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segunda-feira, 2 de julho de 2018

RESENHA HQ: Jeremias: Pele

JEREMIAS: PELE


Roteiro: Rafael Calça
Arte: Jefferson Costa
Editora: Panini Comics
Ano: 2018
Páginas: 96


Eu estava com certa dificuldade para escrever uma resenha para essa Graphic MSP, pois receava escrever coisas equivocadas sobre essa obra e cometer injustiças, mas decidi que era melhor escrever e ver o que acontece.
Sim, "Jeremias: Pele" é uma obra. É a mais recente Graphic MSP e, escrita por Rafael Calça e desenhada por Jefferson Costa, ela traz a história do personagem Jeremias, que foi criado por Maurício de Sousa para integrar o grupo de amigos do Franjinha, na década de 1960. De lá para cá, Jeremias sempre participou como coadjuvante nas histórias da Turma da Mônica - acho que somente protagonizou uma história, mas posso estar enganado -, sendo membro da "Turma do Bermudão", quer é formado por ele, Franjinha, Titi e Manezinho. Sem muita enfase ao personagem e sem muito destaque nas histórias, Jeremias permaneceu meio que "jogado de lado" - lembra que eu mencionei que possivelmente ele teve uma história como protagonista - até a MSP +50, segunda edição publicada em comemoração aos 50 anos de profissão do Maurício de Sousa. O artista André Diniz se responsabilizou, que usou seu estilo todo único para o contexto, deixando o Jeremias participar dessa maravilhosa homenagem ao seu criador. Mas eu vejo isso como algo para não deixar passar em branco, já que Jeremias é um dos primeiros personagens do universo criado por Maurício de Sousa.
Não estou dizendo que Maurício ou sua produtora de quadrinhos sempre deixou Jeremias para escanteio propositalmente, mas com a infinidade de personagens protagonistas para dar relevância, deve ter sido complicado pensar em uma história para dar destaque a ele. Mas graças a um conceito desenvolvido e criado por Maurício de Sousa e o produtor Sidney Gusman, surgiram as Graphic MSP, dando oportunidade para que outros personagens viessem a brilhar, e foi o que ocorreu com Jeremias nessa.
A história trata de um assunto bem complicado e que todos preferem não falar, pois acreditam que não falar faz com que não exista, mas - infelizmente - existe e ocorre mais constantemente do que imaginamos, o racismo.
Eu mesmo não gosto do termo, acho a palavra estranha por si só, pois se pensarmos em raça, somos todos humanos. A raça humana tem proximidades com outros primatas, mas seja negro, branco, amarelo, marrom, rosa, somos todos parte da raça humana, dessa forma, a palavra racismo foge do que convém. Aí alguns falam de discriminação étnica e, mesmo que eu discorde em um caso de localização, concordo que é o que melhor se aplicaria no caso.
Nunca sofri discriminação por causa da minha cor, então falar que entendo o que as pessoas que sofrem passam, seria demagogia barata e irrelevante. Mas quando você lê "Jeremias: Pele" se sensibiliza com essa situação tão degradante do nosso país.
Sou professor de História e sempre tento falar para os meus alunos que não temos motivos para discriminar ninguém, pois somos um país cuja miscigenação é factual e parte de nós. É difícil caracterizar uma etnia para o brasileiro. Somos várias misturas, um mix de espécies humanas. Somos negros, brancos, amarelos. Temos olhos claros e escuros, azuis, verdes, castanhos e negros. Temos os cabelos loiros, ruivos, castanhos e protos, lisos, ondulados, encaracolados e crespos, numa mistura sem fim. Então, como nos definir? Como dizer que determinada pessoa é de uma etnia, sendo que no seu passado pode ter sido tataraneto de outra etnia, sem se saber? Somos um país colonizado, miscigenado e deveríamos ser um exemplo ao mundo por isso. Mas não é o caso.
Na história escrita por Calça, vemos Jeremias ser submetido ao Dia da Profissão, onde na escola, os alunos - ou a professora, no caso da história - escolhem com qual profissão melhor se identificam e Jeremias termina tendo como profissão algo que não desejava, pois outros acham que o seu desejo não seja viável e, com isso, ele começa a questionar tudo e a se revoltar com o que acontece a sua volta e, como eu já havia dito, as pessoas preferem não falar sobre a discriminação, pois assim - creem que - deixará de existir, o que de fato não ocorre. Jeremias aprende muito com isso, principalmente que a cor de sua pele não define nada na sua vida, somente que as pessoas não sabem reconhecer o verdadeiro valor da pessoa, não importando que cor de pele ela tenha.
Ninguém é melhor do que ninguém . Não é a cor de uma pele que definirá seu futuro, mas sim seu caráter... bem, tá virando o que eu temia, discurso demagógico e desnecessário. O que importa mesmo é que "Jeremias: Pele" é a mais nova Graphic MSP da Maurício de Sousa Produções e dá uma alfinetada em uma realidade que poucos querem enxergar. Somente a leitura dessa obra poderá fazer com que entendam o motivo dessa resenha. Sem contar que a arte do Jefferson Costa é encantadora do começo ao fim, com várias referências cênicas e realistas.
"Jeremias: Pele" entra no meu hall de revistas relevantes e importantes e permanecerá nele para todo sempre.

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