Direção: Todd Phillips
Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver
Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beets, Frances
Conroy, Brett Cullen, Shea Whigham, Bill Camp, Glenn Fleshler, Leigh Gill, Sharon
Washington, Douglas Hodge, Dante Pereira-Olson, Carrie Louise Putrello
Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço
contratado nas ruas e hospitais de Gotham City, mora com sua mãe, Penny Fleck
(Frances Conroy), em um prédio no bairro pobre de Gotham, tendo como vizinha a
bela Sophie Dumont (Zazie Beets) – por quem Arthur e tenta uma afinidade – e tenta
ser um comediante de stand by... ah, além de tem vários problemas
psicológicos que ele busca resolver indo a uma assistente social (Sharon
Washington). Ele e sua mãe são fãs do apresentador Murray Franklin (Robert De
Niro), que um dia Arthur sonha em conhecer, mas sua vida tem uma reviravolta
que o leva a assumir um lado de sua psicopatia através do rosto do Coringa.
Antes de continuar a escrever esse texto – coloquei após
esse resumo, pois sei que não conteria nada demais – preciso dizer que poderá
conter SPOILERS. Estava temeroso a escrever esse texto por causa desse
receio, então se desejar continuar, será por sua conta e risco.
“Coringa” é um filme incomum. Sinceramente, muitos o
comparam a “Taxi Driver” – filme onde De Niro protagoniza um motorista de táxi
desajustado –, “Um Dia de Cão” – citado pelo próprio Phoenix em uma entrevista à
revista People – ou “Um Dia de Fúria” – tenho pensado nesse desde que terminei
de assistir ao filme –, pois são retratos de como o ser humano, quando
perturbado, se torna uma ameaça para ele e toda a sociedade a sua volta.
Tá, você pode não ver assim “Coringa”, pois Fleck é uma
pessoa que possuía uma doença psicológica congênita, enquanto os personagens de
De Niro e Douglas – no caso de Pacino,
ele vê a necessidade de tomar uma ação desesperada, não tendo psicopatia envolvida
– são vítimas de uma psicopatia gerada por momentos de extremo stress que os levaram
a ações homicidas.
Travis Bickle – personagem de Robert De Niro em “Taxi Driver”
– se via como um herói. Veterano do Vietnã, que sofreu com stress da guerra, trabalha
em Nova York como taxista e busca salvar uma prostituta, além de fazer justiça
a sua amada – que nunca soube do amor dele por ela. Já William “D-Fens” Foster –
personagem de Michael Douglas em “Um Dia de Fúria” – é uma pessoa frustrada.
Divorciado, com uma ordem de restrição, desempregado, em um dia de total
stress, ele decide que a melhor forma de desestressar é extravasar, então ele
começa a desencadear um dia de caos a sua volta. No caso de Sonny Wortzik –
papel de Al Pacino em “Um Dia de Cão” – ele é um assaltante inexperiente que
termina não conseguindo realizar o que deseja, pois o assalto a banco que ele
se envolvera por amor, não termina bem e se torna um circo da mídia.
Três personagens que possivelmente não tem nada a ver com Arthur
Fleck de “Coringa”, mas cujos filmes tem uma ação crescente, como o filme em
cartaz.
Ok, eu estava falando de Arthur Fleck, personagem protagonizado
pelo ator Joaquin Phoenix. Bem, Fleck tem um problema sério de risos, que se
assemelha muito à Síndrome de Tourette[1],
mas ele também tem nuances da Síndrome de Clérambault[2],
doença que sua mãe tem. E isso nos faz duvidar do filme.
Ao conversar com um conhecido, percebi que ele teve uma
visão do filme bem diferente que a minha quanto ao final. Ele acredita que todo
o filme – ou a maior parte dele – tem ligação com a piada mencionada por Arthur
ao final do filme para a psicóloga do Arkham, quanto eu acredito que o delírio
de Arthur veio somente dele achar que tinha um romance com Sophie, personagem
da bela Zazie Beets, já que ele é um stalker[3],
também.
