Roteiros:
Alan Moore, Steve Bissette, John Totleben
Arte: Dan
Day, Steve Bissette, John Totleben, Shawn McManus, Rick Veitch, Ron Randall, Stan
Woch, Alfredo Alcala, Tom Yeates
Editora: Vertigo Comics (BR: Panini Books)
Ano: 1984-1987 (BR: 2014-2015)
Págs.: Livro 1 = 212; Livro 2 = 228; Livro 3 = 212; Livro
4 = 224; Livro 5 = 172; Livro 6 = 212.
Foram seis livros, 1.260 páginas e dezenove meses. Foi
assim que essa saga mirabolante que envolvia ficção científica, suspense,
sobrenatural, magia, romance, ecologia, religião, mitologia, um pouco de ação
e, porque não, terror foi publicada aqui no Brasil.
Mas seu começo foi em 1986, quando o inglês Alan Moore
recebeu de Karen Berger a missão de tornar o Monstro do Pântano em um
personagem interessante. Não sei se foi uma escolha proposital do roteirista,
mas ele começou devagar, partindo do ponto em que o personagem se encontrava em
meados dos anos de 1980. Mantendo o tom de sobrenatural e suspense que o
personagem, criado por Len Wein e Bernie Wrighston, sempre teve em suas
histórias, Moore criou um espetáculo a parte. Ele começou desconstruindo toda a
história do Monstro, mostrando que ele era mais do que o geneticista Alec
Holland, ele era praticamente um deus dos pântanos, capaz manipular toda a
natureza a sua volta. Mas isso não foi assim como eu escrevi, pois Moore
desenvolveu toda uma construção dessa deificação do Monstro, começando pelo desvencilhamento
do personagem com seu eu carnal.
Moore também ampliou a importância de Abigail Cable nas histórias do Monstro,
tornando-a a segunda coadjuvante das histórias e ampliando o romance entre os
dois que antes não passava de um interesse platônico passando para algo – quase
– carnal. Enquanto Pasko buscou trabalhar mais o lado terror do personagem,
Moore viajou mais para o sobrenatural, tanto que ele e Bissette criam John
Constantine (The Saga of the Swamp Thing #25 (junho de 1984)), personagem que
teve uma participação bem assídua no decorrer da série.
Constantine surge como um bruxo que incentiva o Monstro a
sair do pântano, ampliando seus horizontes. O força a testar coisas que o
Monstro consideraria impossível, como viajar de um lugar ao outro se conectando
ao verde. Fosse um musgo de pia, uma rosa jogada no chão, o Monstro se uniria a
ela e assim viajaria pelos Estados Unidos. Dessa forma as ameaças não chegam
mais a ele, mas ele pode ir a elas.
Moore, nessa busca pelo sobrenatural, ressuscita Etrigan,
o Demônio, criado por Jack Kirby em 1972. O ser do reino abissal ganha uma
grande participação nas histórias do Monstro, tanto habitando o corpo de Jason
Blood como somente em sua forma demoníaca no inferno.
A saga desenvolvida por Moore vai muito além do que fora
feito nas 19 edições anteriores a sua entrada no título. Não desmereço o
trabalho de Martin Pasko e Tom Yeates, pois eles conseguiram manter a história
interessante com o ressurgimento do personagem em maio de 1982, mas eles se
mantiveram em um patamar que o personagem já possuía entre os anos de 1972 e
1976, sem correr riscos, sem desenvolver nada de novo. Já Moore buscou o
inesperado, como levar o Monstro do Pântano ao inferno ou faze-lo dominar
Gotham City ou levá-lo “ao infinito e além”, em viagens interespaciais.
Conectou-o a natureza e para dar-lhe uma orientação para essa conexão, Moore –
junto com Stan Woch – criou o Parlamento das Árvores.
