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domingo, 17 de abril de 2016

De alma lavada!

Eu pretendo fazer um especial sobre Convergência, falar sobre a história, o que achei dela, do que gostei, do que achei interessante e tal, mas antes tenho de falar sobre a primeira história de “Convergência: Superman”, que conta sobre o Último Filho de Krypton, sobre o Escoteirão, sobre o primeiro dos grandes super-heróis que se tem notícia. Podem surgir spoilers, então cuidado.
Antes dele não existia outro, depois dele surgiram milhares e milhões de super-poderosos.
A história conta sobre o Superman pós-Crise Infinita, pré-Ponto de Ignição. Antes de Ponto de Ignição, depois de Crise nas Infinitas Terras, tivemos três Supermen, por incrível que pareça, mas as diferenças estavam em suas histórias de origem e não em quem ele era.
Depois de Crise nas Infinitas Terras, Superman (Kal-El ou Clark Kent) era um embrião colocado em uma nave de um planeta estéril e em extinção. Cresceu dentro da nave e foi encontrado pelo casal Jonathan e Martha Kent em um local descampado em Smallville. Ele cresceu sem poderes e quando atingiu a puberdade aprendeu a voar. Não conhecida seu lugar no mundo, então decidiu viajar por ele. Fez universidade, onde conheceu Lori Lemaris, e quando estava em Metrópolis, testemunhou o voo de um ônibus espacial especial que sofreu uma pane e ele os salvou. A partir daí, quando a repórter Lois Lane, que estava dentro do ônibus espacial, o nomeou como Superman, ele descobriu que tinha um destino, uma meta a seguir. Sua mãe lhe fez um traje que ele usou durante anos, até 2011. O traje era um colante, pois Martha percebera que os tecidos quando ficavam em contato direto com a pele de Clark, não se rasgavam, por isso ela se preocupava com a capa. Clark então voltou a Metrópolis, mas dessa vez como um repórter que conseguiu uma exclusiva com o Superman, o que causou uma revolta em sua colega de jornal, Lois Lane. Depois os dois foram convidados para um passeio no iate do multimilionário Lex Luthor, que submeteu todos seus convidados a um sequestro pirata, mas foram salvos por Superman. Achando que o Homem-de-Aço era corruptível, Luthor tenta contrata-lo, mas em vão. Então surgiu uma rixa imemoriável. Esse contexto foi o começo de uma nova Era de Heróis da DC Comics, iniciado por John Byrne.
Depois da saga Zero Hora, parte desse contexto foi alterado drasticamente. Começa que Lex e Clark chegaram a ser conhecer na adolescência, quando o pai de Luthor o mandou para Smallville. Os pais de Kal-El, Jor-El e Lara, não o mandaram ainda um embrião, mas sim uma criança nascida a pouco tempo. Seu planeta não era estéril, mas produtivo. Também no novo contexto conhecemos mais sobre a viagem de Clark pelo mundo, sendo que não foi somente um acidente de ônibus espacial que levou-o a se tornar o Superman, mas vários acontecimentos que ele testemunhou durante sua viagem, percebendo que, as vezes, um Superman pode fazer a diferença. Mas sua história com Lois Lane não mudou, pois antes de Zero Hora os dois haviam se casado. Clark revelou a Lois sua identidade secreta e, antes dele “morrer” encarando o Apocalypse, eles ficaram noivos.
O casamento aconteceu após o retorno do Superman, pois Clark havia sido “substituído” por Matriz, que morava com os Kent, mas ainda não sabia o que fazer de sua vida. Quando Superman retornou, foi difícil tirar Matriz do papel de Clark, mas conseguiram. Clark e Lois tiveram uma crise, pois ele não se achava pronto para ser o marido que ela esperava, pois estava perdendo os poderes, mas passada a crise, eles se casaram e foi um dos momentos mais celebrados dos quadrinhos, pois foram quase 60 anos de romance, já que a chama já existia desde Action Comics #1 e nunca deixou de existir. Mesmo    quando dividiram a DC Comics em um multiverso, ambas as versões do Superman – da Terra-1 e da Terra-2 – tinham uma Lois Lane em sua vida. O Clark da Terra-2, mais velho, se casara com sua Lois Lane e era chefe do Planeta Diário, o da Terra-1 ainda sofria com Lois ser apaixonada pelo seu alter-ego e não por ele. Terminou essa fase graças a Crise e tudo mudou e eles se casaram.
Não era fácil para ambos, mas o amor sempre era maior e mais forte. Lois passou por vários problemas, mas ela sabia que podia sempre contar com Clark. Mesmo depois de Crise Infinita, onde Superboy Prime socou o tecido da realidade e despedaçou e, mais uma vez, a realidade do Superman foi alterada. Sua chegada de Krypton ainda era a mesma, mas na idade pré-adolescente ele usou um uniforme e foi o Superboy durante um tempo, mas ainda permanecia casado com Lois, que mesmo que essa preferisse ser chamada de Sra. Lane (sim, era seu nome “artístico”).
