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terça-feira, 6 de outubro de 2015

RESENHA HQ: O Perfuraneve (Le Transperceneige)

O PERFURANEVE (Le Transperceneige)

o-perfura-neveRoteiristas: Jacques Lob, Bejamin Legrand

Desenhos: Jean Marc Rochette

Editora: Casterman (US: Titan Comics / BR: Aleph)

Ano: 1982 (US: 2014 / BR: 2015)

Pág.: 280

A primeira história começa com o mega trem de turismo conhecido como “Perfuraneve”, que salvou parte da humanidade após um cataclismo que nos levou de volta a Era Glacial. O trem divide os grupos em Comboios, sendo que o Terceiro Combios, os “fundistas”, são as pessoas que entraram por último no trem e ficaram no final deste, sendo execrados pelo restante dos habitantes do Perfuraneve, principalmente os militares, que os tratam como escória. As coisas aparentam mudar quando um desses fundistas, Proloff, adentra no Segundo Comboio e é interceptado por um dos guardas que o espanca. Achando que ele pode ter alguma doença, o isolam, mas uma jovem que faz parte do Grupo de Ajuda ao Terceiro Comboio, Adeline Belleau, termina entrando em contato com ele, o que acarreta em sua prisão, também. Após serem assepsiados, ambos são levados em direção aos vagões frontais, passando por vários setores e conhecendo um pouco da comunidade que habita o Perfuraneve. Só que sua passagem ocasiona em fatos que podem levar a extinção dos habitantes do Perfuraneve.

Na segunda e terceira histórias, conhecemos os habitantes do segundo trem de passageiros, o “Desbrava-Gelo”. Este é um trem bem maior que o Perfuraneve e possui um contingente maior de pessoas, que trabalham em integridade para o melhor funcionamento do trem. Quando o trem inicia o processo de frenagem, causa um enorme caos entre os moradores do Desbrava-Gelo, ocasionando a morte de vários. Um dos sobreviventes é Puig Vallés, que se torna um explorador. Os exploradores descem do trem durante a frenagem para conhecer o ambiente que o Desbrava-Gelo passa. Durante uma dessas expedições, a câmera do capacete de Puig não funciona e ele é preso e termina conhecendo a filha do Conselheiro Kennel, Val Kennel. Como punição, enviam Puig em uma missão suicida, na qual seria impossível o retorno, mas ele volta e se torna um herói, pois avisa às pessoas do Desbrava-Gelo que uma ponte está caída, possibilitando a frenagem para um conserto da ponte e tornando-o membro do Conselho. Os acontecimentos de sua prisão até se tornar herói e membro do Conselho, revoltam o grupo intitulado Alienistas, cujo líder Metronômo crê que eles estão em uma nave espacial e que precisa provar, de alguma forma, isso para todos, nem que precise destruir a nave. Encarando terrorismo, complôs, revoltas e tentativas de denegrir seu nome, Puig precisa mostrar seu valor e que se importa com a sobrevivência de todos.O Perfuraneve

Como eu pensei que seria, o filme “Expresso do Amanhã” (Snowpiecer, 2013) é bem diferente da história que nos conta esse encadernado das três histórias criadas na França entre os anos de 1982 e 2000.

A primeira história, cujo título é “O Perfuraneve”, começou a ser escrita pelo escritor Dominique “Alexis” Vallet (1946-1977), em 1977, mas terminou finalizada pelo seu colega – e parceiro na obra Superdupont – Jacques Lob (1932-1990) e desenhada pelo pintor Jean-Marc Rochette. Após o falecimento de Lob em 1990, duas novas histórias foram escritas por Benjamin Legrand, L’Arpenteur e La Traversée, dando continuidade a esse universo extensamente rico.

O caráter de valor dessas três histórias dá mais conteúdo a tudo que se conhece de ficção científica. Explora um ambiente novo quanto a cataclismos globais. Percebe-se que a ideia não se iniciou com “O Dia Depois de Amanhã” (The Day After Tomorrow, 2004), mas sim com “O Perfuraneve”.L'Arpenteur

Outro trabalho bem explorado em todas as histórias são as divisões de classes e ideais que todas possuem. A primeira, mesmo que sejam somente mostradas em lembranças do personagem Proloff, mostra que os Fundistas são pessoas que vivem cada momento como se fosse – possivelmente – o último. São doentes, suicidas, pessoas nas quais os outros poucos se importam, a não ser um grupo em particular. Já nas histórias cujo personagem principal é Puig Vallés, a classe trabalhadora do segundo trem é a menos favorecida, mesmo que seja a mais importante. Ela faz tudo pelo trem, desde sair na neve para explorar o ambiente inóspito que se tornou a Terra até proteger e servir, desde que mantenha a “classe favorecida” bem e se sentindo segura. Mesmo que as vezes não pareça haver diferença, ela está nas formas com as coisas agem dentro do trem, já que a classe trabalhadora precisa ganhar sorteios para poder fazer viagens virtuais, criadas para o entretenimento de todos, enquanto os outros podem fazer as viagens quando bem desejarem.

Diferente do filme de Bong Joon-Ho, que explora a utopia e a distopia, “O Perfuraneve” explora a divisão de classes, como se fossem espécies diferentes vivendo no mesmo ambiente, mesmo que sejam todos humanos.

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