Eu pretendo fazer um especial sobre Convergência, falar
sobre a história, o que achei dela, do que gostei, do que achei interessante e
tal, mas antes tenho de falar sobre a primeira história de “Convergência:
Superman”, que conta sobre o Último Filho de Krypton, sobre o Escoteirão, sobre o primeiro dos grandes
super-heróis que se tem notícia. Podem surgir spoilers, então cuidado.
Antes dele não existia outro, depois dele surgiram milhares
e milhões de super-poderosos.
A história conta sobre o Superman pós-Crise Infinita, pré-Ponto
de Ignição. Antes de Ponto de Ignição, depois de Crise nas Infinitas Terras,
tivemos três Supermen, por incrível que pareça, mas as diferenças estavam em
suas histórias de origem e não em quem ele era.
Depois de Crise nas Infinitas Terras, Superman (Kal-El ou
Clark Kent) era um embrião colocado em uma nave de um planeta estéril e em
extinção. Cresceu dentro da nave e foi encontrado pelo casal Jonathan e Martha
Kent em um local descampado em Smallville. Ele cresceu sem poderes e quando
atingiu a puberdade aprendeu a voar. Não conhecida seu lugar no mundo, então
decidiu viajar por ele. Fez universidade, onde conheceu Lori Lemaris, e quando
estava em Metrópolis, testemunhou o voo de um ônibus espacial especial que
sofreu uma pane e ele os salvou. A partir daí, quando a repórter Lois Lane, que
estava dentro do ônibus espacial, o nomeou como Superman, ele descobriu que
tinha um destino, uma meta a seguir. Sua mãe lhe fez um traje que ele usou
durante anos, até 2011. O traje era um colante, pois Martha percebera que os
tecidos quando ficavam em contato direto com a pele de Clark, não se rasgavam,
por isso ela se preocupava com a capa. Clark então voltou a Metrópolis, mas
dessa vez como um repórter que conseguiu uma exclusiva com o Superman, o que
causou uma revolta em sua colega de jornal, Lois Lane. Depois os dois foram
convidados para um passeio no iate do multimilionário Lex Luthor, que submeteu
todos seus convidados a um sequestro pirata, mas foram salvos por Superman.
Achando que o Homem-de-Aço era corruptível, Luthor tenta contrata-lo, mas em
vão. Então surgiu uma rixa imemoriável. Esse contexto foi o começo de uma nova
Era de Heróis da DC Comics, iniciado por John Byrne.
Depois da saga Zero Hora, parte desse contexto foi alterado
drasticamente. Começa que Lex e Clark chegaram a ser conhecer na adolescência,
quando o pai de Luthor o mandou para Smallville. Os pais de Kal-El, Jor-El e
Lara, não o mandaram ainda um embrião, mas sim uma criança nascida a pouco
tempo. Seu planeta não era estéril, mas produtivo. Também no novo contexto
conhecemos mais sobre a viagem de Clark pelo mundo, sendo que não foi somente
um acidente de ônibus espacial que levou-o a se tornar o Superman, mas vários
acontecimentos que ele testemunhou durante sua viagem, percebendo que, as
vezes, um Superman pode fazer a diferença. Mas sua história com Lois Lane não
mudou, pois antes de Zero Hora os dois haviam se casado. Clark revelou a Lois
sua identidade secreta e, antes dele “morrer” encarando o Apocalypse, eles
ficaram noivos.
O casamento aconteceu após o retorno do Superman, pois Clark
havia sido “substituído” por Matriz, que morava com os Kent, mas ainda não
sabia o que fazer de sua vida. Quando Superman retornou, foi difícil tirar
Matriz do papel de Clark, mas conseguiram. Clark e Lois tiveram uma crise, pois
ele não se achava pronto para ser o marido que ela esperava, pois estava
perdendo os poderes, mas passada a crise, eles se casaram e foi um dos momentos
mais celebrados dos quadrinhos, pois foram quase 60 anos de romance, já que a
chama já existia desde Action Comics #1 e nunca deixou de existir. Mesmo quando dividiram a DC Comics em um
multiverso, ambas as versões do Superman – da Terra-1 e da Terra-2 – tinham uma
Lois Lane em sua vida. O Clark da Terra-2, mais velho, se casara com sua Lois
Lane e era chefe do Planeta Diário, o da Terra-1 ainda sofria com Lois ser
apaixonada pelo seu alter-ego e não por ele. Terminou essa fase graças a Crise
e tudo mudou e eles se casaram.
Não era fácil para ambos, mas o amor sempre era maior e mais
forte. Lois passou por vários problemas, mas ela sabia que podia sempre contar
com Clark. Mesmo depois de Crise Infinita, onde Superboy Prime socou o tecido
da realidade e despedaçou e, mais uma vez, a realidade do Superman foi
alterada. Sua chegada de Krypton ainda era a mesma, mas na idade
pré-adolescente ele usou um uniforme e foi o Superboy durante um tempo, mas
ainda permanecia casado com Lois, que mesmo que essa preferisse ser chamada de
Sra. Lane (sim, era seu nome “artístico”).
