O TIGRE E O DRAGÃO: A
ESPADA DO DESTINO (Crouching Tiger, Hidden Dragon: Sword of Destiny, 2016)
Direção: Woo-Ping Yuen
Roteiro: John Fusco
Elenco: Michelle Yeoh, Donnie Yen, Harry Shum Jr., Natasha
Liu Bordizzo, Jason Scott Lee, Eugenia Yuan, Chris Pang, Juju Chan, Roger Yuan,
Darryl Quon.
No ano de 2000, o diretor Ang Lee (As Aventuras de Pi) levou
o livro do escritor chinês Du Lu Wang (1909-1977), “O Tigre e o Dragão”, aos
cinemas. Era uma história sobre ficção chinesa baseada em aventuras marciais da
China Antiga conhecida como Wuxia (Wu = marcial, militar, armada – Xia =
honrosa, cavalheiresco, herói). Na história conhecemos a jovem Jen Yu (Ziyi
Zhang), aprendiz da notória bandida Jade Fox (Pei-Pei Cheng), que demonstra
querer aprender mais sobre o Wudang, uma seita de artes marciais que vivem nas
montanhas Wudang. Sua mestra matara um grande mestre cujo um dos discípulos era
o lendário Li Mu Bai (Yun-Fat Chow). Este a persegue desde então, buscando
fazer justiça em nome de seu mestre.
Jen Yu é filha do governador Yu (Li Fazeng), e apaixonada
pelo jovem ladrão Luo Xiao Hu (Chen Chang). Ela vai com seu pai visitar a
residência do Sr. Te (Sihung Lung) e lá conhece Li Mu Bai e a guerreira Yu Shu
Lien (Michelle Yeoh). Shu Lien é um amor antigo de Li Mu Bai, mas como fora prometida
a outro homem, este nunca a cortejou. Li Mu Bai e Shu Lien foram à residência
de Sr. Te para lhe levar a lendária Destino Verde, uma espada poderosa capaz de
cortar o mais duro metal, sem perder o fio.
Destino Verde é roubada, fazendo Li Mu Bai e Shu Lien irem
atrás da bandida que é ninguém menos que Jen Yu. Durante a fuga, Jen Yu tem a
chance de aprender mais sobre o Wudang com Li Mu Bai, mas a traiçoeira Jade Fox
não aceita que sua pupila saiba mais do que ela, então em um combate final, Li Mu
Bai consegue fazer justiça pelo seu mestre, mas sucumbe à batalha, pois Fox
usará dardos envenenados. Shu Lien leva a Destino Verde de volta a mansão do
Sr. Te, pois este prometera que aquele presente seria guardado e protegido.
Depois, Lien leva Jen Yu até a montanha Wudang, onde a jovem desiste do
aprendizado e foge.
Àqueles que não assistiram “O Tigre e o Dragão” ainda, mil
desculpas se dei algum spoiler, mas eu precisava contar essa história –
parcialmente – para falar do novo filme baseado na pentalogia de Du Lu Wang. “O
Tigre e o Dragão: A Espada do Destino” é baseado no livro “Iron Knight, Silver
Vase”, e nele passaram-se 18 anos desde a morte de Li Mu Bai. Shu Lien está a
caminho da residência dos Te, para prestar suas homenagens à morte do
governante, quando sua carroça é atacada pelos homens de Hades Dai (Jason Scott
Lee), líder do Clã Lótus Ocidental, que deseja ser o governante do Mundo
Marcial. Apesar de se sair bem sozinha, ela conta com a ajuda de um misterioso
forasteiro que a ajuda.
Chegando a residência dos Te, Shu Lien descobre que Destino
Verde encontra-se exposta na sala de Mestre Yu (Gary Young), pois um dos
últimos desejos do seu pai era que a espada ficasse ali, para lembrar-lhe de
dias mais nobres. Poucos são aqueles que sabem onde encontra-se Destino Verde,
que para muitos encontra-se perdida. Então uma bruxa de olhos de prata (Eugenia
Yuan), ao encontrar-se com o jovem Wei-Fang (Harry Shum Jr.), único
sobrevivente do embate com Shu Lien, pede para que este a leve até Hades Dai e
conta ao soberano onde a Destino Verde está e recomenda que Wei-Fang vá
usurpá-la.