O Parlamento das Árvores habita as selvas amazônicas,
próximo ao rio Tefê, e são elementais, como o Monstro, que estão ligados ao
Verde e já se moveram pela Terra em algum momento. Entre eles temos o primeiro
personagem criado por Len Wein e Bernie Wrighston para a House of Secrets #92
(julho de 1971), Alex Olsen, e o personagem da Marvel Comics, criado por Roy
Thomas, Gerry Conway e Gray Morrow para a Savage Tales #1 (maio de 1971) – uma
clara homenagem ao personagem –, Homem-Coisa. Nesse ponto Moore eleva o nível
do sobrenatural ao ambiental, unindo as duas ideias.
Quanto a ideia de preservação ambiental, ela está sempre
imposta em várias das histórias desenvolvidas na Saga do Monstro do Pântano.
Seja em histórias onde o Monstro precisa enfrentar um ser que contamina o
pântano somente com sua presença, ou então quando ele assola Gotham City,
fazendo com que as pessoas se “liguem ao verde”, Moore desenvolve um sentido de
que o Monstro do Pântano é mais do que um combatente do sobrenatural, mas sim o
ser que melhor pode defender a natureza dentro do Universo DC. Ele seria mais
do que um habitante dos pântanos da Louisiana, sendo um deus da natureza, que
pode transforma-la e muda-la ao seu bel prazer, se desejar.
Quando Moore decide “matar” o Monstro, ele o faz embarcar
em uma busca para se ligar novamente à Terra, pois perdera sua conexão ao Verde
e viaja distante para descobrir como se reconectar. Com isso, Moore introduz
ficção científica nas histórias do Monstro do Pântano, de uma forma nunca antes
trabalhada. O Monstro vai ao planeta Rann, enfrenta o Lanterna Verde do Setor
586, Medphyll, encara uma nave sapiente no melhor estilo de terror espacial que
possa ser lido e visto. Ele trabalha o personagem aprendendo a controlar seus
dons, se tornando totalmente sapiente de suas capacidades.
Ao retornar o Monstro tem total conhecimento de suas
capacidades e seus questionamentos são totalmente impressionantes, pois vemos
que mesmo ele sendo um dos seres mais poderosos do Universo DC, ele precisa se
conter, se abster de certas coisas, pois a humanidade não está preparada para
aceitá-lo e que esta precisa aprender a se virar sozinha.
Com esse contexto armado, ficamos com o trabalho dos
vários artistas que passam pelas páginas dessa obra prima. Desde Dan Day até
Tom Yeates, vemos o quanto eles tentam se complementar e tornar a obra mais
interessante. Temos momentos de total intensidade e terror, mas temos momentos
de apaziguamento e aprazia. É interessante como você pode deliciar-se com
alguns desenhos, mas também pode sentir asco e nojo em outros. John Totleben e
Steve Bissette são as melhores expressões do que eu escrevo. Seus trabalhos
junto ao Monstro do Pântano, ilustrando o roteiro de Alan Moore, faz com que
você ame e desgoste dos ambientes que eles colocam o personagem. A arte deles é
inteligível, pois a compreensão dos momentos é clara.
A única crítica que tenho para esse trabalho magnânimo é o
tratamento que a Panini Comics deu ao material. Possivelmente foi o mesmo
tratamento que a DC Comics dera nos Estados Unidos. Não critico o material
interno, pois possivelmente as folhas com brilho fariam a história perder seu
charme, mas sim a capa cartonada que pode sofrer amassos. Creio que uma capa
dura seria mais interessante para conservação do trabalho excelentemente
desenvolvido por Moore e os artistas que estiveram envolvidos nas 46 edições
(incluindo Swamp Thing Annual #2 (janeiro de 1985)) dessa obra prima.
A Saga do Monstro do Pântano, em toda a sua extensão não
possui falhas. As vezes tem um ritmo moroso, mas é um dos mais belos trabalhos
já desenvolvidos com esse personagem que tem um carisma muito especial.
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