Adoro falar para todos que sou um nerd. Nunca tive vergonha disso e nunca terei. Mas também sou um historiador, com muito orgulho, e por isso amo bons seriados históricos, mesmo que não sejam totalmente fiéis à História, eles sempre possuem um conteúdo digno de ser acompanhado, devido a vários fatos que são narrados. Isso ocorreu com Roma, Spartacus, Os Tudors e Os Bórgia. Este último foi produzido, dirigido – em alguns episódios – e criado por Neil Jordan (Entrevista Com O Vampiro).
Não esmiuçarei cada temporada de Os Bórgia, pois – infelizmente – somente tivemos três, tendo 10 episódios cada, mas nela acompanhamos a ascensão da família Bórgia em Roma. O patriarca da família, Rodrigo Bórgia (Jeremy Irons), nascido na Espanha, se torna o Papa Alexandre VI, tornando-se o Supremo Sacerdote e líder da maior religião europeia no século XV. Mas ao se tornar papa, Rodrigo consegue vários inimigos em várias partes da Europa, principalmente nos ducados próximos a Roma, como Florença, Milão e Nápoles, além de ter conflitos com a França e o Cardeal Giuliano Della Rovere (Colm Feore), que o acusava de sinomia (venda de favores e títulos para conseguir o papado). Mas, além do Papa Alexandre VI, existem mais duas figuras de grande importância para a história, e para os acordos que seriam firmados pelo papa, César Bórgia (François Arnaud) e Lucrécia Bórgia (Holliday Grainger). Ambos eram filhos da união de Rodrigo com a mantovense Vannozza dei Cattanei (Joanne Whalley), que também teve o primogênito Juan Bórgia (David Oakes) e o caçula Jofre Bórgia (Aidan Alexander).
Como os problemas sempre rondavam os Bórgia, durante seu “reinado” sobre Roma, vários acordos foram feitos, principalmente usando a jovem Lucrécia Bórgia como barganha. Mas além de usar Lucrécia, Rodrigo fez uso do nepotismo ao nomear seu filho mais velho, Juan, como comandante do exército papal, e tornou César cardeal, no intuito que este viesse a sucede-lo no trono papal. Inicialmente, devido aos problemas com o rei Carlos VIII (Michel Muller), incitado pelo cardeal Della Rovere, Rodrigo negociou o casamento de Lucrécia com Giovanni Sforza (Ronan Vibert), mas após acertasse com o rei Carlos VIII, desfaz o casamento, alegando que este não havia se consumado, iniciando um conflito com a família Sforza, em especial com Catarina Sforza (Gina McKee), que terminou sendo capturada e presa no cerco de Forli.
Lucrécia ainda veio a se casar com o jovem Alfonso de Biscegli (Sebastian de Souza), de Nápoles, em mais um acordo de seu pai com a província. Mas este termina sendo ferido mortalmente por César Bórgia, após ir à Roma para fugir da perseguição de seu primo, Frederico de Aragão (Luke Allen-Gale), rei de Nápoles, e termina assassinado – a pedido – por sua esposa, Lucrécia.
As atrocidades de César não começam nessa parte da história, pois ele se torna um dos principais personagens da série.
César, como segundo filho da união de Rodrigo Bórgia e Vannozza dei Cattanei, estava destinado ao cargo religioso, mas isso nunca o satisfez. Grande estrategista, aprendeu a arte de matar com o mercenário Micheletto (Sean Harris), seu homem de confiança. Tinha enorme inveja de seu irmão Giovanni e morria de ciúmes de sua irmã Lucrécia, por quem nutria uma paixão ardorosa e determinada, a ponto de matar a todos que se pusessem em seu caminho. César matou o cavalariço Paolo (Luke Pasqualino), pai do filho de Lucrécia. Depois disso, no ímpeto de ascensão, assassinou seu irmão Juan Bórgia, abandonou o cargo de cardeal e se tornou um homem da guerra. Casou-se com Charlotte de Albret (Ana Ularu), com o consentimento do rei Luis XII da França (Serge Hazanavicius) e, com isso, conseguiu apoio da França para suas empreitadas e conquistas, sendo nomeado Duque Valentino. Um dos seus parceiros constantes, a partir da segunda temporada, é Nicolau Maquiavel (Julian Bleach), que também o ajuda a se tornar o maior dos príncipes daquele período.
Infelizmente a série foi interrompida na Terceira Temporada, impossibilitando uma conclusão devido à baixa audiência da série no canal Showtime. Mas é impressionante o conteúdo de pesquisa de Neil Jordan para a criação dessa série, que para mim, é uma das melhores séries históricas já lançadas para a TV por assinatura. Além de um enredo primoroso, a série contava com um elenco bem estruturado, até mesmo para os atores pouco conhecidos.
No elenco de Os Bórgia tínhamos atores das mais variadas regiões da Europa, mas o mais conhecido deles era o britânico Jeremy Irons. Extremamente conhecido por seus papéis de profundidade assombrosa ou então por ser um ator de uma versatilidade incrível, Irons caiu como uma luva para o papel de Rodrigo Bórgia/Alexandre VI. A construção dele para o personagem demonstrou um enorme respeito, como ele sempre demonstra em tudo que faz.
Outro grande destaque vai para o ator canadense François Arnaud que faz o papel de César Bórgia. Pouco conhecido, Arnaud havia feitos alguns filmes, mas sua ascensão foi em Os Bórgia, onde deu a “César o que é de César”. Ele deu força e determinação ao personagem e demonstrou intenso carisma e sagacidade em sua interpretação.
Mesmo com vários trabalhos na TV, entre filmes e seriados, a atriz britânica Holliday Grainger era também pouquíssima conhecida, mas seu papel como Lucrécia Bórgia lhe deu o crédito necessário para demonstrar o quão bem ela se sai no papel da jovem que se torna a maior mercadoria de acordos da família Bórgia dentro do Vaticano. Ela, além de linda, tem um talento fantástico e demonstra o quanto uma personagem pode crescer dentro de uma série.
Os Bórgia era uma série que merecia, pelo menos, mais uma temporada para que pudesse se encerrar de forma adequada, mostrando a decadência que acontece aos Bórgia, posterior a conquista de Forli, que engrandece a lenda por trás de César Bórgia. Existem vários acontecimentos que muitos ficarão sem conhecer com o fim prematuro da série, como a morte de Rodrigo Bórgia. O terceiro casamento de Lucrécia com Alfonso D’Este, do Ducado de Ferrara. Sua nomeação temporária como papisa. A prisão de Leonardo Da Vinci por César Bórgia. Os problemas de César com o Papa Julio II, também conhecido como Giuliano Della Rovere, que era inimigo de sua família. A prisão de César e sua posterior morte em um campo de batalha. Se todas essas informações poderiam ser transpassadas em mais 10 episódio de uma quarta temporada, nunca saberemos, pois seu fim prematuro impediu-nos disso. Mas temos, em três temporadas, toda a ascensão de uma das famílias mais inescrupulosas que ocupou o Vaticano e tomou Roma e todos os ducados e províncias próximas a cidade se tornaram negócio de barganhas e acordos para a manutenção do “reinado” dos Bórgia.
AUT CEASER! AUT NIHILI!
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