No dia 03/03/2016, a Sony/Columbia Pictures lançaram o
primeiro trailer do filme “As Caça-Fantasmas”, que estreia em julho de 2016, e
muitas foram as críticas positivas e negativas quanto ao trailer, mas aí eu me
pergunto: o novo substitui o que é antigo?
Bem, nos quadrinhos vemos sempre renovações de personagens,
atualizações de suas histórias e suas cronologias, tanto que as pessoas
insistem em dizer que “não existe mais cânone” (isso é assunto para outra
análise). Isso também ocorre em filmes, seriados e animações – PRINCIPALMENTE
em animações. A onda de remakes não é
de hoje, seu começo vem desde que alguém decidiu refilmar algum filme ou série
clássica, então sempre veremos novas ideias sendo inseridas em antigos
conceitos.
No caso do filme que estreará, vê-se que pelo começo do
trailer será mantido o respeito ao Caça-Fantasmas clássicos, somente criando
uma nova geração, formada por mulheres. Não tentarão “feminilizar” Egon
Spengler, Peter Venkman, Ray Stantz e Winston Zeddmore, mas sim incluirão novas
cientistas e uma atendente de caixa de metrô.
Pelo que deu a entender do trailer, elas seguirão o que fora
deixado pelos Caça-Fantasmas há trinta anos, a sede de conhecimento e a vontade
de armazenar espíritos, poltergeists, assombrações e demônios, prendê-los para
Que não possam atormentar mais ninguém, isso se chama
legado.
Tá, to trabalhando esse conceito para os quadrinhos da DC
Comics, mas a ideia serve para os filmes também. Vejamos como exemplo o remake de “As Panteras” (2000).
Natalie Cook, Dylan Sanders e Alex Munday – personagens de
Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, respectivamente – não tentaram
substituir a série do canal ABC, mas sim dar sequência ao que suas antecessoras
fizeram antes, nos anos de 1970-1980. Natalie, Dylan e Alex eram sucessoras de
Kelly Garrett (Jaclyn Smith), Kris Munroe (Cheryl Ladd), Sabrina Duncan (Kate
Jackson), Jill Munroe (Farrah Fawcett), Tiffany Welles (Shelley Hack) e Julie
Rogers (Tanya Roberts), ou seja, eram mulheres escolhidas pelo misterioso
Charlie Towsend (John Forsythe) para ajudar àqueles que contratavam a Towsend
Agency. O filmes tiveram um sucesso moderado – sim, “As Panteras” teve uma
continuação intitulado “As Panteras: Detonando” (2003) –, mas a tentativa de
levá-las de volta a TV, em um clima mais sério, foi um grande fracasso.
Mas lógico que cinema e TV não vivem de tentativas de
continuidade, mas busca-se sim substituição, como no caso de “Esquadrão Classe
A”.
“Esquadrão Classe A” foi uma série de enorme sucesso no
canal de TV NBC durante os anos de 1983 e 1987. Nela mostrava um grupo de
soldados que foram incriminados injustamente e enquanto buscam provar sua
inocência se tornam soldados da fortuna, aceitando qualquer tipo de trabalho.
Hannibal, Templeton, B.A. e Murdock encaram seitas, organizações criminosas,
cartéis, sempre construindo artefatos com meras peças e veículos.
Em 2010, a Twentieth Century Fox leva o “Esquadrão Classe A”
aos cinemas, atualizando a história dos personagens e mantendo seus nomes. Hannibal
(Liam Neeson), Templeton (Bradley Cooper), B.A. (Quinton Jackson) e Murdock
(Sharlto Copley) são acusados de um assassinato e buscam provar sua inocência,
mas percebem que os problemas são maiores e exigem um plano bem além daqueles
que estão acostumados. O filme fez um sucesso morno, mas infelizmente, com sua
folha de pagamento astronômica (Liam Neeson já era um ator hiper-super
conhecido, Bradley Cooper se tornara conhecido pela série Alias e pelo filme
“Se Beber, Não Case” e Sharlto Copley vinha do sucesso “Distrito 9”), não
conseguiu se pagar.Outro caso de substituição ocorreu com uma das séries de
ficção científica de maior sucesso dos cinemas e da TV, Jornadas nas Estrelas –
Star Trek.
No ano de 1966 o escritor Gene Rodenberry iniciou a saga da
Enterprise NCC-1701, que singrava pelo espaço tendo o Capitão James T. Kirk
(William Shatner) como comandante, ladeado pelo primeiro oficial Spock (Leonard
Nimoy), o Oficial Médico-Chefe Leonard “Magro” McCoy (DeForest Kelley), a
Oficial-Chefe de Comunicações Nyota Uhura (Nichelle Nichols), o Oficial do Leme
Hikaru Sulu (George Takei), o Alferes Pavel Chekov (Walter Koenig) e o
Engenheiro-Chefe Montgomery Scott (James Doohan). A série original somente teve
três temporadas, mas seus filmes renderam novas séries, novas viagens e um
número infindável de fãs trekkers.
