A primeira grande vilã do Batman – e grande affair – assopra velinhas.
Em junho de 1940, o Batman ganhava sua primeira revista
mensal. Depois de mais de um ano tendo histórias publicadas na revista
Detective Comics, da National Allied Publications, ele teve sua origem contada
na sua revista-solo, além de encarar pela primeira dois de seus vilões mais
renomados. O primeiro foi o Coringa e, na última história da revista ele
encarava a “Gata”, que viria a se tornar a famosa felina dos quadrinhos, a
Mulher-Gato.
O COMEÇO
“The Cat” era o título dessa última história da primeira
mensal solo do Batman. A forma ambígua de se escrever a palavra poderia remeter
ao masculino e feminino, o que criou um mistério ainda maior na história. No
enredo, uma milionária idosa chamada Martha Travers dá uma festa em seu iate
luxuoso e convida alguns parentes, que levam convidados. Sabendo que a idosa
corria perigo, Batman manda Dick se disfarçar de copeiro e embarcar no iate.
Este desconfiava de várias pessoas, em sua maioria masculinos, mas não
desconfiava da Srta. Peggs, a Gata disfarçada de idosa. Durante toda a ação da
história que tem até gangsteres invadindo o iate, Batman chegando de Batplano,
a Gata termina desmascarada pelo Homem-Morcego, mas consegue fugir.
Então ela
fez uma nova aparição na edição seguinte da revista. Nessa história , Cat-Woman
– como ela é apresentada – ajuda Batman a combater o Coringa e salva o Robin do
assassino de sorriso largo. Mas após vencerem o Palhaço e deixá-lo para trás,
queimando nos destroços de sua armadilha para o trio, a Mulher-Gato escapa
pulando do Batplano no mar, onde desaparece.
MULHER-GATO DE DOIS
MUNDOS
Em outubro de 1956, na Showcase #4, iniciou-se a Era da
Prata dos quadrinhos com um novo Flash, com isso a Mulher-Gato foi incluída no
universo da Terra-2 como esposa de Bruce Wayne e mãe de Helena Wayne, a
Caçadora. Redimida, ela busca viver com sua família, até que um de seus
capangas conhecido como “Silky”
Cernak a chantageou com uma foto dela assassinando um policial, dizendo que se
ela não o ajudasse em um assalto ao Gotham City Civic Center. Durante o
assalto, em uma luta contra o Comissário Gordon, Cernak dispara e acerta
Selina, mortalmente. Essa cai do quarto andar para a morte e termina falecendo
nos braços de seu marido trajando a roupa do Batman. Depois disso, sabendo que
sua mãe continua sendo acusada do assassinato do policial e na intenção de
inocentá-la, Helena Wayne se torna a Caçadora e consegue prender Cernak que confessa
ter falsificado a foto para incriminar Selina e leva-la a ajuda-lo, o que
termina inocentando Selina.
Na chamada Terra-1, essa Mulher-Gato ganha uma contraparte,
mas a diferença entre ambas era que, enquanto a Mulher-Gato da Terra-2 era
casada e tinha uma filha, a da Terra-1 continuava inimiga do Batman, mas
totalmente apaixonada por ele.
UM NOVO COMEÇO
Em 1985, o roteirista Marv Wolfman e o desenhista George
Pérez criaram a Crise na Infinitas Terras, que terminou unificando o Multiverso
DC em um só Universo, fazendo com que toda a existência da Terra-2 deixasse de
existir.
Em fevereiro de 1987, o roteirista Frank Miller e o artista
David Mazzucchelli revitalizaram o Batman a partir da Batman #404 no intitulado
“Ano Um”. Eles apresentam uma nova Mulher-Gato. Agora ela é uma prostituta que,
depois de saber do vigilante mascarado que pula pelos telhados e engana a
polícia com morcegos, decide criar sua própria fantasia e agir como a
Mulher-Gato.
A roteirista Mindy Newell, em 1989, se incumbiu de tornar
essa Mulher-Gato mais interessante. Ela se aprofunda na história da prostituta
que é resgatada por uma freira, que não é ninguém menos que sua irmã-caçula,
Maggie Kyle. Selina havia sido espancada por seu gigolô e termina salva por um
detetive da polícia de Gotham que lhe envia ao velho pugilista Ted Grant, o
Pantera, para aprender a lutar. Na minissérie em quatro partes, vemos Selina
criando seu uniforme, agindo contra o mafioso Carmine “Romano” Falcone,
deixando-o marcado para sempre, sendo confundida como parceira do Batman,
salvando a pequena Molly Robinson do gigolô, enfrentando-o, quando ele
sequestra Maggie e lutando contra o homem-morcego. O affair de ambos começa, também, nessa minissérie que conta com
desenhos de Joe Brozowski.