O caso de Fleck ser uma “vítima da sociedade” é uma outra
questão que muitos têm abordado. Ele é uma pessoa doente, que poucos
compreendem sua doença – as vezes, nem querem compreender –, que constantemente
é rechaçado e tratado como pária na sociedade em que vive. É um “invisível”,
uma pessoa que ninguém deseja notar e quando o notam, agem de forma a denegri-lo
diante de todos, como fosse objeto de piadas e chacotas. Eu estou falando de
várias questões nas quais entendo – quase – nada, mas eu penso que a sociedade
constrói os seus males. Ela gera pessoas como Fleck. Ele não tem recursos para
poder se tratar, dependendo de uma assistência social falha, que também não se
importa com suas condições problemáticas. Seria necessário, desde o princípio,
que ele fosse tratado de forma mais adequada, mas não ocorre, em nenhum
momento. Somente recebe receitas de remédios que não resolvem seus problemas
psicológicos. As vezes, dá para acreditar, que as risadas são efeitos
colaterais dos remédios que ele toma, pois quando ele decide que sua psicopatia
assumirá a situação, ele não ri – a não ser que seja uma risada forçada... e,
acreditem, dá para perceber.
Não entendam que estou justificando todas as ações de Arthur
Fleck, mas acredito mesmo que ele foi um mal gerado pelo desprezo da sociedade
gothamita.
“Coringa” não é um filme que comumente você assistiria por
ter ligação aos quadrinhos. Ele poderia se chamar de várias outras formas e, se
não fossem a cidade fictícia de Gotham (um dos vários nomes que Nova York
possui) e personagens como os Wayne, é um filme a ser adorado e cultuado pelos
grandes amantes do cinema.
Se você for ao cinema esperando um filme com ação quadrinhística,
NÃO VÁ! Mas se deseja ver um filme diferente de tudo que já testemunhou, com
uma história que reflete uma realidade pungente – sim, é uma realidade ainda
existente –, então “Coringa” é o filme que você vai gostar de ver.
Independente de indicações ao Golden Globe ou Oscar, “Coringa”
já pode ser considerado um filme que marcou seu lugar como os outros já
citados. A violência é crua. A psicopatia de Arthur é doentia. clown é o verdadeiro psique dele. A
transformação é notável e perceptível, mas o “nascimento” do Coringa vai,
também, da interpretação de cada um.
Os movimentos
que Joaquin Phoenix dá ao personagem parecem fluir naturalmente dele, indo além
da construção do personagem. E, percebemos que a face Arthur Fleck é a
verdadeira máscara e a maquiagem
“Coringa” é um filme único, que deve ser assistido sem
preconceitos e sem avaliações conservadoras. Vá de mente aberta e analisando os
porquês dele se tornar o que se torna.
[1] “[...]
distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais, que
persistem por mais de um ano e geralmente se instalam na infância.
Na maioria das vezes, os tiques são de tipos diferentes e variam
no decorrer de uma semana ou de um mês para outro. Em geral, eles ocorrem em
ondas, com frequência e intensidade variáveis, pioram com o estresse, são
independentes dos problemas emocionais e podem estar associados a sintomas obsessivo-compulsivos
(TOC), ao distúrbio de
atenção com hiperatividade (TDAH) e a transtornos de aprendizagem”. (BRUNA, Maria Helena Varella. Síndrome
de Tourette. Drauzio. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/sindrome-de-tourette/>
Acesso em: 09 out. 2019)
[2] “[...] ou
erotomania, é descrita como uma convicção delirante, apresentada, geralmente,
por uma mulher que acredita que um homem, mais velho e de posição social mais
elevada, ama-a. O paciente persegue o objeto de amor e, por isso,
eventualmente, envolve-se em retaliações e ameaças em resposta às repetidas
rejeições”. (ANDRADE, Arthur Guerra de; BALTIERI, Danilo Antônio; SAMPAIO,
Thais de Moraes. Síndrome de Clérambault: desafio diagnóstico e terapêutico. SciELO.br.
Rio Grande do Sul. 18 jul. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v29n2/v29n2a13>.
Acesso em: 09 out.2019)
[3] “[...]
se refereao perseguidor (...). Um fenômeno conhecido como síndrome do
molestador [...]” (RIBEIRO, Carla. Perseguição stalking. Psicóloga – Carla Ribeiro
CRPSP 86203. Disponível em: <https://www.psicologacarla.com/2016/10/perseguicao-stalking.html>.
Acesso em: 09 out.2019)
"Avaliações conservadoras"? Foi a própria extrema-esquerda que começou a perseguir o filme, fazendo boicote a ele, dizendo que é um filme "perigoso", parte dessa perseguição virá da própria academia, com pessoas que pensam assim, que vão boicotar pra que Joaquin não ganhe o Oscar de melhor ator.
ResponderExcluirEu não politizo minhas postagens no blog, por isso fui mais... ameno na minha resenha.
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