Durante a tentativa, Wei-Fang conhece a guerreira Vaso
Nevado (Natasha Liu Bordizzo), mas é impedido por Shu Lien de levar o espólio. Vaso
Nevado é aprendiz de uma antiga guerreira e deseja aprender mais sobre o Wudang
– nesse filme é chamado de Caminho de Ferro – se tornando aprendiz de Shu Lien.
Com a tentativa de assalto da Destino Verde, Shu Lien acredita
que seja hora de levar a espada para as montanhas Wudang, mas mestre Yu não
concorda, então ela vê a necessidade de convocar um grupo de guerreiros para a
proteção da Casa dos Te e da Destino Verde.
A mensagem chega a uma taverna, onde reúnem-se outros
guerreiros do Wudang que se juntam para ir ajudar Shu Lien, liderados por Lobo
Silencioso (Donnie Yen), um grande guerreiro que tem uma história com Shu Lien.
“O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino” é mais um daqueles
filmes baseados na ficção chinesa que guarda a beleza na ação. É lindo ver as
lutas, as batalhas de espadas, lanças, adagas, e todo tipo de instrumento que
faz parte das artes marciais chinesas. Rever Michelle Yeoh de volta atuando
como Yu Shu Lien é outra grande beleza deste filme. Ela é uma artista marcial
fantástica. É um grande balé as cenas que ela luta, cada movimento captado
pelas câmeras, cada golpe demonstra na sua precisão é de uma beleza sem
tamanho.
Vemos nesse filme outro dos grandes artistas marciais da
China, Donnie Yen.
Considerados por muito como um dos melhores, Donnie Yen
mostra toda a graça e habilidade que possui. Jackie Chan é um dos atores
chineses que já o elogiou abertamente. Outros destaques ficam para Jason Scott
Lee fazendo o antagonista Hades Dai. Quem não conhece o ator, assista “Dragão:
A História de Bruce Lee” (1993), onde ele atua como o ator sino-americano. As
origens de Lee tem uma mistura de chinês e havaiano, o que o faz um ator
perfeito nesse filme.
Outros com origens nada chinesas são o ator porto-riquenho
Harry Shum Jr. e a atriz australiana estreante Natasha Liu Bordizzo. Shum ficou
muito conhecido pelo seu personagem Mike Cheng na série de TV “Glee” (2009-2015).
Já Bordizzo encara seu primeiro trabalho no cinema e se sai muito bem. Ambos
demonstraram um excelente talento. Agora dá para entender o motivo de Shum ser
um excelente dançarino em “Glee”.
Todas as tomadas de cenas com o “balé marcial” devem meu
agradecimento ao diretor – e ator – chinês Woo-Ping Yuen. Ele já realizou
trabalhos com Michelle Yeoh, Donnie Yen, Jet Li e Jackie Chan, e sua fantástica
forma de captar cada movimento, cada momento, cada cena de criar impacto é maravilhoso.
Uma coisa simples que poderia passar despercebida, ganha um impacto maior nas
lentes dirigidas por Yuen.
Mas nem tudo são maravilhas em “O Tigre e o Dragão: A Espada
do Destino”, pois a poesia falada no idioma mandarim e cantonês se perde na
tradução para o inglês. Sinceramente, uma das coisas lindas de “O Tigre e o
Dragão” é os atores falarem no seu idioma original, sem as traduções grosseiras
do inglês. Eu fico pensando como nomes iguais a “Vaso Nevado” e e “Lobo
Silencioso” ficariam em mandarim ou cantonês. Não ver a terminologia Wudang
sendo pronunciada chega ser estranho, pois era o caminho de Li Mu Bai e Yu Shu
Lien, e é o que difere este tipo de filme dos estilos shaolin (são duas
vertentes diferentes do wushu).
“O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino” é uma linda
história de tradição, honra e lealdade. Mesmo àqueles que buscam o caminho errado,
você testemunha um pouco de honradez entre eles. Testemunhar treze anos depois
essa continuação é um prazer inenarrável e como está no Netflix, farei várias
vezes seguidas.
Se possível assistam “O Tigre e o Dragão” primeiro – também está
no Netflix – e depois testemunhem sua continuação, percebendo que uma boa
continuação pode ser feita.