Então os infelizes editores-chefes
e chefe criativo da DC Entertainment acharam que o casamento não valia de nada.
Foram 15 anos de casamento jogados pela janela, pois eles queriam o Superman
solteiro – não somente ele, mas outros também, mas isso é história para outra
oportunidade –, sem nenhuma ligação romântica com Lois Lane. Na verdade, sem
nenhuma ligação com o Planeta Diário em si. Ele praticamente ignorava seu lado
humano e passava mais tempo como Superman. Para piorar, ele estava tendo um
caso com a Mulher-Maravilha.
Bem, tem aqueles que acham isso plausível, pois ele é um
super-homem e ela é uma mulher com dons de deuses, então seria ideal os deuses
serem um par. Só que isso quebra TOTALMENTE o mito do super-homem buscando seu
lado humano ao se apaixonar por uma humana.
Kal-El veio de um planeta que estava em extinção, foi criado
por um casal de fazendeiros e aprendeu que seu lado humano é mais importante
que seu lado super, que ele não é melhor que ninguém – mesmo que seja – somente
por ter super-poderes. Ele foi criado por humanos, viveu cercado de humanos e a
primeira vez que viu Lois, se apaixonou por ela, por sua força, por sua
determinação, por sua vontade de ser melhor do que qualquer outro. Ela era uma
humana que tinha essas qualidades, sem ter super-poderes. Kal-El ganhou de seus
pais o nome Clark Kent (Clark era o sobrenome de solteira de Martha), e de Lois
Lane o nome de Superman. Seus pais biológicos somente se tornaram de seu
conhecimento anos depois dele crescer, anos depois dele ser criado pelo gentil
casal de fazendeiros.
Mesmo em 1938, quando ele surgiu na Action Comics #1, seu
lado humano contava para ele estar próximo de Lois Lane, mesmo que precisasse
se transformar em Superman para salva-la. Lois e Clark são um casal tão
clássico quanto Diana e Fantasma ou Lorna Darne e Flash Gordon. Eles são
históricos, clássicos, um casal fora do comum exatamente por serem como são.
Por que tanta ladainha para falar sobre Lois e Clark? Bem,
voltando a edição “Convergência: Superman”, a primeira história mostra o casal
preso em Gotham pré-Ponto de Ignição. Clark – como todos os super-heróis –
perdeu seus poderes, mas ainda deseja fazer o bem, pois é difícil perder velhos
hábitos e, com isso, ele conta com Lois o monitorando a distância. Quando o
domo cai e seus poderes retornam, ele vence os marginais e volta para casa,
onde encontra Lois... grávida. Eles passam um tempo juntos, antes que ele parta
para o desafio de encarar os heróis de Ponto de Ignição: Capitão Trovão, Cyborg
e Abin Sur. O lance é que um obcecado Kal-El – também conhecido como Projeto Um
– acredita que a Lois de Clark é a mesma que cuidou dele quando foi liberdade
de seu cativeiro e terminou morta na sua frente. Ele então rapta Lois e a leva
à caverna do Batman de Ponto de Ignição, ou melhor, Dr. Thomas Wayne. Após
lutar bravamente contra os três heróis e derrota-los, Superman retorna para sua
Gotham e encontra seu apartamento vazio, mas Abin Sur o segue e descobre a
verdade sobre o bravo super-herói e conta o que pode ter acontecido, explicando
a situação de seu planeta. Superman então voa até a caverna do Batman e lá
encontra sua Lois prestes a entrar em trabalho de parto e, com a ajuda de Dr.
Thomas Wayne, nasce Jonathan Samuel Kent, em uma clara homenagem ao pai de
Clark e ao pai de Lois.
Ler esta história me fez lavar a alma, pois eu sempre desejei
ver um ponto decisivo para Clark e Lois, pois eles precisavam. Eles precisavam
de um futuro, de algo mais do que um fim sem motivo, sem explicação.
Simplesmente as pessoas responsáveis pela DC Comics nos deram... nada.
Mesmo que Convergência seja somente um momento de mudanças
para a DC Entertainment, significou muito ler essa história. Não somente por
ver Lois e Clark juntos, mas por ver o verdadeiro Superman dos quadrinhos.
Tô nem aí quem não goste desse Superman. Ele é absolutamente
como tem de ser, heroico, um verdadeiro símbolo do super-herói de verdade. Sua
história pode ter se modificado no decorrer dos tempos, mas ele sempre manteve
sua integridade, sempre foi uma pessoa que não estava acima de todos por causa
de seus poderes, mas por ser uma pessoa que defendia seus princípios, era
nobre. Não era inocente, mas também não perdia a virtude, algo que aprendera
com os pais e que carregava consigo para onde fosse. Esse é o verdadeiro
Superman, em absoluto.
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