Após o evento Zero Hora, um pouco dessa realidade da
Mulher-Gato modificou. Ao invés de ser uma prostituta, Selina é somente uma
ladra, agora. Sua variação entre ladra e heroína é uma constante na realidade
pós-Crise, e é algo mantido depois da saga Ponto de Ignição que reiniciou, mais
uma vez, o Universo DC.
Em Novos 52, Selina é separada de seu irmão, Aiden Mason, é
termina parando na Oliver Group Home, onde aprende com a dona, a srta. Oliver,
como furtar. Quando cresce, vai trabalhar no gabinete do prefeito e busca saber
mais do seu passado, mas quase termina assassinada, após descobrir que não é
exatamente quem imaginava ser. Daí então assume a identidade de Mulher-Gato.
As variações nas histórias da Mulher-Gato voltaram a ser
parte do Multiverso DC, onde ela existe em vários universos paralelos.
EM CARNE, OSSOS E
GARRAS
A Mulher-Gato, assim como seu inimigo/amante, teve várias
versões de carne e osso. Sua primeira aparição nesse formato foi no seriado de
1966, Batman, sendo vivida inicialmente pela atriz Julie Newmar, que apareceu
em 13 episódios. A partir do episódio “The Bloody Tower”, de 1967, a atriz
Eartha Kitt interpretou a personagem. O clima de amor e ódio que existia entre
os personagens anteriormente foi cortado, pois a atriz era negra e, devido às
restrições raciais da época,
eles não podiam manter relações afetivas,
permanecendo somente a rivalidade.
Em um filme, baseado na série, a atriz Lee Meriwether vive
uma nova versão da personagem. Julie Newmar não pode fazer o filme devido a
outros compromissos assumidos, sendo assim, os
produtores deram um novo nome a
ela, Miss Kitka.
Em 1992, Tim Burton voltou para dirigir o segundo filme do
Batman. O primeiro ele havia realizado em 1989, quando o personagem completou
50 anos. Nesse novo filme, o roteirista Daniel Waters colocou dois inimigos
contra o Batman, o Pinguim, vivido pelo ator Danny De Vito, e a Mulher-Gato,
vivida pela atriz Michelle Pfeiffer.
Como em seu antecessor, houve uma preocupação maior em se
retratar os vilões do que o personagem que dava título ao filme. Nesse caso,
Selina era a secretária do empresário inescrupuloso Max Shreck (Christopher
Walken). Depois de descobrir os planos deste de dominar a venda de energia de
Gotham, ela é jogada da cobertura do prédio. Ela sobrevive de uma forma
sobrenatural e sofre um distúrbio psicótico. Ao voltar para casa, cria uma
fantasia de couro e espartilho e empunha um chicote, se tornando a Mulher-Gato.
Além da grande diferença na origem e aparentar ter o poder
de viver nove vidas, Pfeiffer não se preocupou em tingir as madeixas louras
para pretas, cor normalmente usada na personagem. Mas sua interpretação da
personagem garantiu uma enorme quantidade de fãs de sua interpretação. Tanto
que muitos esperavam que ela fosse anunciada no filme-solo da personagem, coisa
que não ocorreu.
O filme-solo da personagem demorou doze anos para se tornar
real, passando pelo envolvimento de Tim Burton como diretor e Daniel Waters
como roteirista do projeto, de Michelle Pfeiffer a atriz Ashley Judd para viver
a protagonista, mas o filme terminou com John D. Brancato, Michael Ferris e
John Rogers escrevendo o roteiro baseado na história dos dois primeiros com
Theresa Rebeck. A direção foi para o inexperiente Jean-Christophe Comar, mais
conhecido somente como Pitof, e a protagonista era a ganhadora do Oscar (2002)
e Globo de Ouro (2000), Halle Berry.
No filme, Berry é Patiente Phillips, uma jovem que trabalha
em uma fábrica de cosméticos. Após ser jogada por sua patroa, a inescrupulosa
Laurel Hedare (Sharon Stone), em um rio que passa próximo a fábrica, por ter
descoberto que os produtos químicos dos cosméticos fazem mal a pele, Philips
sobrevive e se une ao poder da deusa Bastet, ganhando habilidades
extra-humanas, como força e agilidade. Ela então decide se tornar a Mulher-Gato
e assalta um museu. Percebendo que uma amiga está infectada com os produtos
químicos da Fábrica de cosméticos, ela retorna para deter sua chefe, só que
dessa vez conta com a ajuda do detetive Tom Lone (Benjamin Bratt), um traje
sado-masoquista e um chicote. O filme se torna uma verdadeira bomba, pois além
da atriz estar caricata em seu papel, a história da Mulher-Gato se tornando uma
meta-humana, quebra toda a mitologia da Mulher-Gato e não se relaciona a nada
do seu cânone, mesmo que busque certa semelhança como a forma que Pfeiffer se
tornara a Mulher-Gato no filme de 1992.
