Douglas Joker, do blog Ozymandias Realista, me pediu para
escrever um curto texto falando sobre um dos maiores clássicos dos quadrinhos
ocidentais, conhecido como divisor de águas entre a Era de Bronze e a Era de
Ferro dos quadrinhos (também conhecida como Era das Trevas ou como Era
Moderna), Watchmen. Sendo assim, com todo o prazer do mundo, tentarei fazer
esse texto curto.
Quando foi escrita e desenhada em 1986 por Alan Moore e Dave
Gibbons, a história trazia um assassino de vigilantes. Ele mata Edward Blake,
um vigilante conhecido com Comediante. Ele havia surgido na década de 1940 e,
de lá para cá, tornou-se um agente do governo dos Estados Unidos, agindo em
operações especiais no Vietnã e fazendo serviços escusos. Outro vigilante,
Rorschach, decide investigar a morte do imoral Vigilante e acredita que isso
tenha a ver com um antigo inimigo do grupo ao qual fazia parte, os Minutemen,
Moloch. Descobrindo que o buraco era mais fundo do que imaginava, Rorschach
procura seu antigo colega de equipe, o Coruja, para que ajude-o na
investigação. Tendo uma negativa, ele decide seguir com a própria forma de
obter informações, mas termina preso. Nesse meio tempo, Daniel Dreiberg, o
alter ego do Coruja, reencontra a colega de equipe Laurie Juspeczyk, também
conhecida como Espectral, que busca uma vida diferente da que vive com o Dr.
Manhattan, um ser incrivelmente poderoso.
Laurie e Dan têm vários encontros e chegam a – quase – ter
relações, mas quando descobrem que Rorschach foi pego pela polícia e acusado
pela morte de Moloch, eles decidem ir em busca de resgatar o companheiro.
Nisso, ambos salvam pessoas de um prédio em chamas e a adrenalina do salvamento
incendia o clima entre ambos. Eles salvam Rorschach e partem para uma
investigação mais profunda e descobrem que tudo tem a ver com outro antigo
colega de equipe, Ozymandias. Antes disso, Dan chegou a procurar Adrian Veidt,
o alter ego de Ozymandias, para coloca-lo a par da teoria de Rorschach. Adrian
tornou-se um megaempresário vendendo produtor ligados aos Minutemen e o perfume
Nostalgia. Seu tino para os negócios vem da sua supra inteligência, que ele
usou não somente para o combate ao crime, mas também para conseguir tudo o que
desejava.
Antes de partirem atrás de Ozymandias, Laurie é visitada
pelo Dr. Manhattan que a leva para Marte, onde ele construíra um palácio de
vidro e lá explica que nada do que eles possam vir a fazer terá solução, pois
eles estão fadados ao fracasso, sempre. Que tudo é momentâneo, nenhuma vitória
é definitiva. Enquanto isso, Coruja e Rorschach partem para o Ártico, onde
Ozymandias tem uma base e iniciou um ataque monumental, arquitetado por ele
durante anos. Para esse ataque, Adrian contratou as maiores mentes do mundo e
fez com que construíssem um monstro com aspectos alienígenas. Ele então decidiu
soltar o monstro no centro comercial de Nova York, destruindo tudo e dando uma
nova ordem mundial onde a paz seria estabelecida.
Bem, esse enredo confuso que coloquei antes da minha análise
pega somente pequenos meandros do que é a história em um todo. Watchmen se
tornou um fenômeno por mostrar os heróis, que mais são pessoas comuns que usam
fantasias – com grande exceção para o Dr. Manhattan – que decidiram que
poderiam fazer mais do que somente ver crime acontecendo. Alguns surgiram pela
necessidade, outros surgiram por motivos estritamente comerciais. Alguns usavam
sua alta capacidade de imaginação – e de condições financeiras – para conseguir
ir além. Eram pessoas cansadas da monotonia do dia-a-dia ou cansados de ver
injustiças.
Isso torna Watchmen um fenômeno especial, pois vai além dos
superpoderes que geralmente vemos em revistas da DC Comics e da Marvel Comics –
as duas principais da época –, pois o que move os personagens não são poderes
incríveis, mas sim sua vontade de fazer a diferença. Eles são heróis, como um
bombeiro que socorre uma pessoa em um incêndio ou um policial que corre riscos
para salvar outros de bandidos. Eles são queridos ou odiados, pois nem todos os
querem resolvendo seus problemas.
Uma das coisas que percebemos, também, é que Alan Moore
busca nos mostrar como seria o mundo influenciado por eles. Como seria os
Estados Unidos se o Dr. Manhattan tivesse participado da guerra do Vietnã? Se
ele tivesse influenciado o desenvolvimento do mundo, nossas fontes de energia,
nossa política – principalmente dos Estados Unidos, já que Nixon ainda continua
sendo presidente na década de 1980.
Não vemos esses aspectos em outros quadrinhos, mas esse tipo
de ação sempre foi algo que Moore trabalhou na sua época escrevendo para a
publicação inglesa Warrior, como foi o caso de “V de Vingança”, onde uma
sociedade distópica é comandada por uma máquina, que mudou tudo até um rebelde
anárquico decide destruir tudo. No caso de Watchmen, vemos um homem
extremamente inteligente vendo a paz na destruição e usando dessa forma para
conseguir seu objetivo, não importando com quantas vidas sejam perdidas, desde
que a humanidade fique em paz.
Watchmen mudou a forma de se ver os quadrinhos como
aventuras superheróicas, mudou a forma de se olhar para os heróis somente como
salvadores e também criou questionamentos de como seria nossa vida com suas
interferências. Tá, alguns poderão falar que a Marvel Comics já havia criado
super-heróis que não eram aceitos pela a humanidade, mas uma questão que nunca
se pensou era: eles resolvem mesmo as coisas? Eles criam situações definitivas?
Eles são super-heróis? Sem contar que – mencionando novamente –, com exceção de
Dr. Manhattan que está mais para um deus do que um super-herói, todos são
heróis fantasiados. Sim, estou sendo repetitivo, mas é Watchmen, ou seja, uma
história que nos mostra heróis fantasiados.
Desculpe, Douglas Joker, mas é bem complexo falar de Watchmen e
ser breve. O que me entristece foram as tentativas de revitalizar essa
obra-prima com Antes de Watchmen. Mesmo com talentosos roteiristas e
desenhistas, foi frustrante, pois não captou toda a essência da obra. Bem como
o filme de 2009, com roteiro de Alex Tsé e David Hayter e direção de Zack
Snyder, que mesmo na sua versão estendida não consegue nem a metade da
representação da minissérie que revolucionou o mundo dos quadrinhos e continua
sendo uma das melhores obras já realizadas.
Watchmen completa 30 anos de publicação e continua sendo
algo único e absoluto.
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