Em 2009, os roteiristas Roberto Orci e Alex Kurtzman pegaram
a ideia de Rodenberry e, buscando manter o respeito pela saga clássica, criaram
um universo paralelo, onde eventos e acontecimentos ocorrem de forma diferente.
“Star Trek”, o primeiro filme da nova franquia, nos traz James T. Kirk (Chris
Pine) buscando se tornar comandante de sua primeira nave espacial, mas termina
barrado ao trapacear em um teste gerado pelo sub-oficial vulcano Spock (Zachary
Quinto). Spock se torna primeiro oficial da Enterprise NCC-1701, comandada pelo
Capitão Christopher Pike (Bruce Greenwood). Na nave estão o inexperiente piloto
Hikaru Sulu (John Cho), o jovem Alfreres Pavel Chekov (Anton Yelchin), a
navegadora Nyota Uhura (Zoe Saldana) e o oficial-médico Leonard “Magro” McCoy,
amigo de Kirk. McCoy decide levar Kirk na Enterprise e este demonstra ser de
extrema ajuda quando eles encaram Nero (Eric Bana), um mineiro romulano que
viaja no tempo na intenção de alterá-lo ao assassinar os vulcanos, ou seja, é
Nero o responsável pela criação dessa nova linha temporal.
A aceitação do filme foi impressionante e instantânea. Mas
isso porque os roteiristas e o diretor J.J. Abrams souberam respeitar o
clássico, sem tentar interferir nele. Ele continua existindo, mas em outra
realidade, em outro momento, pois o que testemunhamos nesse filme e em suas
continuações – ele teve uma continuação em 2013, “Além da Escuridão – Star
Trek”, e já tem uma nova para estrear em 21 de julho de 2016 no Brasil, “Star
Trek: Sem Fronteiras” – uma nova realidade e uma nova visão.
Mas muito das dificuldades de se aceitar o novo não vem, as
vezes, da qualidade do material, mas sim dos fãs de determinado material. Um
exemplo é a série “Super-Máquina”.
Entre os anos de 1982 e 1986, o canal de TV NBC transmitiu a
série Kight Rider, onde um combatente do crime conhecido como Michael Knight
(David Hasselhoff) tem um carro super-equipado e com IA (Inteligência
Artificial) chamado K.I.T.T. (Knight Industries Two Thousand). A série tentou
ser revivida várias vezes, com vários filmes para a TV, mas nenhum foi em
frente. Em 2008, o canal de TV NBC
investiu sério em uma nova série da “Super-Máquina”. K.I.T.T. deixava de ser
Pontiac Trans Am 1982 para ganhar robustez e potência em um Shelby GT500KR
Mustang. Seu piloto é o jovem Mike Traceur (Justin Bruening), filho perdido de
Michael Knight, e ex-noivo de Sarah Graiman (Deanna Russo), filha de Charles
Graiman (Bruce Davison), desenvolvedor dos K.I.T.T.’s.
A série era intrigante, respeitava o legado deixado pela
anterior, tinha ação bem desenvolvida, bons atores, mas devido a uma pequena
queda – quase insignificante – a NBC cancelou após cinco episódios lançados.
Bem, retornando a questão de “As Caça Fanstasmas”, pode ser
que não seja um sucesso, mas muito do que vemos são pessoas que estão presas ao
antigo. O filme não demonstra que tentará substituir o antigo, mas sim dará
sequência ao que este deixou.
Não vejo o que seja novo como uma substituição do antigo,
mas sim como uma possível revitalização. Às vezes dá certo e – na grande
maioria, como podemos ver – as vezes não.
Não tornemo-nos fixados demais no passado, pois podemos
estar perdendo oportunidades de testemunharmos revitalizações que podem ser
importantes para o futuro. Tivemos isso com “As Panteras” – mesmo que não tenha
agradado a todos –, tivemos isso com “Esquadrão Classe A” – mesmo que não tenha
sido sucesso de bilheteria – e tivemos isso com “Star Trek” – tremendo sucesso
que revitalizou a franquia, dando até suporte para uma revitalização na TV. Por
que não poderemos ter isso com “As Caça Fantasmas”, que não buscam substituir
Egon, Peter, Ray e Winston, mas si dar continuidade ao que eles construíram –
tá, ficou meio repetitivo, mas é a verdade dos fatos.
Curtam, admirem e guardem nas lembranças o que é clássico –
se possível, reassista milhares e milhares de vezes –, mas não dê as costas
para o que é novo, pois – as vezes – pode te agradar.
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