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sexta-feira, 5 de julho de 2019

RESENHA HQ: Crise de Identidade (Absolute Identity Crisis)


CRISE DE IDENTIDADE (Identity Crisis)

Roteiro: Brad Meltzer
Desenho: Rags Morales
Arte-final: Michael Bair
Editora: DC Comics (BR: Panini Books)
Ano: 2011 (BR: 2018)
Pág.: 268

Enquanto Ralph Dibny, o Homem-Elástico, estava em uma missão com a super-heroína Águia Flamejante, sua esposa, Sue Dibny, é assassinada. Com isso, uma antiga memória do passado – quando Ralph era membro ativo da Liga da Justiça – vêm à tona. Durante uma invasão ao Satélite da Liga, o vilão Doutor Luz termine agredindo e violentando Sue. Acreditando que seja uma vingança de Luz, Ralph e outros antigos membros da Liga saem atrás do vilão. O que poucos sabem – um segredo mantido por Canário Negro, Arqueiro Verde, Zatanna, Flash “Allen”, Lanterna Verde “Jordan” e Gavião Negro – é que, enquanto a equipe fazia a limpa da ação do Luz, eles terminaram indo além e apagaram as memórias do vilão, transformando-o em um rufião que ninguém – nem mesmo outros vilões – suportam.
Após descobrirem que Luz não foi o culpado – e reativarem a memória do vilão –, Lois Lane recebe uma ameaça, deixando o Superman mais preocupado e todo os heróis e super-heróis do Universo DC em polvorosa se perguntando: quem é essa ameaça que conhece a identidade dos heróis e sabe a quem ameaçar? Será que tem a ver com a atitude dos heróis que hoje são membros reservas? Quem será o próximo ameaçado? Batman descobrirá antes que mais alguém morra?
“Crise de Identidade” é uma minissérie que foi lançada, inicialmente, em cinco partes. Depois ganhou várias encadernações, graças ao sucesso da série. Escrita por Brad Meltzer e desenhada por Rags Morales, ela nos leva até onde um super-herói pode ir para considerar algo amoral.
O principal narrador da história é Oliver Queen, o Arqueiro Verde. Ele que conta a Wally West – o novo Flash, em substituição ao seu tio – e Kyle Rayner – o novo Lanterna Verde, em substituição ao Hal Hordan – o que eles fizeram no passado e continua revelando várias coisas a Wally, dentre elas, uma das maiores amoralidades de todas, o apagamento da memória de um dos membros ativos da Liga da Justiça.
O que é mais interessante dessa história é o respeito ao tempo cronológico do Universo DC, pós-Crise nas Infinitas Terras.
Como muito sabem, Crise nas Infinitas Terras foi o maior megaevento da DC Comics, que alterou toda sua realidade, dividindo a Era de Ouro e a Era de Prata em um mesmo universo. Na Era de Ouro, os heróis eram membros da Sociedade da Justiça, do Esquadrão Supremo, dos Combatentes da Liberdade, dos Quatro Soldados da Vitória, enquanto a Era de Prata – ou Era Moderna dos Heróis – se iniciou com o aparecimento do Superman. Daí surgiu os novos heróis que viriam a formar a Liga da Justiça. Seus membros fundadores seriam Canário Negro, Caçador de Marte, Flash “Allen”, Lanterna Verde “Jordan” e Aquaman. Batman e Superman seriam membros honorários dessa nova formação, que teve vários outros membros fazendo parte do grupo. Oliver Queen, o Arqueiro Verde, seria um dos principais financiadores dessa nova formação e a Mulher-Maravilha somente a viria a fazer parte da equipe a partir da Liga da Justiça Internacional.
Na época que ocorre “Crise de Identidade”, anos haviam se passado desde que ocorrera “Zero Hora”, também. Essa saga – de acordo com a motivação – tinha o objetivo de organizar o que ficara desorganizado pós-Crise nas Infinitas Terras, dentre esses problemas, era o Gavião Negro – que terminou mais bagunçado ainda.
Já Crise de Identidade somente tem o motivo de mostrar que nem sempre um herói é tão provido de integridade quanto se imagina. É um assunto a se refletir, pois quando falamos do Universo DC, temos várias discussões sociais e políticas – principalmente no que tange o mundo do Arqueiro Verde –, mas eles são íntegros e nunca ultrapassam a linha imaginária que sempre vibra próximo do serviço deles, chamada moralidade.
Alguns fazem usos de armas letais e, às vezes, podem ferir um bandido, mas nunca o matar. Outros tem poderes de destruir o mundo, mas sempre pesa o uso desse poder. Tem aqueles que possuem dons mágicos capazes de transformar toda uma realidade, mas sabem que isso poderia distorcer tudo que acredita. Mas será que apagar a memória de um vilão – ou super-vilão – foge a essa moral? Ainda por cima quando está à beira limiar da loucura e ameaça, constantemente, destruir a família de um herói ou super-herói? Quando um super-vilão descobre a identidade secreta de um herói ou super-herói, o que fazer? Como agir? Se não vai mata-lo, pois isso feriria tudo pelo que luta, apagar a memória seria a solução?
Lógico que a história não fica presa somente a esses questionamentos, ela vai além, pois trabalha a psique dos heróis. Como eles agem e veem as ameaças àqueles que eles amam? A maioria dos heróis, vigilantes e super-heróis criam identidades secretas para poder agir sem que seus familiares e companheiras (os) sejam ameaçados. Para isso servem as máscaras, para esconderem sua vida pessoal – tá, o Superman usa ao inverso – e não misturar suas vidas. A de Ralph Dibny era aberta, mas dos outros não.
A história é impactante em vários aspectos de seu decorrer, mas um dos momentos mais catárticos fica com o pai do Robin, John Drake.
A cena é de um sentimentalismo arrebatador. Faz você se sentir dentro da cena, vendo tudo acontecer. É isso torna o trabalho de Meltzer e Morales ainda melhor.
Alguns dirão que “Crise de Identidade” é datado, pois o Universo DC – que voltou a ser Multiverso DC após Crise Infinita – mudou muito desde que a minissérie foi lançada. Mas não é.
O trabalho sobre a moralidade e a integridade de um vigilante, herói e super-herói vêm sendo trabalhado mais afincamente desde então. Sempre se busca compreender os limites das ações desses personagens, mas depois de “Crise de Identidade”, a “pulga atrás da orelha” se tornou algo a sempre pensar: O que um super-herói faria para sua identidade nunca ser revelada?

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