Então os infelizes editores-chefes e chefe criativo da DC Entertainment acharam que o casamento não valia de nada. Foram 15 anos de casamento jogados pela janela, pois eles queriam o Superman solteiro – não somente ele, mas outros também, mas isso é história para outra oportunidade –, sem nenhuma ligação romântica com Lois Lane. Na verdade, sem nenhuma ligação com o Planeta Diário em si. Ele praticamente ignorava seu lado humano e passava mais tempo como Superman. Para piorar, ele estava tendo um caso com a Mulher-Maravilha.
Bem, tem aqueles que acham isso plausível, pois ele é um super-homem e ela é uma mulher com dons de deuses, então seria ideal os deuses serem um par. Só que isso quebra TOTALMENTE o mito do super-homem buscando seu lado humano ao se apaixonar por uma humana.
Kal-El veio de um planeta que estava em extinção, foi criado por um casal de fazendeiros e aprendeu que seu lado humano é mais importante que seu lado super, que ele não é melhor que ninguém – mesmo que seja – somente por ter super-poderes. Ele foi criado por humanos, viveu cercado de humanos e a primeira vez que viu Lois, se apaixonou por ela, por sua força, por sua determinação, por sua vontade de ser melhor do que qualquer outro. Ela era uma humana que tinha essas qualidades, sem ter super-poderes. Kal-El ganhou de seus pais o nome Clark Kent (Clark era o sobrenome de solteira de Martha), e de Lois Lane o nome de Superman. Seus pais biológicos somente se tornaram de seu conhecimento anos depois dele crescer, anos depois dele ser criado pelo gentil casal de fazendeiros.
Mesmo em 1938, quando ele surgiu na Action Comics #1, seu lado humano contava para ele estar próximo de Lois Lane, mesmo que precisasse se transformar em Superman para salva-la. Lois e Clark são um casal tão clássico quanto Diana e Fantasma ou Lorna Darne e Flash Gordon. Eles são históricos, clássicos, um casal fora do comum exatamente por serem como são.
Por que tanta ladainha para falar sobre Lois e Clark? Bem, voltando a edição “Convergência: Superman”, a primeira história mostra o casal preso em Gotham pré-Ponto de Ignição. Clark – como todos os super-heróis – perdeu seus poderes, mas ainda deseja fazer o bem, pois é difícil perder velhos hábitos e, com isso, ele conta com Lois o monitorando a distância. Quando o domo cai e seus poderes retornam, ele vence os marginais e volta para casa, onde encontra Lois... grávida. Eles passam um tempo juntos, antes que ele parta para o desafio de encarar os heróis de Ponto de Ignição: Capitão Trovão, Cyborg e Abin Sur. O lance é que um obcecado Kal-El – também conhecido como Projeto Um – acredita que a Lois de Clark é a mesma que cuidou dele quando foi liberdade de seu cativeiro e terminou morta na sua frente. Ele então rapta Lois e a leva à caverna do Batman de Ponto de Ignição, ou melhor, Dr. Thomas Wayne. Após lutar bravamente contra os três heróis e derrota-los, Superman retorna para sua Gotham e encontra seu apartamento vazio, mas Abin Sur o segue e descobre a verdade sobre o bravo super-herói e conta o que pode ter acontecido, explicando a situação de seu planeta. Superman então voa até a caverna do Batman e lá encontra sua Lois prestes a entrar em trabalho de parto e, com a ajuda de Dr. Thomas Wayne, nasce Jonathan Samuel Kent, em uma clara homenagem ao pai de Clark e ao pai de Lois.

Ler esta história me fez lavar a alma, pois eu sempre desejei ver um ponto decisivo para Clark e Lois, pois eles precisavam. Eles precisavam de um futuro, de algo mais do que um fim sem motivo, sem explicação. Simplesmente as pessoas responsáveis pela DC Comics nos deram... nada.
Mesmo que Convergência seja somente um momento de mudanças para a DC Entertainment, significou muito ler essa história. Não somente por ver Lois e Clark juntos, mas por ver o verdadeiro Superman dos quadrinhos.

Tô nem aí quem não goste desse Superman. Ele é absolutamente como tem de ser, heroico, um verdadeiro símbolo do super-herói de verdade. Sua história pode ter se modificado no decorrer dos tempos, mas ele sempre manteve sua integridade, sempre foi uma pessoa que não estava acima de todos por causa de seus poderes, mas por ser uma pessoa que defendia seus princípios, era nobre. Não era inocente, mas também não perdia a virtude, algo que aprendera com os pais e que carregava consigo para onde fosse. Esse é o verdadeiro Superman, em absoluto. 

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