A Mulher-Gato somente voltaria às telas em 2012 no filme
“Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. A atriz para viver o papel de Selina
Kyle é Anne Hathaway. No filme não se buca contar a origem dela, além de não
ser conhecida como Mulher-Gato, mas simplesmente como “A Gata”, em referência a
sua origem em Batman #1 de 1940. Vemos algumas outras referências a história da
personagem, como sua parceira de crimes Molly Robinson (Juno Temple) e suas habilidades
acrobáticas. Além de demonstrar sua aptidão para as acrobacias como Selina,
Hathaway constrói uma personagem de caráter forte, que busca se livrar de todas
as provas como ladra, sendo capaz de qualquer coisa por isso, sendo a mais
próxima do que vemos nos quadrinhos.
O canal de televisão Fox lançou em julho de 2014 o seriado
“Gotham”, que conta a história do detetive James Gordon (Ben McKenzie),
inicialmente, investigando o assassinato dos pais de Bruce Wayne (David
Mazouz), tendo como principal testemunha a jovem Selina Kyle, uma pequena ladra
conhecida como “Gata”.
A atriz Camren Bicondova, quem me lembra muito Michelle
Pfeiffer em fisionomia, vive a personagem. Mesmo com dezesseis anos, Camren
demonstra muito facilidade em interpretar a personagem, e seu conhecimento em
ginástica lhe dá a agilidade para fazer a personagem no seriado, sendo que, é a
primeira vez que vemos Selina ser interpretada tão jovem.
NAS ANIMAÇÕES
A Mulher-Gato pulou dos quadrinhos para as animações em
dezembro de 1968, quando participou dos episódios “Para Mulher-Gato com Amor/Brinquedos Perigosos” de As Aventuras de
Batman. Foram no total de dezoito aparições, sendo dublada por Jane Webb.
Em 1977, ela apareceu em
cinco episódios da animação seriada “As Novas Aventuras de Batman”, sendo
dublada por Melendy Britt (She-Ra: A Princesa do Poder).
A personagem voltaria as
animações na série “Batman: A Série Animada”, de 1992. Baseada, inicialmente,
em características de Michelle Pfeiffer, ela era loura. Sua dubladora era Adrienne
Barbeau (Fuga de Nova Iorque). Barbeau permaneceu na dublagem da personagem
durante um longo período. Ela ainda a dublou em dois episódios da continuação
de “Batman: A Série Animada”, com um novo formato, e na animação “Gotham Girls”.
Em “The Batman”, de 2004, a
Mulher-Gato ganhou uma aparência bem diferenciada, assim como todos os
personagens dos quadrinhos. Nesse desenho ela chegou a fazer cinco aparições,
entre 2004 e 2007, sempre dublada pela atriz Gina Gershon (A Outra Face). No
episódio “Blackout” da animação “Batman: Black and White”, de 2009, a
Mulher-Gato é dublada por Janyse Jaud (Conan: O Aventureiro). No desenho
animado “Batman: Os Bravos e Destemidos”, de 2009, a felina apareceu em cinco
episódios sendo dublada por Nika Futterman (Star Wars: The Clone Wars). Em
2011, “Batman: Ano Um”, escrita por Frank Miller e desenhada por David
Mazzucchelli, ganhou uma animação e a atriz Eliza Dushku (Dollhouse) a dublou
em duas oportunidades, no desenho e no episódio curto “DC Showcase:
Mulher-Gato”.
E FINALMENTE...
A Mulher-Gato completa 75
anos e apesar de não receber a respectiva homenagem da DC Comics, empresa na
qual, nos dias de hoje, possui um revista-solo, além de sempre ser lembrada
como uma das principais protagonistas em várias outras revistas, como Liga da
Justiça da América e Esquadrão Suicida e Ligada Justiça Canadá. Eu decidi
prestar minha homenagem a ela, pois como podemos ver a felina sempre fez parte
da longa história do Homem-Morcego, desde os quadrinhos, passando por seriados,
animações e filmes.
A homenagem é merecida e
necessária, pois além de ser uma das maiores vilãs ainda existente, ela
conseguiu ser mais do que isso. A Mulher-Gato serviu de inspiração para várias
outras ladras dos quadrinhos, além de ser lembrada em vários fanfilms,
vídeo-games, documentários e vídeos ligados ao universo do Batman. A
Mulher-Gato é uma personagem que merece sempre ser lembrada, pois ela se tornou
a segunda maior força feminina dos quadrinhos em seus 75 anos de existência.
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