em tempos estranhos e em várias
circunstâncias posteriores; a versão final me foi enviada das trincheiras.
Além desses poucos fatos, nenhum prelúdio e nenhuma necessidade
são necessários, a não ser aqueles aqui impressos como seu autor os deixaram.
J.R.R.T.
1918”.
O livro “A Spring Harvest” é citado em várias biografias
de Tolkien, devido a esse prelúdio. O que nos traz o tamanho de afinidade que o
escritor tinha com seus amigos. Só para citar, seu filho Christopher Tolkien
tem o nome em homenagem ao amigo Christopher Luke Wiseman.
Tolkien é uma influência. Linguisticamente, literalmente,
ele desenvolveu algo que alcançou patamares que servem como exemplo para um
grande número de pessoas. Ele influenciou J.K Rowling na criação do seu
Universo Mágico. Ele influenciou o escritor George R.R. Martin em As Crônicas
de Gelo e Fogo, foi membro de um grupo informal de discussão literária da Universidade
de Oxford conhecida como Inklings, onde serviu de influência religiosa
para o escritor C.S. Lewis – que preferiu a Igreja Anglicana, para a decepção
de Tolkien –, criador de As Crônicas de Nárnia. Até mesmo o jogo Dugeons &
Dragons, desenvolvido por Gary Gygax e Dave Arneson, um dos pioneiros do RPG, tem grande influência de Tolkien.
Quando você conhece o Universo Tolkieniano – eu vim a conhece-lo
tardiamente em 2001 – ou você se apaixona de imediato ou você odeia a forma
narrativa e detalhada da escrita, mas NINGUÉM pode negar o tamanho de sua influência
e existência. Tá, os filmes de Peter Jackson o colocaram em evidência no século
XXI, mas Tolkien já era uma influência antes deles e continuará sendo no passar
dos anos, pois tudo que ele criou com todo o conhecimento que adquiriu sempre
será parte das vidas daqueles que convivem ou conviveram com esse universo maravilhoso.
O filme – sim, eu vim falar do filme – “Tolkien” é somente a
representação de um décimo do que foi a criação de Tolkien, que iniciou da
frase que postei logo no começo deste texto. Assisti-lo é um enriquecimento de
conhecimento dessa mente influenciadora e conquistadora de corações.
"É mais do que uma mera amizade. É uma aliança. Uma aliança invencível... Uma Irmandade".
Para não faltar... Ficha Técnica:
Tolkien (2019)
Direção: Dome Karukoski
Roteiro: David Gleeson, Stephen Beresford
Elenco: Nicholas Hoult (John Ronald Reuel Tolkien), Lilly Collins (Edith Bratt), Colm Meaney (Padre Francis Xavier Morgan), Anthony Boyle (Geoffrey Bache Smith), Patrick Gibson (Robert Quilter Gibson), Tom Glynn-Carney (Christopher Luke Wiseman), Laura Donnelly (Mabel Tolkien), Harry Gilby (J.R.R. Tolkien - jovem), Derek Jacobi (Professor Joseph Wright), James McCallum (Hilary Arthur Reuel Tolkien), Pam Ferris (Sra. Faulkner)