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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

RESENHA OVERDOSE CINEMA: Hércules

Publicado no grupo Overdose HQ em 29/10/2014.

RESENHA OVERDOSE CINEMA:
hercules-poster1Hércules (Hercules, 2014)
Direção: Brett Ratner
Elenco: Dwayne The Rock Johnson, Ian McShane, John Hurt, Rufus Sewel, Aksel Hennie, Ingrid Bolsø Berdal, Reece Ritchie, Joseph Fiennes.
Os trabalhos de Hércules (Dwayne Johnson) são feitos conhecidos por todos os mundos helênicos e chegam as terras mais ermas como a Trácia. Lá, o rei Cótis (John Hurt) encontra-se com problemas com um grupo de rebeldes que querem depô-lo e tomar seu trono. Assim sendo, Cótis chama Hércules e seu grupo de guerreiros: o vidente Anfiarau (Ian McShane), o habilidoso Autólico (Rufus Sewel), a guerreira Atalanta (Ingrid Bolsø Berdal), o selvagem Tideu (Aksel Hennie) e seu sobrinho, que promulga suas histórias pelo mundo, Iolau (Reece Ritchie). Ao vencer a primeira batalha contra os rebeldes, Hércules e seu grupo descobrem que a muito mais por trás dessa guerra do que eles imaginam.
Hércules (ou Héracles, na Grécia) é um dos personagens míticos mais conhecidos no mundo inteiro. O mito dos doze trabalhos são até mencionados por todos, principalmente o Leão de Neméia, a Hidra de Lerna, Cérbero e Hipólita (esta parte do mito foi usada pelo Dr. William Moulton-Marston para a criação da Mulher-Maravilha). Mas poucos sabem o motivo de Hércules ter efetuado os doze trabalhos, que foi em redenção por ter matado sua esposa e seus filhos, além da esposa e filhos de seu irmão, Ificlés. Dos filhos de Ificlés, somente Iolau sobrevivera, pois era o mais velho e não encontrava-se com a mãe. A redenção foi ditada pelo primo de Hércules, o rei de Tirinto, Euristeu. A base do filme em questão é tirada dos quadrinhos escrito por Steve Moore (1949-2014) e desenhada por Admira Wijaya, Hércules: The Tracian Wars, onde Hércules vai à Trácia ajudar o rei Cótis contra um grupo de selvagens, mas descobre que nem tudo é como ele esperava ser.
Até aí a semelhança entre filme e quadrinhos tem certa relevância, mas tudo muda quando vemos que Steve Moore teve mais preocupação com as relevâncias do mito do que os roteiristas Ryan Condal e Evan Spiliotopoulos. Eles procuram desmistificar Hércules, mostrando que nem tudo é o que parece, ou seja, a Hidra de Lerna eram homens que vestiam um traje para matar pessoas, que o Leão de Neméia não era uma fera tão grandiosa quanto todos imaginam, assim como o Javali de Arimanto e o Cérbero, o cão de três cabeças que guarda as portas do Inferno (este é bem diferente do inferno cristão). Também apresentam os trabalhos como uma missão na qual Hércules cumpre, auxiliado por seus amigos, em nome do rei Euristeu, mas com sua família ainda viva.
Mas as mudanças não ficam somente no enredo, mas também nos personagens que fazem parte da história. Primeiro temos a eliminação de personagens como o jovem Meneu e o guerreiro devóto a Atalanta, Meleager. Depois Iolau deixa de ser um guerreiro para se tornar o jovem contador de histórias (essa personalidade era do Meneu nos quadrinhos). Tideu deixa deixa de ser um selvagem falador e antropofagista para se tornar somente um selvagem, praticamente mudo. Mas o que me fere não são essas mudanças, mas sim ferir o mito do personagem.
Ricardo Quartim, que colabora com o site Chamando Superamigos, escreve para a Revista Mundo dos Super-Heróis e grava o programa DROPS Ricardo Quartim, chegou a comentar comigo que a ideia era humanizar Hércules, mas quando ele me falou isso, eu não esperava que fossem tentar desmistificá-lo.
Hércules, como vários outros personagens da antiguidade citados em relatos gregos do período homérico (antes do século V a.C.) são mitos, ou seja, podem ter base em pessoas reais, mas são maravilhas com feitos maravilhosos, na sua maioria eram semi-deuses (com exceção a Odisseu, que não tinha ligação com nenhum deus). A busca de retirar isso de Hércules ou de qualquer um desses personagens, simplesmente quebra tudo em torno dele.
Não tenho nada contra reintepretá-lo de forma mais humana, mas no momento em que tornou seus feitos como algo exagerado, perdeu o significado de quem Hércules é.
Quanto a direção de Brett Ratner (Para Maiores), está muito boa, demonstrando um domínio para amarrar a história do começo ao fim. Também gostei muito dos atores, dando principal destaque a Ian McShane (Deadwood) que está excelente como Anfiarau e termina roubando a cena quando aparece. Dwayne Johnson não compromete, está muito bem como Hércules, demonstrando mesmo ser o personagem que sempre desejou fazer. Vale também o destaque para o norueguês Aksel Hennie, que mesmo sem falar na maioria do filme, demonstra uma presença de cena fantástica.
Se eu recomendaria? Sim, para aqueles que buscam um filme com bastante ação, mas nunca o utilizaria para falar sobre o personagem mítico Hércules, pois nesse ponto, o filme peca imensamente.

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