PARAÍSO PERDIDO (El
Paraiso Perdido)
Baseado na obra de John Milton
Roteiro: Pablo Auladell
Arte: Pablo Auladell
Editora: Sexto Piso (BR: Darkside Books)
Ano: 2015 (BR: 2018)
Pág.: 320
“Todos que leem o
Paraíso Perdido de Milton enxergam a obra de modo particular [...]”. (Andrew
Pyper, autor de O Demonologista)
As palavras de Andrew Pyper interpretam bem o que é essa
obra secular do autor inglês John Milton (1608-1674).
Escrita em pleno século XVII, “Paraíso Perdido” narra uma
breve passagem da Bíblia que fala sobre a criação dos seres vivos e o primeiro
pecado e também vai além ao narrar um outro mito, a Batalha do Céu, onde
Lúcifer enfrenta seus irmãos ao discordar do favoritismo de Deus com a
humanidade. Ele cria sua horda que, após serem vencidos, “caem” do céu e criam
seu próprio mundo. Lúcifer, agora conhecido por Satã, é ambicioso e crê poder
macular a criação de seu Pai, fazendo-os desobedece-lo. Assim ele tenta a
“primeira” mulher a provar da árvore do conhecimento e o pecado original
ocorre.
“2 – [...] Ihaweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas
narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente.
Iahweh Deus plantou
um jardim em Éden, no oriente, e aí colocou o homem que modelara. Iahweh Deus
fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer, e
a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
(...) Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e
o guardar. E Iahweh Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as
árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás,
porque no dia em que dela comeres terás de morrer.
Iahweh Deus disse:
“Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda.” (...)
Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de
suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara
do homem, Iahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem.
Então o homem
exclamou:
“Esta, sim, é osso
de meus ossos/e carne da minha carne!/Ela será chamada ‘mulher’,/porque foi
tirara do homem!”
[...]
Ora, os dois
estavam nus, o homem e sua mulher, e não se envergonhavam.
3
– A serpente era o mais astuto de
todos os animais dos campos, que Iahweh Deus tinha feito. Ela disse à mulher:
“Então Deus disse: Vós não podeis comer de todas as árvores do jardim?”. A
mulher respondeu à serpente: “Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim.
Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Dele não
comereis, nele não tocareis, sob pena de morte.” A serpente disse então à
mulher: “Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes,
vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal.” A
mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore
era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o
também ao seu marido, que com ela estava, e ele comeu. Então abriram-se os
olhos dos dois e perceberam que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e
se cingiram.
Eles
ouviram o passo de Iahweh Deus que passeava no jardim à brisa do dia e o homem
e sua mulher se esconderam da presença de Iahweh Deus, entre as árvores do
jardim. Iahweh Deus chamou o homem: “Onde estás?” disse ele. “Ouvi teu passo do
jardim.” respondeu o homem; “Tive medo porque estou nu, e me escondi.” Ele
retomou: “E quem te fez saber que estavas nu? Comeste então da árvore que te
proibi de comer!”. O homem respondeu: “A mulher que puseste junto de mim me deu
da árvore e eu comi!”. Iahweh Deus disse à mulher: “Que fizeste?” E a mulher
respondeu: “A serpente me seduziu e eu comi.”
Então
Iahweh Deus disse a serpente:
“Porque
fizeste isso/és maldita entre todos os animais domésticos/e todas as feras
selvagens./Caminharás sobre teu ventre/e comerás poeira/todos os dias de tua
vida./Porei hostilidade entre ti e a mulher,/entre tua linhagem e a linhagem
dela./Ela te esmagará a cabeça/e tu lhe ferirás o calcanhar.”
À
mulher ele disse:
“Multiplicarei
as dores de tuas gravidezes,/na dor darás a luz filhos./ Teu desejo te impelirá
ao teu marido/e ele te dominará.”
Ao
homem, ele disse:
“Porque
escutaste a voz de tua mulher/e comeste da árvore que te proibira,
comer,/maldito é o solo por causa de ti!/Com sofrimentos dele te nutrirás/todos
os dias de sua vida./ Ele produzirá para ti espinhos e cardos,/e comerás a erva
dos campos./Com o suor de teu rosto/comerás teu pão/até que retornes ao
solo,/pois dele foste tirado./Pois tu és pó/e ao pó retornarás.”
O
homem chamou sua mulher “Eva”, por seu a mãe de todos os viventes. Iahweh Deus
fez para o homem e sua mulher túnicas de pele, e os vestiu. Depois disse Iahweh
Deus: “Se o homem já é como um de nós, versado no bem e no mal, que agora se
estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!” E
Iahweh Deus o expulsou do jardim de Éden para cultivar o solo de onde fora
criado. Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a
chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida.”[I]
Milton transformou isso em mais de 400 páginas de
uma história que fala sobre todo o mito da criação. Coisas que não percebemos e
ele usa como referência, como a transformação de Satã na serpente, são alguns
dos aspectos dessa leitura do mito.
É sempre complicado falar sobre um assunto tão
polêmico como o Criacionismo[II],
principalmente com base em uma escrita com várias interpretações – a Bíblia e o
“Paraíso Perdido”, é claro –, então, ao invés de falar sobre as várias ideias
míticas de ambos os lado, vou me ater a arte de Pablo Auladell, que é um dos mais
belos trabalhos que já vi em minha vida.
Auladell desenvolveu uma verdadeira obra de arte,
pois são afrescos em movimentos. A textura das imagens, os aspectos artísticos
que ele nos apresenta, mereceria uma exposição em uma galeria, contando uma
história de forma magnífica. Mesmo que não tivéssemos o poema de Milton falado
pelos personagens e escritos, daria para compreender toda a história somente
pelas imagens.
Auladell nos dá várias nuances e movimentos com sua
arte, sem contar que percebemos aspectos de outros trabalhos que foram
desenvolvidos por outros artistas, contando a história da batalha dos céus e de
Adão e Eva.
Você simplesmente viaja nesse trabalho magnífico,
com uma interpretação única, mas totalmente plausível.
Não sou cristão, não sou criacionista, mas consigo
compreender muito bem as ideias de John Milton, principalmente nessa
maravilhosa interpretação de Pablo Auladell.
[I]
Genesis 2, 3 – Bíblia de Jerusalém
[II]
Criacionismo é uma estrutura/modelo conceitual que adota o estudo da natureza a
possibilidade da existência de um criador. A vida teria sido criada
inicialmente complexa, completa e funcional, em tipos básicos de seres vivos
dotados do aporte necessário para sofrer diversificação limitada ao longo do
tempo. Existem três principais ramificações distintas dentro do criacionismo: a
religiosa, a bíblica e a científica. (fonte: http://www.criacionismo.com.br/p/o-que-e-criacionismo.html)