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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

RESENHA CINEMA: Pantera Negra (Black Panther, 2018).


PANTERA NEGRA (Black Panther, 2018) – COM SPOILERS

Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Letitia Wright, Daniel Kaluuya, Angela Bassett, Forest Whitaker, Winston Duke, Andy Serkis, Sterling K. Brown, John Kani, Florença Kasumba

OBS.: Em geral não gosto de escrever resenhas com spoilers, mas para falar de Pantera Negra, faz-se necessário falar sobre alguns acontecimentos para melhor entendimento. Então a leitura a seguir fica por sua conta e risco.

Wakanda, para muitos, é somente uma vila do terceiro mundo com problemas de desenvolvimento e com pequenas fazendas e plantações, mas não sabem o que se esconde atrás de um bem elaborado sistema de camuflagem. Wakanda é uma cidade cuja tecnologia se desenvolveu com o passar dos tempos, fazendo uso do metal mais resistente da Terra, o vibranium.
A cidade tem como seu eterno protetor o Pantera Negra. O herói é uma herança hereditária, passada de pai para filho, que este deve demonstrar seu digno do uso do poder da fera.
T’Challa (Chadwick Boseman), filho de T’Chaka (John Kani), se torna o novo rei de Wakanda após a morte de seu pai. Ele, com isso, precisa defender o legado que ganhou com o título, que é defender seu povo e não permitir que a sociedade fora da cidade tome conhecimento do que Wakanda possui, pois poderiam fazer uso equivocado de tal capacidade. Mas uma ameaça surge no horizonte quando Erik Killmonger (Michael B. Jordan) acredita que a tecnologia de Wakanda não deve ser usada somente para proteção da cidade, mas para defesa por uma igualdade social que os negros do mundo não possuem.
“Pantera Negra” é o décimo-oitavo filme do Universo Cinemático Marvel e já se torna – na minha humilde opinião – o segundo melhor filme do UCM. “Por que segundo?”, vocês podem vir a me perguntar, eu respondo que ainda considero as questões políticas discutidas em “Capitão América: O Soldado Invernal”, mais polêmicas e mais significativas.
Não que as questões levantadas em Pantera Negra não sejam, pois temos lá questões sobre a luta por igualdade, temos questões de políticas que são desenvolvidas para a defesa da cidade, deixando de lado parentescos, que termina levando a uma busca por vingança.
Quando T’Chaka mata seu irmão, N’Jobu (Sterling K. Brown), que pretendia usar o poderio militar de Wakanda na defesa pela igualdade social dos negros, deixa para trás seu sobrinho, que mais tarde surge desejando o mesmo que o pai, e mais, o trono de Wakanda.
Essa questão de luta pela igualdade social dos negros é uma questão que existe desde muito tempo. A sociedade, principalmente das Américas, ainda sofre para aceitar que existe uma igualdade. Mas como os negros foram escravizados, muitos têm uma ideia que eles são a minoria.
Lógico que essa luta não fica somente restrita para as Américas – mais estritamente os Estados Unidos –, pois a personagem Nakia, vivida pela atriz Lupita Nyong’o, também luta por aqueles que são discriminados socialmente na África. De forma diferentes, ela e Killmonger desejam a mesma coisa, ou seja, o uso do desenvolvimento tecnológico de Wakanda em benefício geral da população negra.
É complicado colocar Erik Killmonger como um vilão, pois quando ele foi abandonado ainda jovem nos Estados Unidos, ele era um órfão. Foi movido pelo desejo de vingar seu pai e continuar sua luta e, ciente de sua herança, tornar-se rei de Wakanda. O termo somente poderia ser usado se fossemos pensar que para ajudar ao seu povo, ele mataria os demais. É uma coisa comum que temos visto nos filmes, pois personagens semelhantes a Killmonger, que usam sua visão de justiça, tem surgido aos montes. Não sei se poderíamos chamar de visão deturpada, pois a exclusão e o abandono, podem tê-lo levado em caminhos tortuosos.
Mas não é somente isso que move o filme, pois vemos uma ação muito bem realizada, com um elenco muito bem entrosado. Desde o momento que o filme inicia sua ação, com uma cena onde T’Challa desce de forma vertiginosa de seu aeroplano (não lembro o nome da nave!), percebemos que teremos cenas cada vez melhores de ação. E sua conversa com sua general Okoye (Danai Gurira), percebemos uma naturalidade no entrosamento do elenco.
Os momentos que possuem um – bem pequeno – alívio cômico, ficam por conta do jeito descontraído de Shuri (Letitia Wright), irmão de T’Challa – que nos quadrinhos chegou a tornar-se a Pantera Negra, que desenvolve a tecnologia usada por seu irmão e pela cidade, e a forma lunática de Ulysses Klaue (Andy Serkis), o Garra Sônica – o nome nem chega a ser mencionado no filme. Mas é tudo bem realizado, que não fica exagerado e nem fora do tom do filme.
O diretor Ryan Coogler é simplesmente excelente na realização desse filme, pois ele traz todas essas questões que falei acima e ao mesmo tempo nos dá um filme de super-herói que poderia surgir a qualquer momento e ainda ser atual. Ele já realizou outros trabalhos com Michael B. Jordan, que faz Killmonger, e o ator mostra o quanto cresceu como ator ao fazer esse papel. O mesmo podemos dizer de cada um dos personagens, principalmente Chadwick Boseman como T’Challa.
Se eu não soubesse que ele nasceu na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, poderia dizer que Chadwick nasceu em algum país da África. Já havia adorado sua atuação em “Capitão América: Guerra Civil”, de 2016, e agora ele nos brinda com algo muito maior, pois T’Challa precisa ser rei, mesmo que não desejasse ser. Ele precisa ser filho, irmão e, ao mesmo tempo, ama Nakia. Ele precisa ser o apaziguador, ele precisa saber como tratar as tribos sobre sua proteção e enfrentar as adversidades de seu o detentor do trono de Wakanda. Ele está ótimo no papel e conta com um elenco de apoio dos mais notáveis. Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Letitia Wright, Angela Bassett – que faz sua mãe, Ramonda –, Forest Whitaker – que faz seu conselheiro, Zuri –, Daniel Kaluuya – que faz o papel de W’Kabi, chefe de uma das tribos e amor de Okoye – e Winston Duke – o chefe de outra tribo, M’Baku. Ainda entram para esse elenco maravilhoso o ator Martin Freeman, que também reprisa seu personagem de “Capitão América: Guerra Civil”, o agente do governo estadunidense, Everett K. Ross, e Andy Serkis, que – também – reprisa outro personagem que já aparecera em “Vingadores: A Era de Ultron”, Ulysses Klaue.
Com tantos aspectos positivos – não entrarei nos detalhes dos críticos enfadonhos que ficam exigindo coisas desnecessárias –, “Pantera Negra” entra para qualquer lista de melhores filmes, facilmente.